(Fotos: Divulgação)
"Nada me inspira e tudo ao mesmo tempo. Não me
atenho a uma única possibilidade de contato.
Eu estou aqui e acontece! Simples assim"
Anielli Carraro não encontrou a poesia, foi ela quem a achou. Descobriu como se brincar com as palavras, logo assim que aprendeu a ler e escrever. Achava bonito ficar rimando, os textos pareciam que iam ficando coloridos, leves... Ela era muito introspectiva, meio tímida e se refugiava em diários e mais diários, onde ia contando e cantando suas descobertas, medos, ilusões... Era precoce. Falava sobre dor, como alguém que tem conhecimento e, no entanto, não tinha mais do que 9 anos. Cresceu ouvindo os discos de vinil e as fitas cassetes de Vinicius, Milton, Toquinho, Baden, Caetano, Elis... Poesia pra ela era o que eles diziam e ela queria "dizer" como eles, ela queria "sê-los".
1 - Nos fale de você, da sua vontade de fazer arte de como se encontrou fazendo poesia.
Quando Vinicius morreu, no início dos anos 80, eu não passava de uma fedelha, mas chorei como uma mulher, sozinha, eu e minha tristeza. Pra mim, tinham tirado a poesia do mundo. Eu não entendia bem a morte, só queria entender as letras e a magia que a mistura de uma e outra poderia provocar. Procurava e misturava cada vez mais. Fui crescendo assim, no meu mundinho paralelo, onde só a poesia sabia tudo de mim. Era uma lindeza me descobrir no meio de tudo isso! Minha mãe teve muita influência no meu gosto musical e também no meu anseio pela leitura. Quando não sabia o que uma palavra queria dizer e ia perguntar a ela, ela logo respondia que era pra eu procurar no dicionário e achava bonito que uma só palavra pudesse significar tanto sentimento! Me encontrei com a poesia. Nos encontramos. Ela e eu. Agora, depois de tantos anos, entendemos que somos uma só.
2 - O que inspira você e em que momento você gosta de escrever?
Nada me inspira e tudo ao mesmo tempo. Não me atenho a uma única possibilidade de contato. Eu estou aqui e acontece! Simples assim. Às vezes dura o tempo de um poema e outras vezes de vários e mais contos e mais e mais e mais. Tudo é muito natural pra mim, vai acontecendo, inspiração vem, depois vai... Fica dias sem dar sinal, depois volta, fica alguns minutos e some de novo. Como se fosse uma onda, que vem e vai e se mistura com a areia. Sou bem areia, ela (a inspiração) é a onda. Recebo o que ela me traz, uma música, alguém, um fato, dor, uma saudade, alegria, afetos... Como presentes das ondas do mar.
3 - Listas de favoritos e desejos...
. Qual seu livro favorito? Não há um favorito. Eu não poderia limitar esse universo. Citaria muitos, mas já que se trata de um mundo tão infinito em suas possibilidades (esse nosso mundo das letras) vou citar um tão fantástico quanto a própria ideia universal e libertária da literatura, "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll.
"Por fim, ela imaginou que esta mesma irmãzinha seria no futuro uma mulher adulta, que ela conservaria nos anos mais maduros o coração simples e amoroso da sua infância, que ela reuniria ao redor de si outras crianças, fazendo os olhinhos brilharem desejosos de mais uma história estranha, do País das Maravilhas..." (Lewis Carroll - "Alice no País das Maravilhas")
. Escritor? Tem escritor que eu gosto de um livro só, mas na verdade tem uns que eu gosto de vários. O Carroll, por exemplo, eu não li mais nada, não poderia citá-lo como meu escritor preferido, embora eu o ache brilhante em "Alice". Mas posso quase afirmar que o Jorge Amado tem uma coisa que me encanta muito. Quando começo a ler um livro dele, eu não consigo parar até acabar. Sinto fome da história e isso não é qualquer um que nos causa. O Jorge me dá fome sempre.
