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(Fotos: Divulgação - Dal Fotografia/Arte Digital)
“O disco ‘DiaNoite’ é conceitual. Mas ele é aberto também, sabe? Não tem uma forma exata, uma regra. Não é duro, é swingado! Vem carregado de mensagens, ideias e pensamentos”
Pássaros. Instrumentos naturais, como o bambu cantator. O próprio corpo tornando-se instrumento. Assim nasceu “Serra”, uma música instrumental/experimental e o primeiro single do disco "DiaNoite" que Leandro Vilela vai lançar ainda este ano.
- Estou explorando vários processos novos pra mim, como por exemplo: A gravação dos pássaros que foi feita com o celular e que poucos reparam, mas eles estão presentes durante toda a música, não somente na introdução e no final, onde eles se destacam. O bambu usei no final da faixa - conta.
Vilela usou também palmas, batidas no peito, pisadas no chão, e algumas falas e gritos malucos que foram gravados por ele. Além do elemento DUB, “que é um amigo dos cientistas sonoros”.
Ouça “Serra”, primeiro single do disco “DiaNoite”
Confira a entrevista com Leandro Vilela
Como foi o processo de criação de "Serra"? Quanto tempo levou da ideia inicial até a finalização?
O processo de composição foi maravilhoso. Primeiro fui presenteado pela deusa música que simplesmente me entregou o tema de lambuja. Quando eu acordei numa certa manhã em casa, já peguei no violão e a música foi saindo como se eu já a tivesse tocado antes. Produzir a faixa com os meus irmãos da Amplexos foi lindo! A gente se conhece muito e bastou só colocar as minhas intenções ali que eles já vieram me acompanhando lindamente com o talento extraordinário que têm. Já o processo de gravação foi longo. Demorou mais ou menos um ano e meio até ficar tudo pronto.
Em suas palavras: “Este despertar chamado ‘Serra’ conta através deste experimento o começo do dia e/ou o espertar da vida em seu primeiro setênio”. A sua filosofia de vida é o ponto chave na sua arte? Como isso te inspira?
Acredito que todo artista se inspira a partir de inúmeras filosofias de vida, histórias e crenças pessoais, e se expressa imprimindo o momento em sua arte. No caso específico desta faixa, "Serra", que carrega em si este sentimento de clima gostoso da manhã, quando você se sente leve, quando se tem um tempo de praticar seu ioga ou fazer sua oração, tomar seu café da manhã, ler um pequeno trecho de um livro antes de sair pra trabalhar e, de repente, se deparar com o trânsito já caótico às 7h da manhã, as pessoas se xingando e buzinando por causa de um segundo e meio perdido num sinal verde, tá ligado? A faixa carrega essa contradição.
Além disso, gosto de ver o disco que lançarei ainda este ano, no qual "Serra" e só a primeira faixa, como a passagem do dia para a noite ou do primeiro setênio de vida até os últimos momentos da experiência na Terra. A história dos setênios, que é uma linha de pensamento criada pelo filófoso Rudolf Steiner, me inspira. Nem conheço o suficiente da Antroposofia para ficar aqui falando um monte, mas, me inspira essa coisa de ver a vida como uma experiência do Universo dentro de si. A saúde, a educação, a agronomia, a filosofia, a arte, tudo junto, sabe? Conhecer a sí próprio para conhecer o que está fora. A forma cíclica de ver a vida chamada "teoria dos setênios" me inspirou para este disco.
O primeiro setênio é o momento de interação entre o individual e o hereditário. O encontro entre a parte espiritual da individualidade e a parte biológica. Além disso, vejo como uma fase onde se é o centro de tudo, porque a todo e qualquer instante todos estão com a atenção voltadas para você e quando tudo é novo, tudo é uma nova experiência, uma adaptação constante da vida. Os bebês me passam uma paz e uma força impressionantes, mas também me ensinam como é a luta diária, essa história de chegar aqui na Terra. É uma batalha ferrenha desde os primeiros instantes na barriga da mãe; o parto, que é um momento quase que inacreditável da vida; até os primeiros meses com aquelas cólicas superdoloridas, ou as noites mal dormidas do bebê, enfim... O cosmo e o caos presentes desde sempre em nossa vida.
“Serra” é o primeiro single do disco "DiaNoite", que deve ser lançado este ano. Será um disco conceitual? O que você pode adiantar sobre esse trabalho?
É isso. É um disco conceitual. Mas ele é aberto também, sabe? Não tem uma forma exata, uma regra. Não é duro, é swingado!
"DiaNoite" vem carregado de mensagens, ideias e pensamentos. Acho que vai conversar com muita gente, conversou muito comigo já. Podem aguardar um disco bem dançante e bem intenso. Todo os sacrifícios, dores e maiores benefícios que trago por ser músico, estarão ali, presentes neste disco.
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“Não é fácil, nada fácil, viver exclusivamente da música! Temos que estar muito entregues, muito dedicados aos estudos e antenados em todo o movimento artístico da sua região”.
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Nos agradecimentos especiais, você cita a sua mãe (Anna Eunice, a Nicinha). Ela teve papel fundamental na sua escolha pela arte musical? Como foi essa relação mãe/filho/música?
Meu Deus, que pergunta boa de responder! Minha mãe, a Nice, ou pra galera das antiga (a Nicinha), foi e é uma das pessoas mais incríveis que eu conheci. Totalmente aberta, sincera, amorosa, sensível à dor e ao amor dos outros, desinibida, enfim, amiga! Conviver com ela era aula. Me dava todo suporte para ser músico, me orientou, me deu os papos retos, sem nunca ter deixado de acreditar que era possível eu viver de música, se eu fosse um cara dedicado, atento aos mais velhos, sincero com os meus sentimentos, amigos e colegas de trabalho.
