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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Desconstruindo Ideias

Voluntários podem participar do projeto de nus da fotógrafa Fernanda Líder

Não se trata de um ensaio de nudez e sim de um trabalho crítico à ditadura da beleza

Entrevistas  –  14/11/2015 10:07

Publicada em: 31/08/2015 (11:51:17)
Atualizada em:14/11/2015 (10:07:44)

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(Fotos: Divulgação)

Nu Encontro: Homens, mulheres, trans e livres de gênero integram o projeto da Fernanda 

Homens, mulheres, trans e livres de gênero. Nu Encontro é o mais recente projeto da fotógrafa Fernanda Líder. Algumas fotos já podem ser conferidas na internet. O trabalho não tem pressa para terminar, segundo a profissional, e quem se interessar pode ser fotografado. Basta entrar em contato e ser voluntário. 

- A ditadura da beleza marca todos nós, fere e limita todos nós. O Nu Encontro nasceu este ano. Foi um desdobramento do meu projeto anterior, o (des)peito, em que fotografei apenas seios, e foi uma parceria com a psicóloga Anny Gurgel, no intuito de elevar a autoestima das mulheres. O Nu Encontro surgiu bem depois, nele eu quis abranger a todos - conta. 

O objetivo do projeto, de acordo com Fernanda, é que as pessoas aprendam a se acolher e a acolher ao próximo, numa luta constante contra padrões e a ditadura da beleza. 

- A ditadura da beleza lucra absurdamente com a nossa infelicidade. Criam e ditam o que deve ser considerado bonito e feio, o que é o sensual e o que é o não desejado, fazendo com que sempre busquemos formas de nos encaixar e que critiquemos a todos que fogem desses padrões. Quando nos amamos e nos aceitamos, aprendemos a expandir isso para o outro. E quem não quer um mundo em que se sinta bem, à vontade? Você, o seu corpo, é lindo da forma que é. Somos formas, cores, texturas, tamanhos diferentes, e isso é lindo. Isso é humano. É ser! - enfatiza. 

Até agora as fotos estão apenas na internet, no Facebook e Tumblr (esse último sem as tarjas). Fernanda diz que pretende expor de forma física as imagens, mas o projeto ainda está em andamento. 

Confira a entrevista com Fernanda Líder 

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"Objetivo é que as pessoas aprendam a se acolher e a acolher
ao próximo, numa luta constante contra os padrões de beleza"
 

Existe um cronograma para o desenvolvimento do projeto (início, meio e fim)? 

O projeto está caminhando sem pressa alguma para terminar, pois quero ver a minha evolução e a das pessoas que fotografei. Quando falo em evolução, me refiro ao aceitamento maior delas em relação à aparência. Não segue nenhum cronograma para ser fotografado, vou fotografando enquanto há pessoas interessadas. Já em relação as postagens das fotos sigo a ordem em que fotografei, mas isso também não é regra, já que todas os fotografados devem me enviar um texto falando sobre algo que vivenciaram, pensam, superaram, que tenha a ver com o projeto, e talvez se algum deles tardem muito a me enviar eu seguirei para o próximo, pois posto uma foto por dia na página do Facebook. E sobre o fim do projeto, vou terminar quando eu conseguir me fotografar. Pois como é um projeto de superação eu não posso ser apenas expectadora e devo participar e me acolher também. Quando eu conseguir isso o projeto termina. 

Como são feitas essas fotos? Os voluntários escolhem o cenário (estúdio ou locação) junto com você? Discutem o conceito das fotos? As fotos de cada voluntário "conversam" umas com as outras? Ou nada tem a ver umas com as outras?

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As fotos são feitas no limite do modelo e no limite das locações que existem. Eu prefiro que os voluntários escolham o cenário, um local que se sintam seguros e confortáveis, caso não tenham nenhum em mente eu indico algum. Pode ser na casa deles, de amigos ou ambiente aberto, como preferirem. Quando fotografo mulheres em ambientes abertos só tenho que me atentar para a nossa segurança. Todas as fotos têm o mesmo conceito, que é libertar-se dos padrões de beleza, mas geralmente colocamos algum elemento na foto que é escolhido pelo voluntário ou por nós dois juntos, algo que se relacione com o modelo. Como as imagens já possuem um conceito definido elas já conversam, mas cada pessoa é diferente e por isso cada imagem é diferente uma da outra esteticamente. 

