(Fotos: Divulgação)
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“A liberdade só existe de forma plena, com igualdade de oportunidades”
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Shirley M. Cavalcante
Adam Mattos é advogado, escritor, poeta e editor. Acadêmico de Letras e pós-graduando em Ciências Humanas e em História das Religiões. Além de ter cursos de capacitação em Shakespeare e em estudos islâmicos (Harvard e Universidade de Tel Aviv). Nasceu em Londrina, mas mora há muitos anos em Curitiba, é casado e tem um filho pequeno. É editor do Coletivo Literário Mal do Horror e editor/cofundador do Corvo Literário. Já publicou dois livros e participou de antologias. É militante em prol da propagação da literatura de forma democrática e livre no mundo líquido (pós-moderno).
Confira a entrevista com Adam Mattos
Conte-nos o que veio primeiro: o gosto pela arte de escrever textos poéticos, ou terror?
Primeiro o terror. Gosto de terror desde criança. Mas meu primeiro texto poético não foi de terror, e não escrevo só este estilo. Escrevo poesias de todos os temas, já participei de antologias de amor, temas variados, etc.
E “será que o ser humano nasceu mau, ou se torna com o decorrer do tempo”? Apresente-nos “Alma em pedaços”.
“Alma em pedaços” nasceu em um momento difícil da minha vida. Comecei a escrever sobre desesperança, maldade, e quando vi a obra estava completa na minha frente. Não foi algo planejado, simplesmente aconteceu. É um livro com poesias sobre crimes, crueldade, desesperança, depressão, perda, tudo isso com uma linguagem simples e de fácil compreensão. Mas é absolutamente um livro para maiores de 18 anos. Já essa questão me atormenta desde sempre. Eu não sei a resposta, mas nos meus textos essa questão uma hora ou outra aparece. Após concluir “Alma em pedaços”, escrevi um livro de contos perturbadores, seguindo a mesma premissa. E espero lançar em breve um romance para encerrar a trilogia sobre o tema.
Apresente-nos um dos textos publicados na obra.
“Transparente”
Transparente como somos
Não conseguimos esconder por muito tempo
Mesmo sem nos expormos
A verdade vem como vento
Tentamos em vão não mostrar
Aos outros, a nossa verdadeira face
Para não, eventualmente, frustrar
Quem sempre nos abrace
Mas quem verdadeiramente somos?
Essa dúvida sempre paira na gente
Podemos não ser mais quem fomos
E a máscara cai bem na nossa frente
A dualidade do ser humano é imensa
E não pode ser medida facilmente
Cada personalidade é tão intensa
Que é fácil julgar erroneamente
Cada texto contém um pedacinho do autor, comente sobre o momento de criação do texto.
Não sei se concordo com essa frase. (risos) Alguns textos são mais autorais que outros, mas acredito que a base primordial do meu trabalho é a empatia. Eu não preciso ter ficado grávida e ser assassinada para sentir ódio na poesia: Assassino. Da mesma forma que não precisamos pertencer a uma minoria para defender até a morte, se preciso, os seus direitos. Não sei em que momento escrevi essa poesia, mas provavelmente sentindo por alguém que foi julgado de maneira errada, ou não. O escritor enxerga o mundo diferente. Uma folha caindo da árvore pode tornar-se um romance sobre a Segunda Guerra Mundial. (risos)
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"Prestigiem os autores nacionais, que não devem em nada para os estrangeiros. Comprem os livros, ajudem a divulgar, que só assim conseguimos sobreviver nesse mundo novo, que ainda não sabemos como será exatamente".
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Saindo da poesia e indo para o terror, encontramos o seu livro de contos “Devaneios de uma mente perturbada”. Comente como surgiu a obra.
Mais ou menos como o primeiro. Não na questão do momento, mas da surpresa. Eu fui escrevendo contos e mostrando para algumas pessoas. As respostas sempre foram muito positivas, então resolvi transformá-los em uma coletânea de contos perturbadores. Não tem só terror. Tem dilemas morais, problemas políticos de saúde (na minha opinião, o mais assustador do livro), e até comédia, se você tiver um senso de humor peculiar. (risos) Mas todos eles perturbam, pois poderiam acontecer com qualquer um em algum momento da vida.
Apresente-nos a obra
Neste livro, o autor reuniu contos que podem ser classificados como terror, mas são mais do que isso. São contos que exploram a dualidade da essência humana. O que são capazes de fazer quando ninguém está olhando, no conto “Assassinato?”. Em “O caçador de buzinas”, vamos conhecer Juca, e o que acontece quando somos levados ao limite. Encararemos também a crua realidade de um garoto em busca de um sonho. É uma seleção eclética, mas em comum, deixam uma pergunta no ar: Do que o ser humano é capaz?
O que mais o atrai nos textos de terror?
O terror real. Você ler algo e se arrepiar olhando sob o ombro para garantir que aquilo não esteja prestes a acontecer com você também. Além do aspecto político. Eu escrevi um conto que não está no livro, chamado “Ditadura”. Depois que escrevi, nunca tive coragem de ler. Pois tudo o que está retratado ali aconteceu com milhares de brasileiros nas mãos do Dops, depois de 1º de abril de 1964. Em um momento como o que vivemos no Brasil, com um presidente sempre flertando com esse passado grotesco, esse texto serve de denúncia, para que nunca nos esqueçamos do que realmente ocorreu, por mais que governantes tentem mudar a história, com o claro intuito de repeti-la. Esse conto está publicado no site Maldohorror.com.br
Onde podemos comprar os seus livros?
O “Alma em pedaços” pode ser encontrado em e-book em todas as lojas do ramo, inclusive em Portugal. Já o físico pode ser comprado no meu site e no site da editora Viseu. Já o “Devaneios de uma mente perturbada” por enquanto apenas no site da editora Constelação.
Quais os seus próximos projetos literários?
Meus projetos atuais são os dois sites literários que sou editor: Corvo Literário e Mal do Horror. Em ambos, temos grandes escritores que encontram um espaço para publicar suas obras. O Maldohorror, como o nome diz, é voltado apenas para o terror, já o Corvo Literário, meu xodó, é de todos os gêneros, inclusive cordel brasileiro.
Falando em livros, meu próximo será um romance. Mas por enquanto fica na surpresa. Será que será de terror? (risos) Espero publicá-lo em 2021. Me acompanhem nas redes sociais e no Corvo Literário, para estar sempre informado dos meus projetos.
Estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Adam Mattos. Agradecemos sua participação. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Leiam. Prestigiem os autores nacionais, que não devem em nada para os estrangeiros. Comprem os livros, ajudem a divulgar, que só assim conseguimos sobreviver nesse mundo novo, que ainda não sabemos como será exatamente. Como será a era pós-digital? Teremos livros ainda? Não sei, mas com certeza teremos escritores com histórias incríveis para contar. Vai de cada um adaptar-se. E lembrem-se: A liberdade só existe de forma plena, com igualdade de oportunidades.