(Fotos: Divulgação)
"Fazer arte não passa por vontade, mas necessidade. Sempre me dediquei à comunicação"
Eduardo André Sodré abre a série "Escritores que você tem que conhecer". Jornalista formado em 1984, foi professor de fotografia em três instituições de ensino superior. É fotógrafo para publicidade.
1 - Nos fale de você, da sua vontade de fazer arte, de como se encontrou fazendo poesia.
A pior coisa do mundo é falar de si. Nunca somos o que achamos... Mas vamos lá. Fazer arte não passa por vontade, mas necessidade. Sempre me dediquei à comunicação. Arte é comunicar suas emoções, seja com objetivo planejado, engajadas ou líricas. Faço poesia desde adolescente. Antes mesmo de descobrir a imagem como forma de expressão. Como biografia poética:
Prefácio autobiográfico
Conheci a poesia com Neruda e Gullar.
A poesia tinha que ser crítica, política, rítmica.
Especular!
Com tempo veio Dos Anjos e Bandeira.
A poesia virou seio, permeio esteio.
Verdadeira!
Então me roubaram a poesia os marginais,
Com seus uis, fluis, truz.
Luz demais!
Quando da chegada de Quintana e Alvim,
A poesia ficou calada, encantada, inacabada.
Em mim!
2 - O que inspira você e em que momento você gosta de escrever?
Inspiração é liberdade. Quando me sinto livre para escrever fica mais fácil. Pode ser em qualquer lugar ou hora. Ando com uma caderneta e caneta. Faço esboços e depois conserto. Sempre a mão. Gosto dos erros do rascunho depois que leio. Digito só quando passa algum tempo. Quando o poema amadurece na minha consciência.
3 - Listas de favoritos e desejos
. Qual seu livro favorito? Os livros ficam por algum tempo favoritos, depois vem outros e assim por diante. Mas posso citar Ugoh Raichs - O tempo e a vinha.
. Escritor? Gerget Malhert, é o melhor que há! . Música e banda? "Aconteceu em outubro", da banda gaúcha Passo Fundo Hits.
. Atores favoritos? O ator exclusivo do teatro americano Hebert Front e a brasileira Mara Rúbia, revelação.
. Pessoa amada? Ela.
. Lugar aonde mais vai? Todos os dia vou ao banheiro.
. Uma curiosidade sua? Por quê?
. Sonho ainda não realizado? Todos em que acordo.
. Um sonho realizado? Todos chatos.
. Vontade louca de? Dormir até acordar depois.
. Citação favorita? Ah?!!
4 - Qual sua expectativa para o mundo literário no futuro?
Eu não conheço o mundo literário. Só literatura e, por sinal, poucas, porém acredito que os livros digitais e digitalizados são uma realidade e uma nova geração de escritores que farão uso dessa tecnologia.
5 - O que combina com poesia?
Melodia cria e bacia.
6 - Uma poesia/prosa/conto ou crônica de sua autoria.
A princesa e o carvão
Triste estória de ninar pequeninos, contada assim nem parece obra do destino, porém pura ficção: o caso de amor entre uma real princesa e um mero pedaço de carvão. A princesa, coisa mais linda da vida. Dourados cachos como uvas de Baco tocadas por Midas. Olhinhos aparentes pedintes da cor da relva nascente contrastavam com o sorriso constante de brancos dentes na boca de impossível carmim que se abria com uma única súplica - Dê pra mim? Palavras encantadas que ouviu uma fogueira apagada pelo tempo de chama cedeu, entre tantos, um pedaço qualquer de carvão a tão formosa dama. De posse da madeira negrume que quis passou a escrever em todos os lugares como um giz, nas paredes ou no chão, frases inventadas, letras desenhadas com o pó do carvão.
Ah! Felicidade era pouco para o roto miserável que de tanta alegria, duro tornou-se frágil, quase cinza viveu-se de novo, de inútil a usável. Era então artista, desenhista, escritor... O feliz resto de madeira queimada supunha-se professor.
Ela também exalava alegria, parecia uma apaixonada tudo descobria com seu naco sem cor. Em princípio nem o mostrava, apenas suas artes e palavras eram vistas, pois pelo carvão nutria mais vergonha que amor.