. Música e banda? Música? Muitas. Várias. "Casa no campo", com a Elis cantando, porque lembra minha mãe, Manuel Audaz, porque me traz a lembrança das minhas idas e vindas de Mauá, falando poesia pelo caminho enquanto pegava carona, naquele tempo a gente viajava bastante de carona. Tem umas novas da Marisa Monte que são lindíssimas e tem uma puxada pra coisa bonita da fossa, da bossa, sei lá... Muito lindas. Não dá pra te dar uma única música, eu não consigo, mas tem uma que eu adoro ouvir e pra mim, musicalmente é uma das melhores que já ouvi, além de ter uma poesia maravilhosa, "Arrumação", do Elomar. As bandas também são várias, do rock ao reggae. Tenho conhecido bandas novas e com boas propostas, prefiro citar as de nossa cidade, autorais, que metem a cara na história de compor e isso, por si só, já é uma atitude de valentia em tempos onde qualidade, necessariamente, não quer dizer visibilidade. Posso falar da banda Amplexos, que vem trabalhando muito duro, levando a música da alma para vários lugares, da Unidade Resistência, chegando agora e já mostrando composições tão boas. Autoral pra mim é a história. Você escreve o seu caminho com a música que vem de você. Essas sempre serão bandas preferidas. Sempre as autorais.
. Atores favoritos? Gosto muito de filmes e quase não vejo TV, televisão pra mim é mais uma companhia, alguma coisa que preencha os espaços vazios quando não tô afim de ouvir música, mas também não quero o silêncio, portanto, aqui do Brasil, fico com o Selton Mello, que é muito bom e mantém a qualidade em tudo o que faz, e lá fora o top pra mim é Depp. Jonhy Depp. Em Volta Redonda conheço pouco o trabalho da galera de teatro, mas a atriz Luciene Martes é sempre bem vinda.
. Pessoa amada? Tenho tantas pessoas que amo... Amigos, minha família, Hugo Araújo...
.Lugar aonde mais vai? Pra dentro da caixa.
. Uma curiosidade sua? A minha sanidade.
. Sonho ainda não realizado? O próximo.
. Um sonho realizado? Ver a poesia correr na língua das pessoas na minha cidade como corre hoje, solta.
. Vontade louca de? Escrever sempre.
. Citação favorita? "Esses que aí estão atravancando o meu caminho, esses passarão. Eu, passarinho". (Mario Quintana)
4 - Qual sua expectativa para o mundo literário no futuro?
Que ele seja absolutamente pleno e transparente. Que os muitos estilos dialoguem e se respeitem e que o homem entenda que a palavra é por si só infinita e, portanto, oferece mágicas possibilidades.
5 - O que combina com poesia?
Tudo. Tudo contém poesia. Portanto, tudo combina com ela. O que há de bom e de ruim. A poesia não escolhe combinações e nem parcerias. Ela acontece ao nosso redor, o tempo todo.
"A poesia não escolhe combinações e nem parcerias.
Ela acontece ao nosso redor, o tempo todo"
6 - Uma poesia/prosa/conto ou crônica de sua autoria.
Esse conto é inédito e faz parte de uma série, "Contos de dentro da caixa, Um ensaio sobre o delírio", a ser lançado futuramente em livro.
Noites de cão
Mais uma vez acordara estirado no chão praticamente nu sobre a água gelada de uma imensa poça de lama. Tinha as roupas rasgadas em trapos e as pernas e os braços arranhados. A boca estava seca, mas morna, diferente do resto do corpo que se arrepiava de frio quando a brisa batia na pele molhada. Chovia muito e já ia amanhecer. Uma forte ânsia começou a se formar dentro de seu estômago e por sua garganta subiu um gosto rascante e amargo que o levou necessariamente ao vômito. Engasgou, tossiu e cuspiu o gosto azedo da língua, mas a saliva parecia insuficiente para lavar a mucosa. Abriu a boca, olhando para o céu, permitindo assim, que algumas gotas de chuva caíssem bem dentro de sua goela. Tinha sede e sentia-se exausto, o corpo dolorido como se houvesse sido mastigado pela enorme boca de um gigante e depois ruminado sobre aquele lamaçal bem no meio da floresta. Estava a poucos quilômetros de casa.
