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Sua História Numa Folha

A fitotipia da Fernanda Líder

Fotógrafa aposta em trabalhos utilizando essa técnica para revelação, e também tem ministrado oficinas online

Entrevistas  –  05/03/2021 06:52

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(Fotos: Divulgação)

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Fernanda: “Fitotipia é um processo fotográfico que usa folhas de plantas como suporte para revelar, transferir a fotografia”

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A fitotipia está de volta. Fitotipia, pra quem não sabe, é um processo de revelação mecânica utilizada para fazer imagens em preto e branco e colorida. Esse método era muito usado em gráficas, para impressão sem a utilização de tela. O primeiro uso dela, data do século XX, sendo depois aperfeiçoada. Como matriz, era usada uma placa de vidro contendo uma camada uniforme de gelatina sensibilizada à base de dicromato de potássio; ou uma folha de material termoplástico reforçado com fibras de vidro (colótipo). Novas técnicas e novas tecnologias despencaram a fitotipia em meados do mesmo século. A fotógrafa Fernanda Líder tem feito trabalhos utilizando a técnica da fitotipia para revelação. Ela também tem dado oficinas online. As técnicas sustentáveis em diversos segmentos estão em alta e agora é a vez da sustentabilidade na fotografia. Fernanda topou conversar um pouco sobre esse trabalho que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado.

Confira a entrevista com Fernanda Líder

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(Foto: Reprodução/Facebook - Rafhaella Koenigkam)

“A fitotipia faz a gente respeitar o tempo do processo, nos obriga a ter paciência, a gente aprende muito com a natureza”

Explica pra gente melhor o que é a fitotipia?

Fitotipia é um processo fotográfico que usa folhas de plantas como suporte para revelar, transferir a fotografia. As folhas contêm pigmentos, como a clorofila ou antocianina, e através da exposição extrema ao sol esses pigmentos são danificados causando o branqueamento da folha e gravando a imagem.

Pesquisando sobre fitotipia, encontrei também a palavra antotipia. Fiquei meio confusa, porque me pareceu a mesma coisa. Eu estou certa ou são coisas diferentes?

São coisas diferentes, a fitotipia usa como suporte a folha da planta, já a antotipia usa extratos de plantas, legumes e vegetais. Depois desses pigmentos extraídos, passamos eles em um papel e colocamos a imagem que queremos fixar sobre essa superfície e expomos ao sol, dessa forma a imagem é fixada.

Como surgiu a ideia de começar um trabalho com essa técnica?

Em 2019 eu fiz uma imersão em uma residência artística, a Casero Residência, em Itatiaia. Lá, tive contato com uma artista que trabalha com fitotipia. A partir daí fiquei encantada e comecei a estudar como fazer. Alguns dias depois fiz uma outra imersão no Silo Arte e Ciência, na Serrinha do Lambari, que foi totalmente focada para a fitotipia.

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Existe algum tipo ou particularidade na escolha da folha ou folhas de qualquer planta serve?

As folhas mais indicadas são as mais finas, pois possuem menos água, e as folhas de sombra, pois não estão acostumadas com o sol e não têm sistema de proteção contra ele.

O processo de revelação de fotos em folhas utiliza em algum momento algo que não seja natural?

Sim, pode utilizar um acetato com a fotografia impressa a laser e também usamos vidro para prensar a imagem na folha durante a exposição ao sol. Também quem faz o processo de conservação da fitotipia usa resina, bicarbonato de sódio e sulfato de cobre.

Na revelação tradicional existe um processo de secagem das fotos que leva algumas horas, acho. Então pergunto: Qual é o tempo gasto do início do processo da fitotipia até a finalização?

O tempo vai depender totalmente da espécie da planta e do sol. Plantas mais finas e dias com sol mais forte geram um resultado mais rápido. Mas varia de um a sete dias para revelar.

A escolha da folha interfere no tipo de coloração depois da foto impressa nela?

Sim, cada espécie de folha fica de uma coloração diferente, na verdade a mesma espécie de folha pode gerar resultados diferentes em sua cor. Mas o tom é de um bege a marrom.

Qual é a durabilidade dessa impressão? A imagem sofre interferência com a passagem do tempo e recebimento de luz?

Precisa ter um cuidado especial com a fitotipia, pois ela é orgânica e é feita através dos raios solares. Portanto, não é aconselhável deixar em locais de luz solar direta, pois a imagem vai desbotando, mas, se bem cuidada, a durabilidade é longa. Não consigo precisar exatamente quanto tempo, mas a mais antiga que fiz tem três anos e ainda está perfeita.

Me veio uma ideia no momento: Existe possibilidade de se envernizar e envidraçar a folha depois do processo final, para maior durabilidade?

Sim, isso até já é usado por alguns artistas.

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É muito legal esse trabalho. Nos remete a uma ligação forte com a natureza. Acho que as folhas dão à imagem impressa muito mais história. Elas ampliam as narrativas. Pode até ser que eu esteja enganada, mas meu olhar de artista vê muito mais além da imagem que está materializada ali. Como você, como artista, não como a fotógrafa, vê isso?

A natureza é arte pura, é criação, mãe. Usar da natureza de forma responsável para produzir o que deseja me faz sentir mais conectada com o ambiente em que vivo e com a vida. O fato de ser perecível, sensível, forte também vivo e delicado, me remete ao que é o viver.

Obrigada, Fernanda. Em tempos de digitais e aplicativos que prometem transformar em um segundo uma foto, acho fascinante esse resgate desse tipo de trabalho com relação com a terra.  O mundo está muito acelerado, acho que é preciso um fazer mais cuidadoso, um fazer mais desacelerado. Pra chegada ser mais saborosa, é necessário um caminho mais lento, onde se pode deliciar com cada passo antes do resultado final. Acho que é isso o que tá faltando no profissional de hoje, pois isso é o que dá um toque a mais no resultado final. Deixe aqui sua mensagem sobre isso.

A fitotipia faz a gente respeitar o tempo do processo, nos obriga a ter paciência, a gente aprende muito com a natureza. As coisas estão mais fáceis, acho ótimo todos poderem fazer uma foto, e ter em mãos imagens como referências e informações. Mas a gente também se perde nesse estado acelerado de produção. Tudo leva tempo, algumas coisas mais e outras menos. Poder escolher, vez ou outra, ações que não dependem só de nós, com afazeres mais lentos, é uma forma de nos reconectarmos com nossa essência.

Como as pessoas podem te encontrar para uma oficina ou para encomendar um trabalho?

Podem entrar em contato através do Instagram @impressaosolar ou WhatsApp (24) 98117-6812.

Finalizando e agradecendo a disponibilidade, quais são os projetos? Alguma oficina à vista? Eu estou doida pra fazer.

Estou oferecendo oficinas avulsas, só combinarmos data e hora. No momento tenho feito também testes de outro processo fotográfico lento, a cianotipia. Vamos ver no que vai dar!
Muito obrigada, Rita, pelo seu carinho e interesse de sempre. 

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Por Rita Procópio  –  ritafprocopio@hotmail.com

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