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Acidente ou Atentado

A mística de Juarez Antunes

Após 26 anos da morte do sindicalista que foi eleito prefeito de Volta Redonda, dúvidas ainda pairam no ar; Comissão da Verdade divulgará relatório sobre o caso

Geral  –  07/11/2015 10:43

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(Fotos: Arquivo/Sindicato dos Metalúrgicos)

Assunto virou lenda sobre o “herói municipal”, o sindicalista que
comandou a Greve de 88 e tornou-se prefeito de Volta Redonda
 

Mataram o Juarez (Antunes)? Quem? Essas duas perguntas sempre vêm à tona há 26 anos. A primeira muitos respondem sim, outros não; porém, a segunda não há nenhuma resposta exata, só o mistério. O assunto virou lenda sobre o “herói municipal”, o sindicalista que comandou a Greve de 88, tornou-se prefeito de Volta Redonda e morreu num acidente de automóvel quando viajava a Brasília, depois de 51 dias que tomou posse. 

- Temos depoimentos importantes sobre a morte de Juarez - afirma um colaborador da Comissão da Verdade de Volta Redonda, que preferiu o anonimato. 

O relatório da comissão será divulgado nesta segunda-feira, 9. Não há garantia de que o documento responderá às perguntas, porém, sem dúvida, alimentará o imaginário popular. A data escolhida para a divulgação não foi por acaso: no próximo 9 de novembro completará 27 anos da morte dos três operários dentro da Usina Presidente Vargas durante a greve. 

Bartolomeu Citeli, ex-assessor e amigo de Juarez, definiu a morte do ex-prefeito: 

- Uma força oculta o matou. 

Aproveitando para alfinetar: 

- Quem deveria ter apurado, não apurou da forma que deveria. 

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No próximo 9 de novembro completará 27 anos da morte dos
três operários dentro da Usina Presidente Vargas durante a greve

Como em todos os mitos, há sempre várias versões. Uns defendem a hipótese de ter sido o SNI (Secretaria Nacional de Informação), ligado aos militares, para frear o crescimento político do líder sindical. Outros dizem que foram empresários de Volta Redonda insatisfeitos com as medidas do então novo prefeito. Têm aqueles que afirmam que teriam sido sindicalistas oposicionistas ao Juarez. Outros acreditam na Justiça: a causa da morte foi realmente o acidente - ocorrido no dia 21 de fevereiro de 1989, na cidade mineira de Felixlândia. Há até aqueles que juram, de pés juntos, que Juarez está “vivinho da silva”, morando em outro país. 

- Mataram o Juarez - disse Wanildo de Carvalho, que assumiu a prefeitura após a morte dele.

Wanildo, evitando entrar em polêmica, preferiu não indicar os responsáveis pela morte. 

O sentimento de medo e a autocensura sobre o assunto em Volta Redonda ainda impera entre aqueles que ultrapassaram as cinco décadas de vida. 

Do livramento à crucificação 

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(Foto: Reprodução/Internet)
Juarez morreu num acidente de automóvel quando viajava  a Brasília, depois de 51 dias
que tomou posse na prefeitura
 

Mesmo sem a certeza do que aconteceu naquela madrugada de fevereiro de 1989 em Minas, como em todos os mistérios, teve o crucificado da história: o motorista que conduzia a Parati - GL plana AS 0717, ano 1987 - que sobreviveu ao acidente. Do livramento do acidente, ele tornou-se o principal suspeito de fazer parte da conspiração. Na época, a casa do simples servidor público foi apedrejada. Nesse caso, as pessoas não tiveram medo e nem autocensura. 

O motorista morou vários anos fora de Volta Redonda e voltou. Não só para a cidade, como também para a prefeitura. Ele ainda é motorista do governo municipal. A coluna “Visão Crítica”, por várias vezes nesta semana, tentou entrar em contato com ele, mas não obteve sucesso.

O depoimento do motorista à Justiça da época faz sentido. Ele alegou que estava cansado e perdeu o controle do veículo. Quem dirige sabe que viajar por mais de 620 quilômetros sem parar (distância entre Volta Redonda e Felixlândia) cansa, e muito - ainda mais de madrugada sem dormir. 

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O dia que antecedeu a morte
 

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(Foto: André Aquino)

Há até aqueles que juram, de pés juntos, que Juarez está “vivinho da silva”, morando em outro país 

Na segunda-feira - dia 20 de fevereiro de 1989, o dia que antecedeu a morte, foi agitado para Juarez, como é de todos os prefeitos. Ele participou de uma reunião sobre o aumento da passagem de ônibus na cidade. Mas o que mais o preocupava eram as acusações dos jornais sobre o seu apartamento funcional em Brasília. Ele estava sendo acusado de utilizá-lo, mesmo depois de deixar o cargo de deputado federal. Juarez fez questão de entregar as chaves pessoalmente, como conta Bartolomeu Citeli: 

- Ele tinha pressa, queria resolver o mais rápido possível. Mandou arrumar o carro para viajar a Brasília. A previsão era de sair de Volta Redonda às 5 horas da manhã. No entanto, o avisaram que o veículo estava pronto na noite do dia 20; então, Juarez decidiu antecipar a viagem - relembra Citeli, que iria viajar com o prefeito: 

- Pedi carona ao Juarez porque participaria de um curso sobre a desestatização em Brasília (no período já se falava da privatização da CSN). Na noite anterior me avisaram que Juarez já havia saído. 

Por que viajar de carro e não de avião? Bartolomeu respondeu: 

- Juarez havia assinado um decreto para que fossem feita várias economias na prefeitura. Então, ele resolveu ir de carro. Sairia mais barato. 

O que seria Juarez, caso estivesse vivo? Depois de um período pensando, Bartolomeu Citeli respondeu: 

- Seguiria na carreira política. Poderia chegar até governador pela sua popularidade. Se tivesse Juarez, não teríamos Pezão e nem Neto. Neto, inclusive, disputou uma eleição com Juarez e obteve apenas 4% dos votos. 

Juarez Antunes morreu rico?

- Claro que não. Ele morava de aluguel na Rua 40 (Vila Santa Cecília) quando era presidente do Sindicato e mudou-se para o bairro Limoeiro quando virou prefeito. Ele tinha um sítio em Estrela Dalva (cidade natal) que ele conquistou antes de sua popularidade - enfatizou Bartolomeu Citeli.

Acidente ou atentado, o que é certo é que Juarez morreu. E a mística sobre o nome dele pode continuar por alguns anos. Ou não...

Por André Aquino  –  aquino.andre@hotmail.com

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