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Duas Paixões

Abner Cestari, o mergulho na música e na fotografia

A bordo de cruzeiros marítimos, músico e fotógrafo por vocação fala do seu espírito aventureiro

Entrevistas  –  30/12/2019 10:37

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(Fotos: Divulgação)

“Para 2020 pretendo criar um livro fotográfico. Quanto à música, acredito que pelo segundo semestre eu terei um álbum produzido pronto para lançar em plataformas digitais”

 

Os artistas estão por todo lugar, proporcionando risos, sonhos, levando o público a se empolgar e até a chorar de emoção, com espetáculos destinados a diversas faixas etárias. São músicos, atores, contadores de histórias, mágicos... E de maneira sutil, eternizando esses momentos, entra em cena o fotógrafo, com suas lentes mágicas, glamourizando ainda mais as histórias vividas por cada um dos participantes dos grandes espetáculos a bordo dos cruzeiros pelo mundo afora. Nada escapa ao seu olhar e à sua lente de lince. Como disse Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Então, nesse contexto, Abner Cestari, paulista de nascimento, faz jus às suas habilidades artísticas. Músico e fotógrafo por vocação, parou de tocar em 2009, iniciando uma carreira fotográfica em 2010. Em 2016, começou a trabalhar fotografando em navios de cruzeiros marítimos, até que em 2017 surgiu uma oportunidade de mostrar seu trabalho como músico nos cruzeiros os quais fotografava, e assim conciliou as duas artes em suas andanças pelo mundo. Nesse momento, descansa seu espírito aventureiro numa pausa de férias no Brasil

Confira a entrevista com Abner Cestari

É de praxe, embora não seja uma regra, que o fotógrafo comece amadoristicamente, fotografando amigos e família. Foi assim pra você tambem? Como foi que você partiu para o profissionalismo?

Eu cresci vendo fotos minhas quando criança que meu próprio padrinho fez, eu achava o máximo a qualidade e os efeitos de uma fotografia "mais séria" do que muitos de nós costumávamos ver com aquelas câmeras portáteis que a maioria de nós tínhamos em casa na década de 80 e 90. Então sempre tive essa ideia de que eu gostaria de me tornar um fotógrafo profissional um dia e comecei a estudar por conta própria os conceitos básicos. Quando investi na minha primeira DSLR já logo em seguida iniciei minha carreira profissional com eventos sociais.

Como você lidava com o seu trabalho artístico nos cruzeiros?

Trabalhar nos cruzeiros era pra mim mais um meio de levantar fundos para custear minhas viagens, mas ainda assim era na fotografia que eu me dedicava a maior parte do tempo a bordo. Eu era gerente da galeria de fotos e responsável pela equipe de fotógrafos onde eu liderava e coordenava para oferecer sempre o melhor registro possível da experiência dos passageiros. Tudo que englobava esse trabalho me fez evoluir muito como profissional e, claro, também pessoalmente. O privilégio de viajar e conhecer muitos países era como o emprego dos sonhos, mas ainda assim não me excluía das minhas (diversas) responsabilidades.

Cite um momento gratificante vindo da sua arte de fotografar?

Quando comecei a explorar mais por minha conta, eu vi a oportunidade em fazer as coisas do meu jeito, no meu tempo. Como sou apaixonado por fotografia no geral, fotografia analógica também fazia parte do meu estilo: câmeras antigas, rolos de filmes etc. Como nos velhos tempos. Muitas das minhas fotos eu vendia diretamente para pessoas interessadas em tê-las como uma obra de arte em casa, num quadro com uma impressão bem feita em fine art. Cheguei a imprimir um incrível canvas de 70 polegadas de comprimento por 30 polegadas de altura - uma foto de uma geleira no Alasca. Quando o cliente viu, disse que tinha um lugar perfeito em sua casa para expor, e a comprou imediatamente. Me deu uma alegria sem tamanho saber que uma fotografia que eu criei teve um fim tão gratificante como este.

Você enfrentou alguma dificuldade em fotografar em cruzeiros?