Você diz que os voluntários precisam abraçar o projeto por inteiro. No limite da pessoa, claro. O que exatamente isso significa? Vi fotos de nu frontal e outras não. Cada voluntário diz de que forma vai colaborar? 

Abraçar o projeto por inteiro significa concordar com a ideia do Nu Encontro e tentar acabar com seus preconceitos e medos gerados pela ditadura do que é belo. Não fotografo alguém que julga o outro por não fazer parte desses padrões, pois este não é um ensaio de nu, mas é um projeto crítico. Mas fotografo sim quem assume que ainda possui seus preconceitos e medos, mas está no caminho da mudança, pois quem de nós ainda é livre disso, não é? Não é fácil mesmo. Mas a luta do projeto é amar-se como é e assim você ama o outro como ele é também. Antes de produzirmos as fotos converso com cada voluntário sobre seus limites, ou seja, sobre o que não quer que apareça nas fotos. Não quer mostrar o rosto, uma marca, tatuagem, genitálias ou qualquer outra parte específica do corpo, eu vou respeitar esse limite, afinal, a pessoa tem que se sentir bem ao fazer as fotos.

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Ainda segundo você, o voluntário precise se desnudar três vezes: primeiro das roupas; segundo dos medos causados pela ditadura da beleza; e terceiro com as palavras, já que toda primeira foto segue com um texto escrito pelo modelo. Dos voluntários já fotografados até agora, qual foi a fase mais difícil para eles? E como você ajuda nesse processo? 

Tenho certeza de que ao fotografá-los eles se sentem acolhidos, pois não olho nenhum deles com um olhar crítico, e sabem e sentem isso. O que sinto por eles é pura admiração. Mas entendo, obviamente, que tirar as roupas para alguém que você mal conhece, e sem ser para um motivo sexual, é mais complicado. Os medos é algo que estamos desconstruindo juntos, mas não é fácil também. Mas o que vejo que é mais difícil é o desnudar-se com as palavras, pois eles estão se abrindo não só para mim, mas para todos que lerem, estão compartilhando um pensamento um fato pessoal e isso é pesado, pois, além de estarem nus, as pessoas vão conhecer um pouco daquele voluntário através do que ele escolheu compartilhar. 

As fotos que vi são de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à arte. Ou seja, pessoas que geralmente dialogam bem com a nudez. Acredita que artistas serão os maiores voluntários nesse projeto? 

Não digo que são todos ligados à arte, mas são todos mente mais aberta e livres na vida. Claro que quem se relaciona com arte tem uma facilidade um pouco maior em ajudar os projetos alheios e a serem menos tímidos, mas isso também não é nenhuma regra. 

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O que você pensa em fazer, ou já está fazendo, para que voluntários que não sejam ligados à arte também participem? 

O projeto até o momento foi divulgado somente na internet, no Facebook especificamente, e não coloco restrição alguma em relação ao tipo de pessoas que quero que participem. Afinal, os padrões de beleza atingem a todos nós, magros, gordos, negros, brancos, cabelos lisos ou crespos, altos ou baixos, peludos ou depilados, simétricos ou assimétricos. Não importa para o projeto o tipo de trabalho, estudo, relações na vida que a pessoa tem, o que importa é ele/ela querer mostrar que é feliz da forma que é. 

Qual a média (número) de voluntários você pensa atingir? Quantas fotos serão feitas e divulgadas de cada um deles? 

O projeto termina quando eu também conseguir me retratar, até lá vou fotografando quantos quiserem participar do projeto, mas sempre concordando com o conceito do Nu Encontro. Também não há limite de fotos a serem divulgadas, cada pessoa é única, não vou limitar nada relacionado ao projeto. 

Projetos. O que vem por aí? 

Atualmente gosto muito de trabalhar com a desconstrução de ideias que nos fazem mal, e no momento meus projetos estão sendo bem trabalhados com o corpo. 

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Serviço 

> Contatos com Fernanda Líder - E-mail: (foto.lider@yahoo.com.br), Tumblr e Facebook.

Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

1 Comentário

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  • Fernanda Líder

    Gratidão me define neste momento.