Publicidade

RH

Listinha Amiga

Mulheres que falam de luta em forma de poesia

Confira as obras que transformam lutas em possibilidades de sorrir e se orgulhar, no especial "Mulheres que me Representam"

Livros  –  02/04/2013 20:47

O mês dedicado a elas já passou, nem por isso deixo de publicar a minha listinha amiga com os livros de mulheres que falam de luta em forma de poesia. Mais: transformam lutas em possibilidades de sorrir e se orgulhar. É o especial "Mulheres que me Representam". Confira: 

> "Guerreias da paz". De Leymah Gbowee. 

1

 (Fotos: Divulgação)

Dica da amiga querida, feminista até debaixo da água, professora de história especialista em história do Brasil, formada pela UFF (Universidade Federal Fluminense), Fran Lelis. Nos indicou um livro incrível de Leymah Gbowee que está entre as ganhadoras do prêmio Nobel da Paz de 2011. "Guerreiras da paz" é uma narrativa forte e não chega nem perto do exagero em sua carga dramática. O livro nos conta como é possível e de que modo as mulheres superaram a violência, a destruição e a dificuldade causada pela guerra civil da Libéria, África, que durou de 1989 a 2003.

Leymah numa força encantadora e surpreendente, reuniu e liderou algumas mulheres de todo o país num ato lindo, calmo e ao mesmo tempo forte e indestrutível. A força que essas mulheres deveriam estar sentindo nesse momento, num país cheio de machismo e de falso moralismo, é indescritível e me arrepia a alma. Sentaram-se num campo de futebol na capital Liberiana, Monróvia, por onde passava a população inteira, inclusive o presidente Charles Taylor. Vestidas de branco, exibiam faixas onde pediam paz e assim chamaram a atenção do mundo, também de conscientizar os maridos por meio de uma greve de sexo. 

Em conversações de paz organizadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2003, em Gana, delegados de todos os países discutiam como resolver a guerra civil liberiana e foi a força estampada dessas mulheres que acabou impulsionando o acordo, depondo Taylor e colocando fim ao conflito. Leymah mostrou o caminho pela qual trilhou essas mulheres até chegar a vitória de se poder ter paz. E ao leitor ter a oportunidade de ler esse livro e parar no meio do caminho é transgredir na história, um suicídio no meio da história não é opção. Frase de Leymah Gbowee: "A dinâmica do mundo mudaria se mais mulheres estivessem no poder". 

. Ano: 2012 . Autor: Leymah Gbowee . Editora: Companhia das Letras . Páginas: 288 . Valor: R$ 38,50 

> "A resposta". De Kathryn Stockett. 

2

Senhorita Skeeter no ano de 1960 na cidade de Jackson no Mississipi, em plena alta da segregação do desprezo racial entre brancos e negros, foi quem mudou de forma radical, irônica e com um senso de humor que ultrapassava sua época. O livro "A resposta" foi escrito por ela junto de duas empregadas domésticas, Aibileen e Miny Jackson. As histórias contam como essas mulheres abandonavam suas casas para servir a toda uma família que as tinham como um tipo de escrava, achando que um salário e o fato de a "aturarem" em sua residência era um favor para aquelas mulheres. Mulheres negras que cuidavam de crianças brancas, que mais tarde as desprezariam. Senhorita Skeeter consegue dar um tapa de luvas em toda uma cidade. Miny, uma das empregadas, é a imagem da mulher que não leva desafora para casa. 

Naquela época tudo era separado entre negros e brancos, como escadas, bebedouros, banheiros e cadeiras. Quando num dia um tornado passa pela cidade, Miny sente vontade de ir ao banheiro, mas não pode porque a "casinha" era no jardim. Então, usa sem permissão o banheiro da casa dos brancos, e é despedida. No outro dia volta com uma torta. Pede desculpas para sua ex-patroa Hilly e diz uma frase tão hilária que eu chorei de rir e fiquei orgulhosa dessa mulher. Com um olhar superior e desafiador. Hilly já pensa em desculpar a empregada quando ela diz que não está pedindo para voltar e acrescenta algo mais que, por favor, leiam o livro ou assistam ao filme, não vou tirar o prazer da gargalhada que vocês terão nessa cena. Aibileen é mais séria, reservada e guarda a dor da perda contigo, perdeu o filho, o rumo os sonhos e a vontade de continuar. Cuidava de Mae Mobley, a 17° criança a ser cuidada carinhosamente por suas mãos delicadas. 

