(Foto Ilustrativa)
Meu velho e bom desejo de sempre:
que tenham todos um ano Novo de amor!
Escrevo na manhã do dia 31 de dezembro de 2012. Hoje é para mim um encontro de caminhos, um desencontro de tantos outros. Quando me propus a escrever sobre arte e cultura nunca tive o intuito de levantar questões muito profundas para mudar o mundo ou fazer tantas polêmicas, se não apenas compartilhar partes da minha vida que está basicamente imersa nesse universo da arte e da cultura. Fazendo um retrospecto do ano, e não há como não fazê-lo, posso dizer que entrarei em 2013 um pouco melhor do que 2012. O que quero dizer? Quero dizer sobre o velho e o novo.
Em um âmbito muito pessoal, entrei em maio numa casa com 103 anos de história, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Deixei alguns textos aqui sobre alguns momentos que aconteceram lá dentro. Mas o que mais me impressiona é o fato de uma casa como aquela ainda ter vícios, e em vários aspectos. Desde a gestão, que está posta sobre uma engrenagem que é movida por um estatuto, uma associação e contratos firmados, além é claro daqueles que nunca firmam contratos e ficam trabalhando por conta das produções externas. Vícios também são encontrados no palco, uma dezena de trabalhadores técnicos realizam seu trabalho ali como se ali fosse apenas o único lugar do mundo onde se fizessem as coisas certas. São profissionais muito competentes, mas não estão nenhum pouco abertos às novas técnicas do mercado e este mercado é enorme.
O novo TM foi todo reformado e está parcialmente automatizado, seu sistema de operação, tanto das velhas varas de cenário, quanto das novas pontes móveis do palco, é por um novo sistema holandês que controla tudo. Quando funciona, é uma maravilha. Estamos falando sobre o velho, o Municipal tem em seu corpo artístico os mesmos vícios de fazerem há décadas as mesmíssimas coisas que sempre fizeram, tanto coro, ballet e orquestra. Seus repertórios, as aulas, as demandas, a escola de dança. Enfim, em 2012 conheci o velho e aprendi muito com ele.
Agora entre o velho e o novo
No início deste dezembro, fui dispensado porque não havia dinheiro para me pagarem. Fiquei com três meses de salários atrasados e preferiram não acumularem mais dívidas. Daí começa um ano novo, uma vida nova, entra em cena o espaço novíssimo da Cidade das Artes, antiga Cidade da Música, localizada na Barra da Tijuca, bairro que também é novo. O palco da CDA é o maior da América Latina, isso falando do palco da Grande Sala, sem pensarmos na CDA como um complexo, com três salas de cinema, uma sala de concerto de câmara, outras três de ensaio de coro, orquestra e dança, outras tantas salas de ensaio, bibliotecas, cafés, e muita, muita área livre para circulação e apreciação da vista.
Para termos uma ideia, o primeiro espetáculo (fora o teatrinho de inauguração feito por Cezar Maia há quatro anos com a OSB), foi realizado ontem. Exatamente, ontem, dia 30 de dezembro, foi realizado um ensaio aberto para cerca de 800 convidados privilegiados para assistirem a um musical “genuinamente” brasileiro, quando digo genuinamente é porque pela primeira vez a Aventura Produções foge das cópias dos grandes espetáculos da Brodway.
Sobre ontem vale dizer sobre o novo. Tudo tão novo que precisa ser entendido com bastante calma. A Grande Sala da CDA é totalmente automatizada. Seu teto, as varas de cenário, de luz, o fosso, as arquibancadas móveis (que são prédios de seis andares), tudo se move por meio de softwares e circuitos. Ou na verdade deveria se mover, pois o sistema ainda não foi totalmente instalado, o que nos faz operar um musical de grande porte (12 milhões de reais, ou seja, a produção mais cara da história do Rio de Janeiro), com botõezinhos de sobe e desce, antes tivéssemos maquinistas prestes a se aposentarem lá em cima na varanda.
Sobre ontem, o dia foi intenso, um cenário gigantesco que nunca fica pronto, e ainda não está, penou para se alinhar e quando alinhado, afinado, há duas horas do início da premier duas varas de cenário engastalham e empenam uma barra de ferro de 25 metros, daí vão 1h30 e 15 homens para refazer tudo. Durante a apresentação um refletor fecha curto e a plateia grita “fogo”, mas nada desesperador. Porém, nada disso apagou a grandeza dessa nova grande obra, tanto do musical quanto do espaço.
O velho e o novo se encontram e se confundem
Na grade da verdade penso que o Novo só existe enquanto não existe. Pois se o novo passar a ser inaugurado, desbravado, mostrado, deixa de ser novo a partir do momento em que se tem conhecimento daquilo. Uma ideia é nova até o momento em que ela é posta no universo, pois a partir daí ela deixa de ser nova para ser mais uma ideia que ficará posta na prateleira envelhecendo. O novo só existe no momento em que nasce, que se mostra. O novo só é novo no agora. O depois, o antes sempre será o lugar do velho. O novo está no amanhã, no novo ano que vem. O velho está guardado no ontem, no ano que passou.
O velho governo de Barra Mansa que não terminou a nova Sala de Espetáculos Tulhas do Café. O velho Ministério da Cultura de Ana de Holanda e o novo Ministério de Marta Suplicy. A velha Volta Redonda com sua nova Lei Orgânica Municipal. O velho governo de Volta Redonda com seu “novo” modo de governar. O velho site de jornalismo daquela tal editora e o novo jornal eletrônico independente. O velho grupo de teatro que move o novo grupo de teatro só com a molecada. A morte do velho mundo e o nascimento de um novo mundo. O ano de 2012 foi um intenso e fabuloso choque entre o velho e o novo universo. Já estamos em uma nova era de conhecer novos espaços, de nos "espacializar" como desbravadores de novas terras, de novos conceitos, de novos velhos amores.
Meu velho e bom desejo de sempre: que tenham todos um ano Novo de amor!