Sim, quando iniciei a barreira linguística foi muito forte, pois havia diversos sotaques de pessoas do mundo todo constantemente falando comigo, então viver essa experiência onde estar fora da zona de conforto da nossa linda língua mãe portuguesa era um desafio, mas em não muito tempo depois era como segunda natureza.

Quando o navio aporta em um dos itinerários pré-estabelecidos, é comum que haja algumas horas ou dias para que os passageiros conheçam a cidade. Nesse caso, você estaria livre para sair à procura de bons cliques. Há alguma preferência por lugares para fotografar?

Neste momento é quando a maioria dos tripulantes também tem seu tempo livre para explorar, minha posição era um tanto mais privilegiada em relação a outras em questões de ter este tempo livre, então eu aproveitava o máximo. Eu sempre gostei dos pontos turísticos comuns, porém não me focava apenas neles, primeiramente para evitar grandes multidões e clichés, eu procurava explorar locais mais interessantes e com maior peso histórico, muitas vezes cheguei a ir até outras cidades para obter um registro mais especial.

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"Fotografia é arte e toda arte te provoca, inspira, seduz, intriga, encanta, entre mil outras sensações"

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Está muito na moda hoje os projetos fotográficos. Você tem ou já teve algum projeto de séries fotográficas?

Eu não tinha nada especial em mente, a fotografia analógica era minha maior diversão e acho que poder fotografar tantos locais com filme já era muito especial para mim.

Minha filha disse uma vez que “a fotografia é indutora de devaneios imagéticos criativos”. Eu concordo com ela. Essa frase me faz “devanear”.  Mas gostaria de saber a sua opinião, enquanto profissional da área, quanto a essa frase.

Acredito que a fotografia tem sim um poder muito forte de te despertar diversos pensamentos e até mesmo sentimentos, em suas formas artísticas ou documentais que trazem a nossa brutal realidade que vivemos. Fotografia é arte e toda arte te provoca, inspira, seduz, intriga, encanta, entre mil outras sensações, concordo com sua filha também.

Hoje, devido ao avanço tecnológico e ao poder de compra, é muito provável o fotógrafo ir fotografar um evento onde o equipamento do cliente é mais top de linha. Isso te constrange de alguma forma, mesmo sabendo que o cliente só vai usar a câmera na função automático?

Não há dúvidas de que isso acontece sim, especialmente em ambientes como este em que trabalhava, onde o poder aquisitivo dos passageiros era realmente alto. Muitos apareciam com câmeras como a que usava, ou até melhores de formatos maiores. De maneira alguma isso me constrangia, eu até gostava de ver pessoas com tais equipamentos e conhecer a história delas, alguns de fato eram profissionais e sabiam o que estavam fazendo, outros nem tanto e muitos destes viam até minha equipe pedir consultoria ou uma aula particular sob um específico assunto.

Conte-nos como foi que você começou a tocar nos cruzeiros e fale um pouco sobre alguns artistas com os quais trabalhou.

Tudo começou com um convite formal de uma artista americana que estava criando seu próprio show para entreter os passageiros; viu a oportunidade de adicionar um instrumento diferente (não orquestral) e assim podendo apresentar músicas diferentes; mais rock e blues. Eu aceitei sem hesitar, foi meu momento de brilhar ao lado de uma grande artista que eu admirava. Houve outro artista, Australiano, que me convidou a fazer uma participação especial no show dele tocando uma música famosa de George Harrison (Beatles), pra mim foi uma honra, já que cresci ouvindo músicas do tipo. Entre muitas outras oportunidades bacanas, uma delas eu montei um trio com uma amiga portuguesa (voz) que trabalhava comigo e outro colega das Filipinas (saxofone) e tocamos Garota de Ipanema. (Risos) Foi muito divertido e o público amou.

Qual instrumento você toca? Você também compõe?  

Eu toco com instrumento não muito convencional, se trata de uma guitarra de 8 cordas (em vez de 6). Componho sim, e atualmente estou voltado à música experimental, mas sempre com um fundo de heavy metal, que é minha maior inspiração e gosto pessoal.