O livro é um abraço apertado entre todas as raças, a prova de que desde sempre houve e há pessoas que lutam pelos direitos ao respeito entre todos. O filme no Brasil se chama "Historias cruzadas" e aviso logo: você vai amar os personagens, vai rir tão inocentemente que vai se emocionar e, no fim, vai sentir falta de todos eles. 

. Ano: 2012 . Autor: Kathryn Stockett . Editora: Bertrand Brasil . Páginas: 574 

> Toda mulher é meio Leila Diniz. De Mirian Goldenberg. 

3

Leila defende a liberdade e isso já abrange uma maré de pessoas, homens e mulheres. Todo forma mais crítica de seus pensamentos não poderia questionar a liberdade sugerida por ela. A opção de uma mulher grávida ir de biquíni à praia ou de uma gordinha querer fazer o mesmo - uma magra que use maiô. Uma mulher que possa escolher com quem vai dormir e acordar e a liberdade de um homem fazer o mesmo, escolher o pai ou a mãe de seu filho, sem ter de seguir a regra da sociedade de se casar. A liberdade de casar virgem ou não, de um homem optar por essa escolha. Mulheres que queriam outras mulheres e homens que queiram homens implicaram de forma irônica sobre querer o sexo a três ou não. E se quisessem? 

Foi dessa forma que ela contribuiu com poucas palavras e muita presença de que nada é proibido, mas também nada é obrigatório. Leila foi outra mulher que revolucionou os costumes da década de 1960. Ela é apontada hoje como uma representante viva nas lutas feministas no Brasil, expondo uma realidade de que já existiam vontades e pensamentos que eram reprimidos e condenados pela sociedade. Leila apresentou-se uma mulher forte que não deixou-se sufocar pelos paradigmas impostos, exclamou mundos sobre seu comportamento e ideias a respeito da liberdade sexual, ao recusar os modelos tradicionais de casamento e família e de contestar a lógica da dominação masculina. É a clássica mulher que não consegue fechar as pernas para sentar com saia, e pra que fecharia? Frase de Miriam Goldenberg: "Não importa a cor do cabelo, o estilo das roupas, muito menos a cor. Isso não define caráter".
Frase de Leila Diniz: "A mulher brasileira deveria ir menos ao psicanalista e mais ao ginecologista".
 

. Ano: 2008 . Autor: Mirian Goldenberg . Editora: Record . Preço: R$ 14,90 . Páginas: 280 

> "O segundo sexo". De Simone de Beauvoir. 

4

Considerado a Bíblia da luta feminista, a obra de Simone Beauvoir publicada em 1949 escandaliza a sociedade. Simone traz à tona um conjunto de ideias fruto de pesquisas, experiências e estudos que exprimem uma luta contra a discriminação que aflige a mulher. O livro trata de assuntos históricos, filosóficos, econômicos e sociais e, sobretudo, biológicos. Ela defende a ideia de que a liberdade não deve ser concebida como a liberdade de uns contra outros, mas sim a liberdade de todos, entendia a liberdade como um compromisso, com o outro e consigo mesmo. 

Em uma frase declarou: "Eu existo fora de mim, e por toda parte do mundo não há uma polegada sequer de meu caminho que não se insinue num caminho alheio". A sua abordagem crítica filosófica a colocou à frente das mulheres de sua época e é justamente por isso que seria um erro pensar que suas obras estão ultrapassadas. Simone não gostava do rótulo "feminista", mas influenciou e influencia ainda hoje de forma significativa as discussões e os estudos sobre esse momento. O livro é raro, pouco achado em sebos ou livrarias. No Brasil foi publicado com o título "Fatos e mitos" sendo o primeiro e o segundo "Experiência vivida". Frase de Simone de Beauvoir: "Não são as pessoas que são responsáveis pelo fracasso do casamento, é a própria instituição, que é pervertida desde a origem". 

. Ano: 1949 . Autor: Simone de Beauvoir . Editora: Círculo do Livro e Nova Fronteira . Preço: Sebos online variação de R$ 150 a R$ 300 . Páginas: 309/500 

> "O feminismo tático de Bertha Lutz". De Rachel Soihet. 

