(Fotos: Divulgação)
Em inglês: Obra é
sucesso em vários países
"Hoje eu sou Alice", de Alice Jamieson, conta a história de uma menina que desde os seis meses de vida é abusada pelo pai e esquecida pela mãe, não entende que as vozes que escuta são nove personalidades alternativas que vivem na confusão de tudo que foi criado por estupros, violência doméstica e o abandono familiar. O livro não é recomendado para pessoas que já passaram por situações parecidas ou não conseguem lidar com essa questão. As cenas são fortes e causam ânsia e repulsa, o que move o leitor a chegar ao fim do livro é a raiva que se estende aos longos das páginas. Clama-se por justiça.
O livro não é apelativo em sentido algum. Um dos transtornos mentais que tomam conta de Alice é o TPB (Transtorno de Personalidade Boderline ou Limítrofe). A doença, hoje, é muito conhecida, quando se trata de pessoas que se auto mutilam, declarando não conseguir controlar o que acontece ao seu redor, só consegue isso, quando num ato controverso perde o controle e se corta - pulsos, braços e coxas. Um caso famoso é o da cantora Selena Gomez, que venceu a doença com a ajuda de anti-psicóticos.
Um mundo perturbador
O livro não é uma sátira do mundo criado por Lewis Carroll (autor de "Alice no País das Maravilhas"). O mundo de Alice é perturbador, a toca do coelho é bem mais profunda, leva o leitor a uma viagem vertiginosa. É indicado para pessoas que gostam de um tema polêmico, de um livro que prende a atenção pelo bom e velho conteúdo. Nos vários trechos da personagem, ainda é possível encontrar inocência e por diversas vezes tiradas inteligentes. A história instiga e lhe força o sentimento de compaixão e compreensão, a autora nos deixa a par de doenças comuns, mas pouco divulgadas, como é o Transtorno Dissociativo de Identidade.
O livro também aborda o uso exagerado de remédios, drogas, prostituição e anorexia. A vontade da autora é poder ajudar outras pessoas, mostrando seu caso como exemplo de tudo que houve, mesmo com toda atrocidade das cenas de pedofilia, e diz que se ajudar apenas uma pessoa estará feliz.
Denunciando o agressor
A questão literária do livro quase não existe, a autora exorciza muito bem os momentos vivenciados. O valor da obra está no registro da autora, na história disseminada para ajudar os outros, no controle das personalidades (JJ, Shirley, Kato, Professor, Jimbo…), nas tentativas de suicídio, na guerra de amor e sexo na vida adulta. Alice percebe que nunca poderá abandonar e esquecer tudo que aconteceu, e encontra a solução escarrando um problema pessoal dela, mas que aflige diversas pessoas. Alice consegue o que quer, nos mostra a verdade, e instiga outras pessoas que sofrem o mesmo ou algum tipo de abuso não mais se sentirem só, e resolver denunciar seu agressor.
Não se consegue parar de ler o livro até que saibamos que Alice está bem.
Trecho do livro
"(...) Ao longo de toda a minha infância, sofri abuso sexual, físico e emocional, e não contei a ninguém. Este livro descreve como na infância desenvolvi mecanismos para lidar com o abuso e como agora, adulta, tenho lutado para levar uma vida normal em meio a períodos de psicose, crises nervosas, vício em drogas e automutilação. Não me desculparei pela linguagem chocante em alguns trechos e pelas verdades indigestas que precisam ser contadas. O abuso infantil é algo inimaginável para os que não foram vítimas dele, ao passo que é o inferno para os que sofrem diariamente com o sentimento da vergonha e à noite são tomados pelo medo de que a porta seja aberta e que o homem - quase sempre é um homem - entre em seu quarto. Na maioria das vezes, o abuso se dá em casa e geralmente envolve parentes próximos - pais, irmãos etc.”. Página 13
> Frente & Verso
. Título: Hoje eu sou Alice
. Autor: Alice Jamieson
. Páginas: 336
. Editora: Larousse do Brasil
. Ano: 2010
. Preço médio: R$ 22,40