Publicada em: 20/11/2015 (11:34:44)
Atualizada em: 24/11/2015 (07:26:54)
(Foto: Reprodução/Portal VR)
Hoje: Monumento destruído por terroristas foi reformado pela Prefeitura de Volta Redonda
Contido no fim do relatório, a Comissão da Verdade de Volta Redonda concluiu que dois bicheiros cariocas forneceram os explosivos para realizar o atentado no Memorial 9 de Novembro, na Praça Juarez, na Vila Santa Cecília. A explosão ocorreu no dia 2 de maio de 1989 - menos de 24 horas após a inauguração. O monumento, que foi projetado por Oscar Niemeyer, é uma homenagem aos três trabalhadores mortos (Walmir, Willian e Barroso) na Greve de 88.
A investigação do atentado é o último caso entre os 14 escolhidos pela comissão para serem investigados. O relatório, que durou dois anos para ser finalizado e divulgado neste mês na Câmara Municipal de Volta Redonda, afirma categoricamente: “Os explosivos eram dinamites de pedreira que foram obtidas através de bicheiros do Rio (Castor de Andrade) e da Baixada Fluminense (Anízio Abraão), pois havia uma aliança com as Forças Especiais dos Exércitos e a Polícia Federal para combater as quadrilhas e organizações de traficantes que ameaçavam a supremacia dos bicheiros”, afirma o documento, que teve como coordenador de pesquisa o historiador Edgar Bedê. A equipe de pesquisadores considera como um ato terrorista.
A participação do Exército já era conhecida pela população. Essa informação veio à tona quando o ex-capitão Delton de Melo de Franco denunciou o caso numa entrevista publicada “Jornal do Brasil” em março de 1999. Ele teria recebido a ordem para coordenar o atentado em Volta Redonda pelo general Álvaro de Souza Pinheiro.
Segundo o ex-capitão, o Exército considerou o Monumento uma afronta contra os militares e que se estava querendo criar mártires do movimento sindical. “A destruição do Monumento foi obra de uma missão de um comando do Batalhão das Forças Especiais”, afirma o documento, que tem 589 páginas.
A pergunta que não foi respondida pela Comissão da Verdade
(Foto: Arquivo/Sindicato dos Metalúrgicos)
Três bombas derrubaram o monumento projetado por Oscar Niemeyer
O mandante e o motivo do atentado foram respondidos. Mas quem executou? Essa pergunta a comissão não conseguiu responder. Segundo testemunhas, os autores do atentado terrorista foram três homens que chegaram dentro de um Fiat Uno por volta das 3 horas da madrugada.
“Um homem estava de vigia no Posto 9 de Abril (posto de gasolina próximo à praça), o segundo homem estaria varrendo a praça e o terceiro homem estava agachado, de bermudas e sem camisa, dentro do lago artificial perto do monumento”, afirma o relatório.
Essa cena foi vista por um casal que passava de carro na hora, vindo de uma viagem. Outra testemunha, um operário que não se apresentou à Polícia com medo de ser morto, mas fez contato com o Sindicato dos Metalúrgicos e afirmou ter visto homens na Praça Juarez Antunes e um Fiat Uno estacionado ao lado da praça. Conforme o relatório, foram utilizados quatro bombas, sendo que um falhou. Essa última foi "a assinatura do ato terrorista", conforme define o documento da Comissão da Verdade.
Soldado, testemunha chave, foi assassinado dias depois
De acordo com o documento da comissão, o soldado Charles Fabiano da Silva, com então 19 anos, foi assassinado dias depois do atentado. Ele era a principal testemunha da explosão. Isso porque, no dia ato terrorista, o militar estava de plantão numa “pequena vila” de sargentos próxima à praça e presenciou toda a cena.
Quando voltou a trabalhar, 23 dias depois, enquanto fazia uma ronda no mesmo local, o saldado e seu colega de farda foram abordados por dois homens armados com Uzi 9mm. O terceiro estava dirigindo um Uno Fiat (mesmo modelo visto no dia do atentado). Eles renderam os militares e mandaram que entregassem as armas. Charles Fabiano da Silva se recusou. Ele foi arrastado e executado na esquina da Rua 4, no Conforto. O militar foi enterrado como herói nacional. Não deu tempo para o soldado prestar esclarecimento na delegacia de Volta Redonda.
Construtoras se recusaram a construir
monumento e Niemeyer se recusou a reformá-lo
(Foto: Arquivo/Niemeyer)
Lembrança: Arquiteto se recusou a reformar o Memorial 9 de Novembro, em nome da história
Como medo de represália dos militares, as construtoras de Volta Redonda se recusaram a realizar as obras do monumento de Oscar Niemeyer, segundo conta o relatório. Desta forma, o Sindicato dos Metalúrgicos assumiu a empreitada com operários voluntários. Segundo o relatório, a obra custou na época 69 mil cruzados novos (o que daria R$ 7 mil hoje).
(Foto: Reprodução/Jornal do Brasil)
Caso ganhou repercussão nacional
O órgão sindical foi também o responsável pelo convite ao Oscar Niemeyer a projetar o monumento. Ele prontamente aceitou o convite. Em entrevista ao “Jornal do Brasil” na época, Niemeyer conta como recebeu o convite:
“Foi com o maior empenho que recebi do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda a incumbência de projetar esse monumento. Como ocorreu ao desenhar o monumento contra a tortura, procurei caracterizá-lo pela violência. Violência que durante anos pesou sobre o nosso país e agora se repetia com a morte de três bravos trabalhadores, naquele revoltante episódio de 9 de novembro de 1988”.
Após atentado, Oscar Niemeyer foi procurado pelo Sindicato dos Metalúrgicos para saber se o arquiteto aprovaria a reconstrução do monumento. Ele recusou. Motivo: para a população de Volta Redonda jamais esquecer do atentado. E não esquecerá, Niemeyer!