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“Talvez todos os caminhos me interessem, sigo aprimorando não sei em qual direção, apenas produzo”
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Quando o bichinho da arte morde, não adianta fugir. Ele vai atrás, nem que seja pra nos indicar outro caminho da arte. Nos anos 80, Bruno Maia (de Barra Mansa), ator, escreveu uma peça teatral contando a história do teatro através dos tempos, até o ano 2.000, que obviamente, na época, era imaginário. A peça "Spectros - O palco no tempo" passava por autores e textos consagrados, como “Hamlet”, de Sheakspeare; “Vestido de noiva”, de Nelson Rodrigues; e tantos outros. E fazia sátiras aos comerciais de TV na época. O texto passava por mais de 100 personagens, divididos entre dez atores. Eu era um dos atores que faziam parte do elenco. Centenas de figurantes ajudavam a contar essa história. Um marco histórico para o teatro. O figurino, minuciosamente pesquisado, estava sendo desenhado por um figurinista/ator que também fazia parte do elenco. O cenário era composto de peças particulares, objetos artísticos, a maioria estatuetas que estavam sendo produzidas pelo próprio Bruno Maia. Ficamos um ano ensaiando e correndo atrás de patrocinadores. Foi mais fácil na época encontrar patrocinadores do que conseguir o aval de escritores famosos, já que alguns já estavam mortos e os direitos autorais passaram para seus herdeiros, difíceis de serem encontrados naquela época, quando não tínhamos o advento da internet para ajudar. Por esse motivo, o texto foi engavetado e substituído por outro. Até hoje dá uma dor muito grande ver um projeto tão lindo restrito à poeira numa gaveta qualquer. Impossível voltar atrás, pois a parte perecível do texto teria que ser refeita. Enfim... Tudo isso pra registrar que o talento desse artista não começou de agora. Bruno Maia hoje produz peças maravilhosas, com diversos temas. Cada uma delas nos remete a uma história ou realidade. Não são obras mortas. As estatuetas têm movimento. Hoje vou conversar com esse artista de múltiplas artes, que vai nos contar o que o move nas suas criações.
Confira a entrevista com Bruno Maia
Eu vejo cenas em cada escultura sua. Eu vejo histórias, movimento. Eu vejo personagens de verdade. O que te move na criação de suas esculturas?
A representação valorizada do povo brasileiro (a dança, agricultura, a religião, o costume e suas personagens típicas).
Não entendo muito de escultura, mas sei apreciar a leveza dos gestos, a sensibilidade estética do artista. Eu viajo na sua arte e vejo por detrás dela, não o amigo, mas um personagem que dá um show ao entrar e ao sair do palco. A história não sai da cabeça quando o acabamento é perfeito. Eu sinto isso nas suas esculturas. De que forma, você sente sua arte depois de pronta?
No primeiro instante é como uma filha, e logo em seguida a emancipo para que vá para as mãos daquele que a admira.
O artista, a meu ver, cria a partir de afinidades com o material escolhido, e essa afinidade ajuda na criação mostrando as formas. Você concorda com isso? Como você vê isso?
Concordo. Já na modelagem fica impresso literalmente minhas digitais, e o resultado é único. Primo mesmo pelo movimento; se a personagem está parada, você perceberá o vento nos cabelos e roupas. O volume eu reforço com o envelhecimento que traz sombra e luz.
Qual é o processo da sua criação? Aquilo que você imagina no começo é o seu produto final?
Sim, consigo representar o imaginado, pois meu processo é muito simples. Por ser autodidata, faltam-me técnicas apuradas. Faço algum tipo de pesquisa, escolho, crio tons de cores e vestimentas em que a figura está inserida.
Onde se encaixa a parceria da sua mãe nas suas obras?
Há mais de 30 anos minha mãe faz vestuários em crochê e resolvemos unir nossas artes numa linha de Santos Católicos, onde ela veste minhas peças. É uma deliciosa parceria ainda embrionária que revelou um terceiro produto e a marca “De mãe pra filho”.
No mundo inteiro há mais pessoas que apreciam a arte de um artista desconhecido do que as que as adquire. O caminho para o artista desconhecido entrar no mercado é longo e muitas das vezes cheio de barreiras. Na sua opinião, por que o mercado não dá oportunidade a novos talentos, preferindo apostar nos artistas de renome?
Falta talvez a alguns uma identidade; no tocante à venda não tenho dificuldades. É claro que não me supervalorizo. Pratico um valor justo que até possibilita a revenda. Não percebo também união entre os artistas nem entre as artes. E para os investidores é preferível o retorno rápido que os artistas de renome oferecem.
Quais são os pontos fracos e fortes de criação nessa sua arte?
O ponto forte é a simplicidade que impacta positivamente pela comunicação objetiva. O ponto fraco vem do julgamento dos artistas acadêmicos ou não, que a definem, ora como artesanato, ora como plástica, dificultando às vezes uma maior divulgação.
Como surgem suas ideias para um trabalho?
Muitas das vezes da observação das pessoas e suas diversas culturas, as ponho em movimento, impregno o sentimento de dignidade na ação, e como num flash as “fotografo” na mente e as confecciono.
Eu notei que você tem um olhar bem próximo do profissionalismo para diversas artes. Isso para mim só reafirma o fato de que ninguém ensina ninguém a ser artista. Pode, no mínimo, ensinar técnicas ou caminhos que lhe assegure viver da sua arte. Você concorda ou não com essa opinião minha e por quê?
Plenamente. A arte genuína só toca o interlocutor se vier de dentro, por isso o artista de verdade já tem esse dom, é nato. Podendo aprimorar sim com técnicas, desde que essas não o engesse.
Existe alguém na área artística, que não seja famoso nacionalmente ou internacionalmente, que em algum momento te sirva ou te serviu de inspiração?
Provavelmente quando na infância em visita ao Campo de Santana/RJ, fiquei impressionado com as obras da Primavera, Verão, Outono e Inverno, datadas no início do Século XX dos franceses Jean Baptista Gasq e Gustave Frédéric Michel. A dramaticidade, leveza, realidade e movimento. Está tudo ali e jamais me esqueci.
Como as pessoas podem entrar em contato para adquirir uma de suas obras?
WhatsApp (24) 99891-8389 | Facebook: De mãe pra filho | Instagram: @demaeprafilho2020
Obrigada, Bruno. Sou eternamente sua fã. Tem mais alguma coisa que queira falar para finalizar nosso bate papo?
Recentemente descobri que meu estilo chama-se naif, por ser arte plástica sem suas regras e que flerta com o artesanato. Isso é confuso e segrega, essas classificações. Já fui hostilizado em feira de artesanato pelas artesãs que consideravam meu trabalho arte plástica e já fui descartado para expor em galerias por marchants considerarem artesanato. Não pretendo ser um ou outro estilo, talvez todos os caminhos me interessem, sigo aprimorando não sei em qual direção, apenas produzo. Afinal, a arte não é livre?, se não já deixou de ser.