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“Ler e escrever é conhecer a si mesmo e ao outro, é ter a possibilidade de viver melhor a sua vida e viver a vida dos outros”
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Temos a honra e satisfação de publicar a entrevista com o notável escritor gaúcho José Eduardo Degrazia, nascido em Porto Alegre (1951). Publicou dezenas de artigos e crônicas em jornais e revistas do Brasil e exterior. Tem publicados os livros de poemas “Lavra permanente”, “Cidade submersa”, “A porta do sol”, “Piano arcano” e “A urna Guaran”. Seus livros de contos são: “O atleta recordista”, “A orelha do bugre”, “A terra sem males” e “Os leões selvagens de Tanganica”. E também a novela “O reino de macambira”. Traduziu livros de Pablo Neruda, poetas latino-americanos e italianos. Foi premiado em poesia, conto, teatro e tradução. Prêmios mais relevantes: Prêmio da Colonização e Imigração - com o livro “Lavra permanente” - 1975, Prêmio de Teatro do SBT com a peça “A casa dos impossíveis” - 1975, Prêmio Livro do Ano da AGES/Novela - 2006, Prêmio de Prosa da Academia Mahi Eminescu - Romênia - 2012 e Prêmio Internacional de Poesia de Trieste - 2013. Clique aqui para saber mais sobre o autor.
Confira a entrevista com José Eduardo Degrazia
Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?
Acredito que por muito tempo as mídias digitais estarão juntas com os meios de comunicação tradicionais, como o jornal e o livro. A televisão não terminou com o rádio. O que fica, mesmo que o meio mude, é o texto e o contexto. E a experiência humana. A poesia e a prosa sempre encontrarão canais de expressão para sua manifestação. O livro não desbancou o papiro?
A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?
Não interfere de uma maneira direta, mas indireta. Quando escrevo não penso em ter muitos leitores, apesar de imaginá-los possíveis. Penso que isso não interfere no escrever em si, mas no mercado, na profissionalização do escritor. Poucos são, no Brasil, os que vivem somente de e para a literatura. Nos outros países não é muito diferente.
O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?
Como leitor e escritor estou sempre descobrindo coisas novas e experimentando. Isso é conhecimento se fazendo de forma lúdica. Ler e escrever é conhecer a si mesmo e ao outro, é ter a possibilidade de viver melhor a sua vida e viver a vida dos outros. A literatura é uma das formas mais eficazes de mergulhar em si mesmo e vivenciar o tempo dos demais.
Qual é, a seu ver, a função da literatura na sociedade?
A literatura, como toda arte, não deve se preocupar em ter uma função oficial. Ela deve representar, antes de tudo, uma visão pessoal do mundo, e mostrar como nós seres humanos nos relacionamos com a realidade social que nos cerca e com a natureza. A literatura tem o poder de revelar o escondido, veja Sófocles, Shakespeare, Kafka, Freud.
Um crítico literário deve analisar apenas um poema ou a obra como um todo?
Um poema pode ser um mundo, e dar a possibilidade ao ensaísta de entender a maneira de expressão do autor e sua visão e técnica poéticas. Já a avaliação de um número maior de poemas possibilita entender toda a abrangência da obra, suas repetições e inovações.
O que acha de nossa iniciativa de entrevistar/homenagear renomes de nossa literatura? Fazendo, além de uma justa homenagem, um fomento entre o autor consagrado e o autor iniciante...
Penso que é um trabalho muito importante de divulgação e apreciação. Principalmente para a poesia que tem pouco espaço hoje em dia na mídia tradicional. A homenagem, nesse sentido, é resgatar, é dar o devido valor a autores e suas obras. Para que mais pessoas as conheçam e valorizem.
O movimento da montanha
(José Eduardo Degrazia)
Para conhecer uma montanha
é precisa saber da pedra
feita magma,
do antigo vulcão
formada.
A montanha é a pedra
em movimento,
fluidez em forma
solidificada.
A montanha parece caminhar
quando o sol a esconde no sol posto,
e nós a olhamos como se fosse um pássaro,
um passo, uma pantera,
pois dentro dela bate
o coração da lava.