De alguns meses, até então, era sempre assim que acontecia. Batava que se iniciasse o período da lua cheia e ele era envolvido em fortes dores de cabeça, os batimentos cardíacos se aceleravam, sentia tremores pelo corpo e por todo o resto do tempo em que a lua permanecia prateada, acesa e cheia no céu, a estes sintomas se seguiam amanhecimentos estranhos na floresta, sempre seguindo o mesmo padrão de acontecimentos, a mesma cronologia de passos, nu, exausto, com um mal estar de dar inveja ao maior ressaqueiro de todos e arranhado. A memória era um caso a parte. Tinha vários lapsos, mas lembrava-se de algumas cenas, como fossem pesadelos. Berros, uivos, os vizinhos correndo, fechando portas e janelas, assustados. Sabia que algo muito sério estava acontecendo com ele.
Há tempos sequer recebia um bom dia ou boa tarde de seus próximos, alguns o olhavam com profunda indignação, nem mesmo a Srta. Vargas sempre tão solicita, embora séria, se dignava a oferecer-lhe um meio sorriso ao encontrarem-se na padaria pela manhã, como era de costume antes daquela tortura começar. O homem azarado que morava na última casa ao fim da rua, que adorava conversar com ele sobre suas desventuras, já não lhe dirigia mais a palavra e mudava de calçada quando ambos se cruzavam em uma ou outra ocasião. Ninguém, ninguém mais lhe oferecia sequer o gesto humano de um aceno. Era evidente que embora não se lembrasse de quase nada, aquelas pessoas tinham sérias razões para rejeitá-lo daquela maneira.
Pois ele enfim, depois de muito raciocinar, estava convencido de que era um lobisomem. Mas tinha uma dúvida, porque diabos não o denunciavam? (Bem, aqui cabe uma observação muito pessoal, tratando-se então de um lobisomem, a quem os vizinhos deveriam denunciá-lo? Á carrocinha, à polícia aos bombeiros ou aos caçadores de vampiros e afins? Qual seria a autoridade competente? Pergunto isso, no entanto por total curiosidade e nem acho que o leitor deva levar em conta essa questão tão sem importância, porém, o caso é no mínimo instigante).
Não estava disposto a conviver com tal maldição e nem imaginava o que o teria levado a ser portador de tamanho infortúnio. Logo ele, que era o mais caxias dos caxias, homem de bem, um cientista, estudioso, quase um escritor! Logo ele! Ele que na infância fora inclusive coroinha e dos bons, sempre prezou pela honestidade, que nunca levantara a voz nem mesmo para uma barata e que escolhera a solidão e o celibato a fim de não causar e nem experimentar a dor das ilusões afetivas e humanas! Justo ele, que procurava cumprir seus compromissos e nem mesmo era o sétimo filho de uma família de seis filhas, como reza a lenda maligna do lobisomem, ao contrário, era sim o mais velho de três machos.
Por que com ele? Porque não com outro qualquer? Logo com ele? Homem calmo e silencioso! Por quê? Levantou-se e seguiu devaneando em seus pensamentos e dúvidas mancando de uma das pernas, em direção a sua rua. Desejava entrar em casa, tomar um banho e descansar. Apenas isso. Somente isso. Enfim, todos já deviam saber o que ele era, mas ainda assim, torcia para que ninguém estivesse acordado, estava um trapo de gente e não queria ser visto tão vulnerável. Ficou imaginando que talvez não o denunciassem por medo ou pena. Dúvidas de que havia se transformado em um cão enraivecido não tinha mais, porém necessitava juntar provas irrefutáveis contra si mesmo, para só então decidir o que fazer.
Entrou em casa e trancou a porta. Sentou-se no sofá e ficou divagando sobre o que poderia fazer para descobrir o que de fato estava acontecendo em sua vida, foi nesse instante que teve a idéia genial de instalar câmeras pela casa e também nos postes de luz da rua, assim não haveria mais nenhuma pergunta sem resposta, desta maneira poderia aguardar o próximo período da lua cheia com um pouco mais de confiança e então, ele mesmo trataria de acertar uma bala de prata bem no meio do coração, acabando assim de vez com aquela malignidade. Simplesmente assim apenas uma bala de prata certeira, o eco do disparo e depois o silêncio, o vazio permanente, o sono eterno ao qual como ser humano, ele tinha total direito, afinal, não havia nada ou ninguém no mundo que o prendesse a existência ardil que ele vinha saboreando. De alguma forma, a certeza de uma maldição tão terrível, só lhe daria ainda mais coragem para fazer aquilo que sempre desejara, coragem para dar cabo de sua vida medíocre e tosca. Deixou-se adormecer ainda enlameado no sofá limpo, lembrando-se dos gritos na noite anterior.