5

O desenvolvimento do cérebro de uma mulher poderia causar a atrofia de seu útero. Bertha correu o risco e corria mundos para conquistar mais mentes e corações para sua luta feminista. Nasceu em São Paulo em 1894, formou-se em ciências naturais na Universidade de Paris. Em 1919 começou a busca pela igualdade de direitos jurídicos entre os sexos. Tornou-se, apesar de toda a confusão e aceitação de sua época, secretária do Museu do Rio de Janeiro, representou o Brasil na Liga das Mulheres Eleitoras. Fundou a federação para o progresso feminino, iniciando a luta pelo direito do voto para as mulheres. 

Bertha foi forte e representou as mulheres de sua época e que até hoje nos influencia, foi por conta de sua guerra contra a sociedade ignorante de sua época que hoje nós mulheres podemos exercer o direito ao voto, mesmo que só depois de dez anos na presidência de Getúlio Vargas o voto feminino é aceito e decretado lei. Em 1936 se tornou deputada na Câmara Federal, defendeu então a mudança da legislação referente ao trabalho da mulher e menores de idade, propondo a igualdade salarial, licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho até então de 13 horas. Morreu no Rio de Janeiro aos 82, em 1976. É referência viva da força e da luta que nós mulheres passamos no passado e ainda hoje, numa sociedade considerada por tantos tão humanitários, igualitária e evoluída existem ainda mulheres que se espelham em Bertha para lutar e reivindicar seus direitos. Frase de Bertha Lutz: "Recusar à mulher a igualdade de direitos em virtude do sexo é negar justiça à metade da população". 

. Ano: 2006 . Autor: Rachel Soihet . Editora: Editora Mulheres . Preço: R$ 29,90 . Páginas: 302 

> "A mística feminina". De Betty Friedan. 

6

Publicado em 1963 tornando-se um dos mais importantes livros do século XX. É o fruto de anos de pesquisa da autora, são entrevistas de mulheres que seguiam os preceitos dos anos de 1940 e 50, onde suas funções se restringiam a ser donas de casa. O nome já diz a imagem que se criou da mulher: uma mística após a crise de 1929 e a mobilização para a segunda Guerra Mundial. A imagem que se criou da mulher foi a de mãe e esposa zelosa. As meninas, desde a infância, eram estimuladas a se centrarem a crescer como boas esposas, donas de lar e ter uma linda cozinha. 

Com o tempo as mulheres passaram a se sentir frustradas e desenvolviam diversos distúrbios psicológicos que oscilavam da depressão ao consumismo. A frustração feminina de apenas viver para os outros era canalizada para aumentar o consumo, foi possível concluir que dessa forma as desigualdades de tratamento entre as mulheres e homens era usada para justificar uma obrigação da mulher e sua dedicação para com seu lar e família. 

. Ano: 1963 . Autor: Betty Friedan . Editora: Vozes Limitadas . Preço: R$ 40 . Páginas: 243 

> "Orgulho e preconceito". De Jane Austen. 

7

É um dos meus livros favoritos, amo a doçura e a impetuosidade de Elizabeth Bennet, com 20 anos. Elizabeth é uma das cinco filhas de um espirituoso senhor. Ela é a nova heroína de sua época, defende que não precisa usar seus estereótipos femininos e um bom comportamento para conquistar o nobre Filzwilliam Darcy ou o Senhor Darcy, como eu gosto de chamar quando penso na minha figura de homem charmoso. Todos os livros de Jane são de mulheres com características próprias e únicas, com personalidades fortíssimas num enredo que foge do romantismo de sua época. 

O livro não é chato, igual muitos especulam, não é um romance de banca, daqueles melosos e com cheiro de chiclete. Eu sempre torci o nariz para esse tipo de gênero. No livro eu gosto mesmo é da personagem, da sua revolta, de suas irmãs, da confusão das leis de sua época, dos bailes aonde se ia para encontrar um marido rico. Numa época de casamentos arranjados, ter em um amor e poder se casar com ele é coisa rara. Não sou romântica, mas isso me deixa muito ansiosa para o fim da história. E Jane chega para revolucionar essas histórias com argumentos incríveis para tudo, é uma das minhas personagens favoritas. Frase de Jane Austen: "Não quero que as pessoas sejam muito gentis; pois tal poupa-me o trabalho de gostar muito delas".

