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Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

Silêncio Poético

Ribamar Bernardes - A poesia e a relação espontânea com a vida

Poeta diz que escreve movido pelo desespero e que gostaria de ser lido por aqueles que não leem poesia ou ao menos por aqueles que, assim como ele, leram e não gostaram

Entrevistas  –  20/03/2022 17:59

 
Ribamar

(Foto: Divulgação)

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“A poesia em si é nada. E a arte pela arte, a fruição do prazer estético, é puro Niilismo, puro veneno, no máximo uma forma elegante e aristocrática de se masturbar. Por isso sempre pouco gostei de poesia e se faço é pra colocar no papel o que praticamente não encontrei nos livros”.

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Nosso entrevistado é o poeta Ribamar Bernardes. Nascido em Joinville (SC), em 25 de junho de 1975. Aos seis meses foi levado para Porto União (SC), divisa com União da Vitória (PR). Frequentou e não concluiu quatro cursos superiores: Engenharia Elétrica e Ambiental, Letras e Ciências Sociais. Está casado pela segunda vez, com Simone Aparecida Alves. Vive de rendas passadas. Pretende cursar Filosofia na Unespar, campus União da Vitória (PR), cidade na qual retornou a residir em 2005. Há 25 anos, de tempos em tempos escreve e publica poesia.

Confira a entrevista com Ribamar Bernardes

> Quando iniciou o seu interesse pela poesia?

Meu interesse por poesia começa por volta dos 20 anos. Acredito que devido a um estado de crescente desespero, a literatura surgiu assim, como arma, como antídoto, como uma revolução interna, visto que o "mundo exterior" paulatinamente se apresentava como algo desinteressante e, pior, extremamente hostil.

> Sente na sua obra a influência de algum ou alguns poetas?

Me considero totalmente perdido no mundo, pois recebi como outros de minha geração uma orientação bem-intencionada, porém desnecessária, exatamente por ser burguesa (voltada exclusivamente aos aspectos materiais da existência) e contrária à orientação cristã dos primeiros anos. Assim recorri à literatura em busca de instrução e descobri nos romances um pouco dessa orientação que me faltava, mas nunca consegui escrever em prosa. A poesia, por sua vez, me encantou enquanto possibilidade de expressão, mas pouco do que li me agradava. Fora parte da lavra de Cruz e Souza, Manuel Bandeira, Ferreira Gular e do Uivo de Allen Ginsberg me seduziram. Mas foi Charles Bukowski, através de sua prosa e de sua poesia, que forneceu o estímulo necessário à criação. Então, apesar de não verificar influência dele nem de qualquer outro no que atualmente escrevo, posso afirmar que estes estilos de escrita me influenciaram, mas meu único professor de literatura foi Charles Bukowski.

> Fale um pouco de seu projeto.

Meu projeto poético consiste na manutenção contínua e obstinada de uma relação espontânea com a vida. Não me considero um literato, apesar de tanta literatura acumulada, muito menos um poeta no sentido de especialista... Sou apenas um diletante, fascinado com a possibilidade da expressão e de uma elevada condição espiritual que essa expressão pode conduzir. O resto, como já foi dito, é silêncio.

> Qual é o público-alvo de seu livro?

Essa parte "industrial" da poesia não me interessa; escrevo, como já disse, movido pelo desespero, a dimensão social existe à medida que acredito na relevância histórica do que faço, mas não serei eu que irei determinar se serei lido hoje, amanhã ou nunca. Apenas escrevo e vez em quando publico algo além da redes sociais, mas se pudesse controlar esse processo gostaria de ser lido por aqueles que não leem poesia ou ao menos por aqueles, que assim como eu, leram e não gostaram do que encontraram.

> Você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?

Sim. A dimensão oral é inerente à poesia que faço. Desde sempre gravo meus poemas num gravador. A poesia quando ouvida fortalece seu aspecto cerimonial, dionisíaco, e declamar meus poemas é a mais intensa e misteriosa experiência por mim vivida. Puro êxtase (única tarefa da poesia é conduzir o corpo a esse miraculoso estado). Porque poesia e vida pra mim são sinônimos. Assim, me sinto vivo quando faço, quando me preparo pra fazer (todo o tempo) e também quando interpreto.

> Segundo a sua percepção, esta época de pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19) é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirado?

Depende de quem cria. No meu caso não me sinto nem mais nem menos inspirado. Transpiro igual. Meu único contato pessoal se dá com Simone (meu amor incondicional por ela), assim a pandemia mudou pouco meu cotidiano e minha expressão poética contém essa empatia pelo sofrimento coletivo que independe de qualquer circunstância específica, portanto, tudo igual nesse aspecto.

> Você já publica poemas nas redes sociais. Qual é o seu poema mais comentado?

 Acho que é o “Efusivas Elucubrações Festivas”.

> Sobre os títulos dos poemas. Você considera importante o título ou pensa que o título é supérfluo?

O título num poema se torna necessário de acordo com a proposta do poeta. Pode ser imprescindível ou não. No meu caso já escrevi poemas sem título e se no processo atual faço uso é porque acredito que além da mera classificação indicativa o espaço do título é mais uma opurtunidade para afirmar a expressão poética almejada pelo texto. Mas em outra obra isso pode ser prejudicial, à medida que revela precipitadamente o teor da composição. Por isso, depende da proposta.

> Se você fosse obrigado a escolher um poema de sua autoria que represente o seu estilo, a sua voz poética, qual escolheria?

Acho que sempre o último (o mais recente) é o que melhor representa. No caso, o poema “Ilúcidas Elucubrações” (escrito e publicado no Facebook em 28 de fevereiro de 2022 ).

> Quais são os projetos para 2022?

Manutenção contínua e obsessiva de uma relação espontânea com a vida. Se o poeta é um especialista, não sou poeta. Apenas expresso através do verso livre essa aspiração. Não me interesso por reconhecimento público, minha realização pessoal é tamanha e acredito com tal convicção do valor de meu festivo esforço, que o aplauso ou a vaia se tornaram insignificantes. Faço porque acredito que da mesma forma que conquistei essa "fortaleza simbólica", outros ao lerem se sentirão aptos também para essa conquista. E isso tem a ver com poesia apenas enquanto meio para se atingir um estado elevado de percepção elevada que visa a construção de um novo mundo, um novo amanhã. Porque vivemos entre ruínas, mas ainda não perdemos a capacidade de sorrir. A poesia em si é nada. E a arte pela arte, a fruição do prazer estético, é puro Niilismo (do latim nihil - nada -), puro veneno, no máximo uma forma elegante e aristocrática de se masturbar. Por isso sempre pouco gostei de poesia e se faço é pra colocar no papel o que praticamente não encontrei nos livros. 

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Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

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