Todo trabalho honesto vale a pena para chegar ao topo da carreira empresarial. Acertos e erros fazem parte da caminhada para o sucesso. E o resultado vai muito além do acúmulo de bens materiais. Na verdade, a vitória é quando o propósito de vida é deixar um legado para as futuras gerações.
Essa é a essência do livro “Uma vida de lutas que vale a pena”, uma autobiografia do empresário Mauro de Oliveira Pereira, o Sr. Mauro, de 85 anos. A obra foi lançada em 5 de julho, no Bosque da Lua, no Laranjal, em Volta Redonda, com a presença de amigos, familiares e admiradores. O livro foi organizado pelo professor Rogério da Silva Tjäder, em cima de relatos do personagem.
A história do Sr. Mauro se confunde com a de Volta Redonda e é ainda uma aula de empreendedorismo. E, claro, a obra tem uma pitada de humor refinado dos casos vividos pelo personagem. O exemplar poderá ser encontrado na Livraria Veredas. O valor será simbólico e toda a arrecadação será revertida para instituições de caridade.
Amor ao ruralismo e senso de justiça
Desde a infância, Sr. Mauro demonstrou sua paixão ao ruralismo nas fazenda Nova Granja, em Ibertioga (MG), e Volta Redonda. Ambas de propriedade dos seus pais, Sr. Crispim Assis Pereira e dona Amália Fonseca. A aquisição das terras de Volta Redonda ocorreu na década de 30. A sede era o antigo restaurante Casarão, no Jardim Amália I. Lá, nos primeiros anos de vida, Sr. Mauro morou com seus pais e seu irmão mais velho, Itamar de Assis Pereira.
No meio dos gados e das vastas pastagens, ele se revelou um grande empreendedor. Começou a comandar a fazenda de Ibertioga após a morte de seu pai, em 1952, e o irmão, os negócios em Volta Redonda. Como um bom discípulo do pai, o sucesso era certo. E foi questão de tempo.
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O senso de justiça e a liderança também são características fortes da personalidade do Sr. Mauro. Ele criou, em Barbacena, o Sindicato Rural - uma voz ativa dos produtores da região, que muitas vezes eram injustiçados pelos governos.
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A sua atuação no sindicato gerou um mal estar com o governo militar durante a inauguração da 1ª Feira Agropecuária de Barbacena. Na presença das autoridades militares, Mauro fez duras críticas à política econômica praticada pela União aos produtores. E recebeu retaliações. Com a intervenção de um padre da cidade mineira, o Sr. Mauro não foi preso. No entanto, chegou a ser levado, meses depois, para o Batalhão Militar, em Juiz de Fora.
Outro exemplo do seu senso de justiça foi a criação da Cooperativa de Leite de Ibertioga, uma resposta a um empresário da região que pagava um preço ínfimo aos produtores de leite. Seu trabalho na cooperativa foi uma vitrine para a ascensão: o convidaram para fazer parte da diretoria da Itambé, uma cooperativa de Belo Horizonte.
Incansável pela busca de novidades, depois de uma temporada na Europa, representando a Itambé, Sr. Mauro trouxe ao Brasil produtos que até hoje fazem parte da geladeira da população: manteiga embalada e leite em saquinhos. O seu empenho chamou atenção de grandes empresários mundiais do setor. O Sr. Mauro foi convidado pela Parmalat para ser o representante da marca na América Latina. No entanto, recusou o convite por lealdade aos cooperativados da Itambé. Depois de 15 anos, deixou a diretoria da cooperativa de Belo Horizonte e foi morar uma temporada no Rio de Janeiro, dedicando à família.
Família, o maior patrimônio
Quem pensa que a vida dedicada aos negócios é um entrave para os bons relacionamentos familiares, está enganado. Ele consegue aliar, até hoje, a agenda apertada de um empresário bem sucedido com os compromissos familiares. Isso é testificado pelo seu casamento. Neste ano, dona Maria Tereza e Sr. Mauro completam 61 anos de casados que geraram cinco filhos, 13 netos e dois bisnetos.
- Maria Tereza foi, é e será sempre a mulher da minha vida - crava ele, com os olhos brilhando.
Cansado da rotina da capital carioca, o casal decide retornar a Volta Redonda, entrando no ramo imobiliário - o mesmo do seu irmão Itamar. A família Pereira criou bairros como Jardim Amália I e II (uma homenagem à mãe, dona Amália), Jardim Normandia (que seria Jardim Amália III), Jardim Belvedere, Samoa, Cidade Nova, Village Sul I e II, Recanto da Lagoa e Loteamento Mirante do Vale e Ipê Amarelo.
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O Sr. Mauro decidiu criar o Portal da Saudade, inspirado no Cemitério de Cherbourg, região litorânea da França, que conhecera anos antes.
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Mauro sentiu na alma a pior dor que um ser humano por ter: a perda de um filho. Marcelo, aos 33 anos, teve a sua vida interrompida num acidente de automóvel, no ano de 1990. O fato ocorreu próximo à cidade Barbacena, em Minas Gerais. Inconformado com a burocracia do enterro, más condições de cemitérios públicos e translado do corpo, com então 60 anos, Sr. Mauro decidiu criar o Portal da Saudade, que completou 25 anos em 2016 e têm mais de 13 mil corpos de pessoas enterradas.
- Criei o cemitério para que os moradores de Volta Redonda não passem pela mesma dificuldade que tive num momento tão triste de minha vida - conta.
Aos 85 anos, com uma vitalidade juvenil, ele não para. Nem passa pela cabeça aposentar.
- Eu não quero morrer - disse, ao responder sobre uma possível “pendurada de chuteira”.
Ele lançou neste ano o primeiro crematório da região sul fluminense, que está funcionando há dois meses. E mais: o próximo projeto é a criação de uma creche voltada para a terceira idade, substituindo os asilos. Ele explica:
- Os filhos deixarão os pais na creche e, no final do dia, buscarão. E durante a permanência dos idosos na entidade, eles participariam de diversas atividades.
Sua próxima meta é criação de um instituto voltado ao social. Alguém duvida que ele alcançará o próximo objetivo?