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Vida Hostil, Dura e Perigosa

Homens do mar são homenageados em livro de Alves dos Santos

Ficção - O Arrais - envolve o leitor, transportando-o para a vida das personagens, numa transparência íntima e em ambientes de céu e luz que se vão alterando passo a passo como se fosse o balanço do mar

Livros  –  06/12/2017 11:31

Publicada: 28/11/2017 (11:37:37) . Atualizada: 06/12/2017 (11:31:22)

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(Fotos: Divulgação)     

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"Os arrais são homens donos de uma grande dose de coragem e loucura que os tornam capazes de, mesmo perante um mar revolto, se enfiar por ele em embarcações que comparativamente à dimensão dos oceanos mais não parecem que diminutas cascas de nozes"

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O mar é uma outra coisa, não se vive nele com pressa nem se sobrevive a ele com medo. E ninguém sabe isso melhor que os homens do mar, que navegam por águas tantas vezes revoltas sem saber se de lá saem incólumes ou se esses mesmos mares serão, afinal, a sua derradeira morada. A vida no mar é hostil, dura e perigosa. Ainda assim esses bravos homens, quando obrigados a ficar em terra, sentem-se como peixes fora d´água. Aquela vida entranha-se pela sua pele, e parece que deixam de saber viver quando não estão na faina. É vê-los fitando o mar com olhares perdidos. E que coragem e loucura levam um homem a, perante um mar revolto, se enfiar por ele adentro em embarcações que comparativamente à dimensão dos oceanos mais não parecem que diminutas cascas de nozes?

“O Arrais” é uma história ficcionada, mas ainda assim tão rente da realidade cotidiana desses homens e com descrições contemplativas de beleza e harmonia, que permite encontrar poesia onde antes, por mais insistentes olhares que deitássemos a essas vidas, víamos apenas aspereza e agruras. A escrita de Alves dos Santos neste “O Arrais” envolve o leitor, transportando-o para a vida das personagens, numa transparência íntima e em ambientes de céu e luz que se vão alterando passo a passo como se fosse o balanço do mar. Esse livro é também, claramente, uma sentida homenagem do autor a todos os homens do mar e em particular aos de Machico, a sua terra. 

Confira a entrevista com Alves dos Santos 

Conte-nos, quem é “O Arrais”?

Arrais é um termo que veio a cair em desuso, mas que se refere aos capitães ou mestres de embarcações de pesca. É um termo ainda usado em certas zonas piscatórias do mundo lusófono, e em particular na “minha” Ilha da Madeira. Os arrais são homens donos de uma grande dose de coragem e loucura que os tornam capazes de, mesmo perante um mar revolto, se enfiar por ele em embarcações que comparativamente à dimensão dos oceanos mais não parecem que diminutas cascas de nozes. 

Como surgiu inspiração para a escrita de seu livro “O Arrais”?

Devido a ligações familiares, cresci muito perto destes lobos do mar e fui ouvindo suas extraordinárias histórias, nas quais relatavam os mais diversos episódios que vivenciavam em mar e terra: desde a luta por vezes mortal com os oceanos, às dificuldades de viver da arte da pesca sempre tão dependente da imprevisibilidade da natureza. “O Arrais” é uma história ficcionada, mas estou convicto de que ter crescido ouvindo estas suas lutas diárias serviu como inspiração e motivação para criar este meu novo livro. 

Descreva os principais personagens que compõem a obra.

A personagem principal desta obra, como julgo que se adivinha pelo próprio título, é um arrais, que tem a particularidade de não ser conhecido em momento algum do livro pelo seu nome próprio. E isto foi propositado, porque por meio dessa personagem, que no fundo encarna um pouco de todos os arrais, quis homenagear todos os homens do mar que tive a honra de conhecer. E é em torno deste arrais e das suas aventuras e desventuras que esta obra conduz os leitores numa viagem com destino marcado sem que, no entanto, se conheça a rota. Como julgo que foi muito bem sintetizado pelo meu grande amigo e escritor Tristão de Andrade no prefácio deste meu novo livro, que ele gentilmente acedeu a escrever, “manifestamente estamos perante as emoções da partida, da viagem, mas sobretudo da chegada, e sempre com uma única questão de fundo: qual é, afinal, o nosso lugar?”.

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"A escrita deste livro implicou extensa pesquisa e foram várias as descobertas e revelações que resultaram deste trabalho. Talvez o que mais tenha chamado a minha atenção tenha sido a forma como muitos desses pescadores, que pareciam quase nômades, levaram a sua arte piscatória um pouco por todo o mundo lusófono e até para além dele".

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Quais os principais desafios para a escrita do enredo que compõe a obra?

A escrita é algo que me fascina, e confesso a minha própria surpresa com o jeito como foi ganhando forma este meu novo livro. De uma forma metafórica poderia dizer-se que jorrou do meu mais profundo âmago. Tinha naturalmente algumas ideias base, mas durante o processo de escrita eu próprio fui levado pelo enredo e dei comigo surpreendido com o que estava a surgir no papel. Em termos de desafios, e uma vez que a escrita não é a minha atividade principal, penso que o principal foi mesmo a pesquisa que realizei com o pouco tempo que tinha disponível. 

O que mais o atrai nesta obra literária?

Prefiro que sejam os leitores a me contarem o que mais apreciaram nos meus livros, e com este meu primeiro livro de prosa gostaria que acontecesse o mesmo. É sempre especial perceber que algo que escrevemos num ambiente, muitas vezes solitário, se torna depois razão de confraternização e partilha. 

Quais os seus principais objetivos como escritor?

Como já referi, a escrita não é minha atividade profissional principal, e como tal tento aproveitar o pouco tempo livre para conseguir ir escrevendo. Mas assim fica naturalmente mais difícil criar metas com prazos fixos e perfeitamente definidos. O que tento é dar a mim próprio alguma flexibilidade temporal sem nunca desistir nos objetivos. Esse processo é uma maratona e não um sprint. E no fundo é esse mesmo o meu objetivo: ir escrevendo, seja em poesia ou prosa, enquanto houver inspiração, e no tempo que conseguir ir disponibilizando para a escrita. Para já existem várias ideias populando a minha imaginação, por isso penso que ainda poderei produzir mais algumas obras… a ver vamos. 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor “O Arrais”, do escritor português Alves dos Santos. Agradecemos sua participação. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Queria, antes de mais, deixar uma mensagem de agradecimento pelo trabalho meritório que faz na promoção dos escritores do mundo lusófono, sempre inovando, sempre procurando melhorar e tentando chegar mais longe e a um maior público. E naturalmente um agradecimento aos seus leitores, que são quem, afinal, justificam a existência dos escritores. Felizmente, a lusofonia cada vez mais deixa de ser um conceito abstrato e começa a ser, nomeadamente nas redes sociais, um espaço de divulgação, partilha e encontro. Então que possamos nos ir encontrando por aqui!

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Fique de Olho 

> Onde comprar o livro - AmazonWookEditora Edições Vieira da SilvaOu diretamente com o autor, com a vantagem de conter dedicatória e autógrafo: alves.dos.santos.escritor@gmail.com 
Confira as novidades na página do autor no Facebook.

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Por Shirley Cavalcante  –  smccomunicacao@hotmail.com

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