Porque tinha suas unhas em preto, uma princesa tão bela, se com uma ordem dela teria uma completa aquarela? Nenhum mistério pairava na questão, só se apoiava no carvão! Dava-lhe um ar bem maduro de mocinha independente que se arranja sozinha sem depender de parente. O carvão também se aproveitava, por entre seus dedos a deslizar ora pontudo, ora redondo sempre assim modificando sua forma, ao fim de tudo aquela que o acolheu agradar. Simbiose perfeita: uma delicada menina suja de pó e um pedaço negro de pau sorridente como um bocó.
Mas o sorriso era de um orgulho antigo, por ter sido parte de uma grande figueira, um galho bem alto com certeza, antes do fatídico incêndio que poria abaixo uma frondosa árvore inteira. Há tragédias que acontecem para o bem. Mazelas que não atentamos no momento, mas depois de certo tempo porém, descobrimos sua real razão de existir. Às vezes para consertar um erro, outras para o caminho naturalmente seguir. Mas nesse caso, a vida deste personagem carbonizado radicalmente colocou-se num oposto combinado. Quando vivo era apenas uma indivisível parte. Ao morrer tornou-se único, excepcional, obra de arte. Esta idéia e orgulho o carvão continuou a nutrir e entre os dedos da princesinha ele era um grão-vizir. Mas para a grandiosidade do tempo toda felicidade é pequena. Toda emoção evanesce e muito sentimento desanda em problema. Mesmo para uma nobre menina o amor pode transformar-se em ferida. E para uma briosa futura duquesa não iria ser diferente, logo ela de sentimentos tão puros, com virtudes de comum gente, esse carinho e afeto exagerado tinha por certo um fim. Pouco a pouco o pedaço queimado, em suas mãos galantes foi-se acabando perdendo matéria e encanto. Deixado de lado como qualquer outro brinquedo quebrado. Assim como amigos mal usados, guardados em estantes. E aquela linda coleção de lápis coloridos, de outras terras vindas para pintar, brilhantes arco-íris, azuis céu e mar, letras de diferentes tons e variados matizes... Tomou-lhe o lugar. Por nenhum mal ou abjeta vingança, apenas a fugacidade de emoções correspondentes a uma criança, o carvão dispensou, junto com rabiscos do absurdo casal, criados nas pedras do fundo quintal no labiríntico vergel, aonde um artístico amor floresceu e como sempre a solidão acolheu. Alguns anos depois, apenas um lapso de era, a pequena princesa tornou-se mulher, mãe e avó. Seus tataranetos e toda a dinastia seguinte perderam-se em alvitres, a história transformada em lenda e a realidade naquilo que se quer. Nem mais carvão existiria mesmo pedra sucumbiria com a pressão de camadas sobre camadas do tempo, todavia da vida nada se espera e ao mesmo tempo tudo é quimera, o passar de muitos anos, infindos invernos a intermináveis primaveras nem reinados ou tronos teriam idade, apenas a decadência do homem e as ruínas de suas vaidades. Houve uma radical transformação. Aquela fagulha vegetal esturricada, uma hulha sentimental transformada em carbono. O sortilégio do tempo acelerando os processos de mutação, pressionando com a força dos pés de um gigante, esquentando até o máximo o chão, metamorfoseando o ordinário carvão em raro diamante. Uma pedra de magnificência inigualada, mas que seria encontrada por um geólogo futuro e nas mãos de outros artistas lapidada a ser a gema de uma jóia ainda mais cara. Como o humor bipolar do destino não escolhe ninguém, criatura animal, vegetal ou mineral sofrem alegrias ou agruras também, o anel adornado com o diamante foi parar no noivado de outra princesa, na comum incerteza de amar seu pretendente, decidiu-se por esposá-lo depois de tão durável presente.
E assim convindo como baluarte para o amor e estelas à evolução a sina do galho/carvão/diamante/anel cumpriu-se.
Quanto à princesa, viveu agonias e glórias como qualquer mortal, mas essa já é outra história que nunca saberemos o final.
7- Seu contato e espaço na internet.
Site, Facebook e blog (ainda iniciando).
8 - Um recado pra quem está te lendo.
Leia corretamente!
9 - Nos indique um livro que você queira espalhar para as pessoas, fale sobre ele e por que deveríamos ler.
"(a hora do poeminha)" será lançado ainda este ano, são poesias de André Sodré, a poesia faz com que pensemos mais, refletimos sobre o nosso tempo e isso é o que mais falta hoje em dia. Momentos de reflexão.
10 - Nos fale de um artista da região que deveria estar nesta série.
Anielli Carraro.