Durante todo o período que antecedeu a próxima estação da lua cheia, ele levou sua vida da forma mais impecável possível. Não chegou sequer um minuto atrasado ao trabalho, só ingeriu alimentos orgânicos, separou seu lixo, foi a igreja ao menos duas vezes, se confessou, Telefonou para a mãe com quem não falava há anos, iniciou a leitura de um bom livro, tomou bastante água, leu o jornal, obrigou-se a tomar seu café da manhã, tratou seus alunos com cuidadosa estima, foi paciente com os mais lentos, benevolente com os que necessitavam, justo com os mais inteligentes e amoroso com os mais arredios. Seus alunos eram as roupas que ainda lhe cabiam naquele universo exterior tão frágil.
Durante as madrugadas de cada um daqueles dias, em que passou instalando câmeras por todos os postes da rua e cômodos de sua casa, devorando manuais de eletrônica e histórias fantásticas sobre homens que viravam lobos, começou a perceber a vida da forma como ela realmente era, delicada, feito vaso de barro que o oleiro suavemente modela e depois doa à mãos menos cuidadosas, mas que no entanto tratarão de dar corpo ao que antes era apenas elemento. (esse devaneio é típico de quem pensa demais na morte, eu diria que aqui, a personagem se dá conta de sua mortalidade e uma curva emocional dramática desperta neste homem, uma intensa carga de sensações histéricas, que o impelem a agir através de uma bondade mecânica e falsa, feito expiação de pecado mesmo antes do fim. Eu diria que este homem além de lobisomem, é um suicida em potencial. Ele precisa se matar para salvar-se da sua idiotice) Ele continua seu trabalho árduo de espalhar olhos espiões por toda a parte.
Olhos que revelariam toda a verdade, desvendando o mistério que o cercava. Quando a última câmera foi instalada, no telhado de sua casa, ele percebeu que aquele seria o melhor ângulo, filmaria de cima e seu raio de alcance ia até ao meio da rua. Faltava pouco para o fim do dia e por volta das nove da noite a lua cheia estaria bem alta no céu e ele decidiu se preparar. Esperou na sala, de pé, quase de frente para uma de suas câmeras vigilantes e ficou ali até começar a sentir as tais dores de cabeça, tremores, taquicardias e de repente, tudo apagou-se da memória magicamente e ao abrir os olhos, lá estava ele caído e maltrapilho no meio do mato, arranhado, semi-nu e profundamente cansado.
Desta vez, porém, tinha pressa em voltar para casa. A ligação que fizera, permitiria que tivesse acesso aos cartões das câmeras externas da mesma maneira como faria com as internas. Levantou-se mais que depressa do chão ainda vomitando e correu o mais que pode até sua casa. Abriu a porta com força e entrou, sentando-se de frente para o computador e já ligando tudo. As imagens de dentro da casa deixaram muito claro o que acontecia. Perplexo, deparou-se com uma cena tão estranha, que suas idéias demoraram a se encaixar fazendo algum sentido. Depois, passou às filmagens do lado de fora e sentiu-se profundamente envergonhado:
As imagens o revelavam. Lá estava ele, bem no meio da sala de sua casa, se debatendo e rasgando furiosamente suas próprias roupas, em seguida, começou a babar e cuspir no chão, sacudindo a cabeça de um lado a outro como fosse um louco. Agachou-se e começou a correr pela sala, de quatro, latindo e uivando, enquanto que com as unhas arranhava os braços e as pernas coçando-se feito um cão sarnento. Depois, ele abriu a porta com dificuldade e saiu para a rua. As filmagens feitas do lado de fora, mostravam um homem completamente tomado pela insanidade. Correndo atrás das pessoas, agarrava-se a suas pernas e lambia seus calcanhares tentando morde-los. Seminu, saia urinando nas árvores e postes, enquanto uivava sem parar. As pessoas se trancavam em casa, aborrecidos por tamanha inconveniência, enquanto ele prosseguia com o espetáculo por horas a fio, arranhando as portas dos vizinhos, tentando entrar nas casas a força. Quando a lua começava enfim a sumir no céu, ele desapareceu na floresta feito um bicho acuado.