Dia 4, quando lancei a música, foi aniversário dela. Ela não chegou a ouvir nenhuma música deste disco, ela faleceu no ano de 2012 e as canções desde álbum "DiaNoite" começaram a surgir em 2014. Mas eu tenho certeza absoluta de que ela está presente neste trabalho. O mundo sutil da música, esta dimensão que a música alcança, a alcança, entende? Assim como minhas orações e conversas que ainda tenho com ela. Enfim, lançar a música no dia do aniversário dela foi uma homenagem e uma maneira de agradecer a tudo que ela fez por mim em vida.
Você é guitarrista na Amplexos, certo? É possível traçar um paralelo entre o seu trabalho atual e na banda. Ou são coisas completamente diferentes?
Eu tenho a sorte de ser guitarrista da Amplexos. É a família que Deus me deu. É a maior faculdade que já tive e uma oportunidade única na vida. Os caras são como meus pais, meus filhos, minha família mesmo.
Trabalhar com a Amplexos e trabalhar neste disco foi muito diferente sim, apesar de todos terem participado do "DiaNoite". Vejo assim: Ser guitarrista da Amplexos é compor um time, é estar servindo a música. É estar atento às belíssimas obras do Guga e representar sonoramente aquilo que ele escreve, sabe?
Ser compositor/arranjador e ainda cumprir o papel da direção deste disco instrumental é outra coisa! As coisas estão muito mais na dependência de meu suor, de minhas noites mal dormidas, porque ainda falta muito trabalho a ser feito. É escrever os arranjos e não necessariamente dividir a responsabilidade. É gostoso, meio solitário sim, mas não egoísta, pelo contrário. O que mais temos ali é confiança. Porque tanto os meus companheiros se mostram muito abertos às minhas ideias, quanto eu me mostro completamente entregue a eles quando os liberto nos dias de gravação, por exemplo. Digo soltem tudo e eles soltam mesmo! Coloquem suas ideias, componham junto comigo e, se tiverem que me contrariar, façam!
Neste trabalho, também agreguei outros músicos (Carlos Henrique Guimarães, Tiago Espíndola e Tiago Valentim), que formam os sopros da música. Aprendi demais com eles, ousando regê-los como um mestre mesmo, podes crê? (risos) Foi muito responsa! Confio demais no trabalho deles. Como já disse, são músicos e pessoas extraordinárias.
Conversando com artistas da área musical, alguns disseram que o cenário está bem difícil aqui na região, no sentido de viver exclusivamente da música. Que análise você faz disso?
Sobre viver exclusivamente da música, acho complicado resumir esta resposta. É um assunto complexo demais. Mas com a experiência que tenho, posso dizer o seguinte: Não é fácil, nada fácil! Temos que estar muito entregues, muito dedicados aos estudos e antenados em todo o movimento artístico da sua região. Como em todas as áreas, é importante se formar, né? Seja nas faculdades clássicas de música, produção fonográfica, produção cultural, quanto nas faculdades da vida, essas conhecidas por todo o meio musical, que são os bailes, as apresentações em bares, casas de show e restaurantes. Procurar ter experiências e aprender com os mais velhos é algo extremamente necessário para que você consiga levar sua carreira pra frente. Não é tão diferente assim de qualquer outra profissão, mas, infelizmente, nosso país não valoriza a cultura de uma maneira geral, portanto, temos que ser mais perseverantes e pacientes do que se imagina.
Sobre o cenário não ser o dos melhores? Sim, é claro que não é. Mas é aí que se conhece a força que existe dentro de nós. Com essa persistência que falei, se alcança a vitória. Mesmo que o resultado de um trabalho não seja o esperado. Quando você se entrega totalmente pro trabalho, se ganha. Sempre se vê a vitória quando se luta com todas as suas forças. Pelo menos é nisso que acredito e foi assim que vivi todas as minhas experiências. Beleza, não são tantas assim, pois ainda me considero um aprendiz, mas já se passaram 20 anos que toco meu instrumento e ainda luto pelo sonho de viver de música. Da pra trocar uma ideia sobre isso aí. (risos)
Lançando o disco, quais os próximos passos? Shows aqui na região? Rodar por outros locais?
Primeiro é trabalhar "Serra", fazer alguns shows se possível, tentar produzir um evento ou outro para apresentar as minhas músicas instrumentais ao público, formar este público e depois começar a pensar em rodar. Claro que quero ir longe com a minha música, e tocar para o maior número de pessoas possíveis é o objetivo de todo músico, mas, neste momento não me preocupo em ficar pensando muito lá na frente. É trabalhar, trabalhar e trabalhar firme. "É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte".
Quem é quem na música “Serra”
. Produzida por Leandro Vilela, Martché e Tolen
. Arranjada por Leandro Vilela
. Gravada no Estúdio Casa, Volta Redonda, por Tolen e Rich Chong
. Mixada por Martché, em Penedo/RJ
. Masterizada por Tomas PatagoniaDub Santiago/Chile
. Músicos:
Baterista - Mestre André
Baixista - Flávio Polito
Percussionista - Tolen
Pianista (Rhodes) - Martché
Saxofonista (Alto) - Carlos Henrique Guimarães
Saxofonista (Tenor) - Tiago Espíndola
Trombonista - Tiago Valentim
Guitarrista/Violonista/Experimentos - Leandro Vilela
. Identidade Visual de João de Carvalho
. Fotografia de Gabriel Esposti
. Contato: leandrovilelaamplexos@gmail.com