Explica um pouco a diferença entre esse instrumento de 8 cordas que você usa para o de 6cordas normalmente usado. Ele favorece mais o estilo de música que você toca?

A grande diferença destes instrumentos é justamente o alcance estendido que ele possibilita ao músico, eu escolhi ter duas cordas mais graves (uma B e outra F#), assim atinjo notas extremamente baixas, bem típicas de alguns estilos do metal moderno, porém não me limito a este, música popular brasileira (MPB, bossa) também me agradam e poder tocar algumas canções fazendo a parte harmônica da guitarra e também as notas do baixo é incrível.

Você quando compõe tem como foco transmitir alguma mensagem para o público? O que seria?

Todas as minhas composições são embasadas por sentimento e/ou a uma imagem/atmosfera. Sempre imagino algo acontecendo e a sensação daquele momento, é isso que tento traduzir e expressar.

Em navios você toca com diversas bandas diferentes. Como é o processo de se adequar ao estilo de tocar de profissionais que você não conhece?

O processo era simples, respeito mútuo pela música em questão, indiferente do estilo abordado, da mesma maneira que eu me adequava ao estilo que apresentavam, eu tinha meu espaço para criar algo da minha maneira, um solo ou um arranjo.

Ainda existe preconceito de algumas pessoas em relação ao rock metálico? Como você lida com isso?

Eu não diria que hoje em dia exista preconceito, apenas pessoas que não estão acostumadas com o estilo e isso é natural, em momento algum lidei com situações negativas referentes.

Como é o desafio de executar novas músicas ao vivo?

É excitante e levemente assustador eu diria. Mas nada que muitas horas de prática e ensaios não possam acabar com a ansiedade e ganhar mais confiança na técnica.

Para não usar a frase de praxe “influência sonora", a pergunta é a seguinte: Você bebe de alguma fonte para compor suas músicas?

Todos nós temos influências sob praticamente tudo que fazemos, com música não poderia ser diferente. Eu ouço muitos estilos variados e bandas/artistas que me influenciam mais são: John Petrucci, Joe Satriani, Meshuggah, Djavan, Vangelis, John Williams, Kiko Loureiro, Steven Wilson, David Bowie, Little Richard, Nobuo Uematsu, entre outros.

Existe alguma diferença em particular entre a plateia do Brasil e a dos seus cruzeiros?

Nada muito particular, mas acredito que brasileiros sejam mais calorosos e vibram mais em músicas que gostam.

Quais são seus projetos musicais e fotográficos para 2020?

Estou pronto para me mudar para a Nova Zelândia, um país que gostei muito e pretendo explorar muito para criar um livro fotográfico. Quanto a música, acredito que pelo segundo semestre eu terei um álbum produzido pronto para lançar em plataformas digitais e possivelmente com uma quantidade limitada física, o bom e (já) velho CD.

Como as pessoas podem te encontrar para contratos ou mesmo para conhecer melhor seu trabalho (site, redes sociais etc.)?

Flickr, YouTube, Twitter, Linkedin, Pinterest... Mas vou deixar o meu link para o Instagram, que é o jeito mais fácil de me encontrar.  

Obrigada pela entrevista. Finalizando, poderia deixar uma dica para um bom show e uma mensagem para os fãs?

Eu que agradeço! Um bom show é aquele em que você está confortável e seguro de si, trabalhe para que tudo que você tocar soe natural. Sempre temos altos e baixos em nossas carreiras, nunca deixem suas verdadeiras paixões serem esquecidas e sobrepostas pelo nosso dia-a-dia cheio de responsabilidades, fazer o que ama é amar a si próprio!

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Por Rita Procópio  –  ritafprocopio@hotmail.com

2 Comentários

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  • Marcelo Julio Batista

    Esse cara é uma pessoa genial !

  • Marcelo Thadeu Manzini

    Eu tinha uma curiosidade sobre os artistas que atuam em cruzeiros. Gostei muito da entrevista . Tanto das perguntas quanto das respostas. Parabéns aos dois!