(Foto Ilustrativa)
Pela primeira vez em Volta Redonda, ontem, 21, por volta do meio-dia, foi realizado o primeiro procedimento autólogo (autogênico) em um paciente com câncer (linfoma), ou seja, transplante realizado com as células-tronco da medula do próprio paciente. A notícia foi divulgada quando a jornalista do OLHO VIVO entrevistava a médica Cristine Militão Guedes, especialista em hematologia, sobre a palestra ministrada anteontem, 20, para alunos do Ceja (Centro Educacional Jardim Amália) - que estão promovendo uma campanha para estimular doadores. O transplante de medula óssea é a única esperança de cura para muitos portadores de leucemias e outras doenças do sangue.
O procedimento representa um avanço para a região, já que os pacientes portadores de doenças que necessitam desse tipo de serviço não precisarão mais viajar para o Rio de Janeiro em busca de tratamento que, a partir dessa data, começa a ser realizado em um hospital particular de Volta Redonda (o Unimed). Segundo a médica o transplante pode ser autogênico, quando as células precursoras de medula óssea provêm do próprio indivíduo transplantado (receptor), ou alogênico, quando as células provêm de outro indivíduo (doador).
- A partir de agora, outros pacientes poderão receber o procedimento autólogo, em Volta Redonda. Na semana que vem faremos o procedimento em outro paciente e, outros dois já estão fazendo consulta. Esses pacientes têm cuidados diferentes - explicou a médica, dizendo que a indicação desse tratamento é feita de acordo com a doença, assim como é feita uma avaliação se o paciente tem condições para esse tipo de procedimento.
Medo é a maior dificuldade para a doação
Apesar da distância que uma pessoa da região percorre, já que no Sul Fluminense não há um posto de coleta para medula óssea e, para fazer as doações os voluntários precisam ir até os hemocentros do estado (no caso mais próximo, o HemoRio, que fica no Centro do Rio de Janeiro, ou no Inca, que também faz a coleta de sangue e o cadastramento de doadores voluntários ou por meio das campanhas municipais), para a médica o principal fator que dificulta o maior número de doadores ainda é o medo.
- A dificuldade maior é o medo. As pessoas desconhecem o procedimento que é de baixo risco e, que quando for solicitado para fazer a doação, existe todo um método para avaliação e de estrutura do transporte até o local e para realizar a doação - disse.
Procedimento simples
O que causa um incômodo temporário para o doador pode salvar a vida de quem precisa. Para fazer a doação o voluntário precisa ter de 18 a 55 anos e estar em bom estado geral de saúde (sem doença infecciosa ou incapacitante).
Segundo a médica, o primeiro passo é o interessado se cadastrar no Registro de Doadores de Voluntários de Medula Óssea para que seja feita a coleta de sangue. Logo após, o sangue vai para o HLA (exame de histocompatibilidade) para avaliar a compatibilidade. Se for encontrado um doador compatível, ele será convidado a fazer a doação.
- Com isso, o doador, será convocado e passará por uma equipe multidisciplinar para a internação e é feita a anestesia (que apresenta baixo risco). A doação é um procedimento que se faz por meio de punções. Em torno de 10 a 15 dias a medula óssea do doador já estará recomposta - explicou.
O que é medula óssea?
A medula óssea é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida popularmente por “tutano” onde são produzidas as células que circulam no sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.
Cidadania em sala de aula:
projeto escolar estimula doação de medula óssea
(Foto: Divulgação)
Palestra: Dificuldade maior é o medo; as pessoas desconhecem o procedimento, que é de baixo risco
O que uma experiência difícil vivida por um colega de escola pode mudar na vida dos que estão ao seu redor? Ou ainda, como a escola pode transformar essa experiência em uma ação em que os benefícios transcendam seus muros e salve vidas? É nesse sentido que o Ceja (Centro Educacional Jardim Amália), em Volta Redonda, está envolvendo cerca de 600 alunos, de 12 a 18 anos, em um projeto que visa incentivar a doação de medula óssea. Segundo a diretora Elaine de Freitas Passos dos Santos, a ideia para o tema deste ano surgiu após um aluno da escola enfrentar o problema.
- Tivemos um caso de um aluno que teve leucemia, precisou do transplante e hoje ele está bem. Por isso, este ano escolhemos o tema para abordar o projeto escolar que visa estimular a cidadania em nossos alunos - destacou Elaine ao explicar:
- Todo ano a gente desenvolve o projeto que é voltado para a cidadania e o tema deste ano, medula óssea, surgiu pelo que vivemos com nosso aluno. Ano passado tivemos um aluno que tinha problema de coração e infelizmente, em março, ele veio a falecer.
Com o objetivo de despertar a atenção e promover a conscientização sobre a importância da doação de medula óssea, o projeto, que iniciou em agosto, acontecerá durante quatro meses e contará com as atividades na escola e nas ruas.
- Na quinta-feira, 20, tivemos a participação de uma médica que ministrou palestra sobre o assunto para os alunos na escola. Além disso, tivemos também o testemunho de uma jovem que contou a experiência que passou quando precisou da doação - disse a diretora, ao ressaltar que após essa etapa eles farão caminhadas em bairros como a Vila Santa Cecília e no shopping.
Com direito a camisa com os dizeres “Medula óssea: uma vida pode estar em suas mãos. Dê um presente a quem depende de você para viver”, os alunos prometem chamar a atenção para a causa em novembro, quando participarão de atividades extraclasse e de conscientização nas ruas.
Incentivando doadores
Segundo a diretora, a ação é uma forma de buscar reverter a atual realidade divulgada esta semana, quando o “Jornal Hoje” informou que “o número de cadastros de doadores de medula óssea no Brasil caiu 46% no primeiro semestre deste ano”.
- Acreditamos que com esse projeto que estimula o transplante de medula óssea podemos ajudar, pois os jovens são rápidos na divulgação dessa informação - disse.
A estudante Giovana Citeli Cristiano Andrade, de 16 anos, do 1º ano do ensino médio, aprendeu que a doação é a melhor maneira de contribuir para salvar ou não uma vida de alguém está bem próximo.
- Além de ajudar a gente a se informar, esse projeto é muito importante para promover a conscientização dentro da escola e nas ruas. No projeto estamos fazendo um documentário e entrevistamos uma médica e um aluno da escola que precisou do transplante. Pegaram a medula dele, trataram e colocaram de novo e hoje ele está curado. Vimos o quanto ele sofria com a doença - disse a aluna ao contar outro caso de um amigo de classe que, no ano passado, precisou de um transplante de coração, mas por falta da doação, morreu:
- Ele tinha um problema de coração, mas não conseguiu o transplante e morreu. Isso foi muito triste. Toda doação é uma forma de ajudar as pessoas, principalmente porque a doação pode salvar uma vida.