Ele desligou o computador. Baixou a cabeça e ficou em silencio por alguns minutos. Levantou-se foi até a cozinha, bebeu uma água gelada e voltou ao quarto. Separou cuidadosamente algumas roupas e colocou numa pequena mala. Procurou alguma coisa no auxílio a lista, rasgou a folha, foi ao telefone, discou o número impresso na folha e conversou por alguns minutos com alguém. Desligou e em seguida chamou um táxi, preferindo optar por um conhecido, alguém que já o atendera em outras viagens, marcando para dali a algumas horas a corrida. Foi ao banheiro, abriu o chuveiro e deixou a água cair por todo o corpo. As imagens patéticas contidas nas filmagens que fizera de si mesmo, não lhe saiam da memória. Chorou. As lágrimas confundiam-se com a água doce e morna que caia do chuveiro, não sabia se chorava por vergonha ou pavor. Escolheu uma roupa clara para vestir, camisa branca, calça azul. O táxi chegou pontualmente, ele trancou a casa, olhou pra ela como alguém que não sabe quando volta, entrou no carro e deu o endereço ao motorista, que curioso perguntou:
- Vai visitar alguém professor? - diante do silêncio do passageiro, o taxista reformulou a pergunta. - É esse mesmo o endereço?
- Sim. Podemos ir agora, por favor? - respondeu um pouco ansioso e ríspido.
O carro partiu, sobre o banco do carona, na folha rasgada das páginas amarelas lia-se:
"Hospital psiquiátrico especialista em casos de difícil diagnóstico - Se você não sabe quem é, descobrimos pra você. Internação imediata por tempo ilimitado. Faça-nos uma visita".
7 - Seu contato e espaço na internet.
Facebook 1 e 2, blog e e-mail: aniecarraro@hotmail.com
8 - Um recado pra quem está te lendo.
Continue lendo, por favor (risos).
9 - Nos indique um livro que você queira espalhar para as pessoas, fale sobre ele e por que deveríamos ler.
Na verdade são dois. "Capitães de areia", do Jorge Amado, é um livro inigualável. Sincero, profundo, sensível, verossímil... Ele captura você para aquele mundo, para aquela realidade e você só consegue sair, horas e horas depois de ter chegado ao fim da história. Li quando era menina e reli depois, outras vezes e sempre me sinto tocada por aquelas crianças, meninos tão estranhamente amadurecidos, experimentando a dor, a cumplicidade, a fraternidade, os instintos de preservação e tudo ao mesmo tempo tão sutilmente delicado e simples. Definitivamente apaixonante e profundamente emocionante. Outro livro tocante e muito importante, que caiu no gosto popular, graças a Deus, é o "Pequeno príncipe", de Saint Exupeéry. Alguns intelectuais não admitiriam jamais sua preferência por esse livro, exatamente por ter caído na popularidade, mas é isso o que torna especificamente tão importante, afinal, não é exatamente essa a sua função? Alcançar o maior número possível de pessoas com sua linguagem? Quer uma linguagem mais poética, uma história mais tocante e fantástica, quanto a desse pequeno ser que distraidamente se envolve na vida de um homem perdido no deserto e se torna seu melhor amigo? Qualquer um entende o simbolismo e a profundidade desse livro, o que em nenhum momento o torna medíocre. Amo essa história. Por vezes, me pego imaginando se seria real ou fantasia. O "Pequeno príncipe" deveria morar na cabeceira de todos os mortais.
10 - Nos fale de um artista da região que deveria estar em "Escritores que você tem que conhecer"...
Eu poderia sugerir poetas e escritores muito bons, alguns com os quais, inclusive, trabalhei, mas tenho que continuar a dar voz àquilo que venho dizendo há tempos: precisamos incentivar os novos talentos de nossa cidade, especialmente os incomparáveis. Temos muitos. Bons, mas Deia Pereira, com certeza, tem um destaque especial. Uma menina com talento essencialmente único, que brinca com as palavras com uma facilidade imensa, a mãe do "Vitor não entende" e de tantas poesias delicadas. Menina leve, simples e repleta de estilo. Eu quero certamente vê-la aqui e em muitos outros lugares que seu nome e talento mereçam ocupar.