. Ano: 1813 . Autor: Jane Austen . Editora: Martin Claret . Preço: R$ 35 . Páginas: 392 

> "Gordura é uma questão feminista". De Susie Orbach. 

8

Como é ser gorda na sociedade atual? Bem, o atualmente de Susie foi outro, o ano era 1978, mas se ela me perguntasse isso hoje eu diria com certeza que as coisas não mudaram muito. Infelizmente a nova moda é ser magra e está durando bastante a moda plus size. Já existe no EUA desde a década passada, mas no Brasil, o país no biquíni, ser gorda é ofensa à praia. Sinceramente isso não me importa, apesar dos meus quilos a mais, minha saúde vai ótima, me relaciono com o sexo oposto e sou assediada na rua como as outras mulheres, alguns homens têm fetiches sexuais com mulheres gordinhas, como assim dizem, o preconceito vem das mentes pequenas, que conseguem ser manipuladas pela opinião podre da mídia. E Susie nos fala de sua perspectiva feminista, analisando a opinião de outras mulheres, ela fala sobre a compulsão pela comida e destrói literalmente as falsas ideias pré-concebidas de que a mulher gorda é gorda porque não tem autocontrole e força de vontade para emagrecer. 

A ironia de 1978 que ainda é ironia hoje são os programas sensacionalistas de TV, com o tema bulimia ou anorexia, e numa próxima vem com a seguinte matéria: "As atrizes que estão acima do peso" ou "Como tirar a celulite", para limpar a visão de quem não consegue enxergar que a mídia nos impulsiona para uma realidade criada. Folheei uma revista feminina, cheia de mulheres magras com roupas bonitas e fazem as mulheres pensarem que têm de ser magra para ser bonita e magra e bonita para usar a roupa tal. Susie fala com seriedade de mulheres complexadas que têm suas mortes causadas por distúrbios alimentares como bulimia e anorexia. Estereotipam as mulheres, transformando-as em mercadoria de propaganda, que, para mim, pode ser também propaganda para ferrar a mente. 

Susie diz que por causa dessa imposição da moda e mídia que as mulheres ainda hoje são apenas vistas pelos homens como objetos, como o sexo frágil, como a mulher que luta pela forma certa para se enquadrar na sociedade, como se sendo gorda não seríamos aceitas pela sociedade. O livro é incrível e muda completamente nossa visão do que é ser e não ter de ser e te levanta a autoestima e confiança. Não, não é uma revista feminina. Frase de Susie Orbach: "O feminismo demonstra que ser gorda representa uma tentativa de romper com os estereótipos sexuais da sociedade. Assim, podemos entender o ato de engordar como algo preciso e intencional; é um desafio dirigido, consciente ou inconscientemente, à estereotipagem de papéis sexuais e a vivências de feminilidade culturalmente definidas". 

. Ano: 1978/Brasil 1980 . Autor: Susie Orbach . Editora: Records . Preço: R$ 40 . Páginas: 176 

> "O mito da beleza - Como as imagens
são usadas contra as mulheres". De Naomi Wolf.
 

9

Publicado no Brasil em 1992, hoje um pouco difícil de ser encontrado, mas está disponível na internet. O texto é válido e atual, a luta é a favor da mulher, de ser o que quiser ser e não seguir tendências de certo e errado que controlam a sociedade feminina, instituídos pela Revolução Industrial. O mito da beleza não deixa a mulher vencer seu dilema com o espelho porque não reflete as imagens de mulher sexualmente atraente, o rosto da mulher da revista, o corpo subjugado como o corpo certo, o que são hoje novos símbolos sagrados, se converteu a boa e autoestima a uma hipocrisia e um falso moralismo que mata. Frase de Naomi Wolf: "Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens de beleza feminina como a política contra a evolução da mulher". 

. Ano: 1992 . Autor: Naomi Wolf . Editora: Rocco . Preço: R$ 50 . Páginas: 193

Por Elisa Marques  –  nataliasouzamarques@outlook.com

2 Comentários

×

×

×

  • Fran

    Que lista incrível! Que tod@s leiam pelo menos um dessa lista.

  • Roberto Varela

    O da Simone de Beuvoir é fantástico... Pena que ele ainda é muito moderno para as mulheres que cismam em acreditar na instituição família...