(Fotos: Divulgação)
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Teles completou 90 anos em 30 de junho; orelhas do livro são assinadas por Lêda Selma; e o prefácio é de Ángel Marcos de Dios
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É com justificado orgulho que a PoeArt Editora realiza mais esta importante etapa de sua missão de promover a literatura brasileira, editando a “XI Coletânea Século XXI - Edição Especial”. De forma singela e com sua prévia aquiescência, homenageamos o consagrado poeta, crítico e professor Gilberto Mendonça Teles pela grandeza de sua obra e pelos 90 anos de vida, completados em 30 de junho. O livro tem 94 páginas, orelhas assinadas por Lêda Selma, professora e escritora; comentários (o de abertura é do integrante da ABL Antonio Carlos Secchin); poemas do homenageado; entrevista com Teles; poemas a ele; fotografias e retratos do autor, entre outras homenagens.
Autor de uma obra rica e vastíssima, de poesia e crítica, com destacada atividade literária no Brasil e além-fronteiras, buscamos evidenciar um pouco de sua importante trajetória com o registro desta Edição Especial para a história da cultura brasileira. Nesses 15 anos de produção literária, dentre os já homenageados por suas contribuições literárias-culturais em nossos livros (ou em entrevistas), já nos dedicamos a quase 50 escritores brasileiros, cujos nomes aparecem na primeira edição desta Coletânea, dedicada a Gilberto Mendonça Teles.
Transcrevemos a seguir os parágrafos iniciais do prefácio que o professor Ángel Marcos de Dios, catedrático da Universidade de Salamanca, escreveu para a quarta edição dos poemas reunidos na “Hora Aberta”, de Gilberto Mendonça Teles:
Com o título acima [a Casa de Vidro da Linguagem], prefaciamos a antologia poética de Gilberto Mendonça Teles, em espanhol, editada em Salamanca no início de 1999. Agora o poeta nos pergunta se poderíamos ampliar um pouco o nosso estudo para que sirva de introdução a uma nova reunião de seus poemas, desta vez em língua portuguesa. Valendo-nos de anotações anteriores, da fortuna crítica enviada pelo poeta e da releitura do conjunto de sua poesia, não foi difícil atender a seu pedido, em nome também de uma amizade que se consolidou no convívio quase diário de sua temporada na Universidade de Salamanca.
Professor Visitante desta Universidade no outono-inverno de 1998-99, Gilberto Mendonça Teles nos deu logo a conhecer que não se trata apenas de um intelectual que se contenta em ser professor da universidade brasileira, no Rio de Janeiro: é também poeta e crítico com várias obras nesses dois gêneros, com livros como “Vanguarda Europeia” e “Modernismo Brasileiro” (hoje na 20ª edição) e “Hora Aberta”, reunião de seus poemas, cuja 4ª edição se prepara atualmente no Brasil e para a qual estamos remetendo esta versão ampliada do nosso prefácio.
O trabalho literário de Gilberto Mendonça Teles se desenvolve em três direções, como se no centro de sua personalidade criadora houvesse um “Triângulo das Bermudas” - ironiza o poeta em uma entrevista -, um fundo problemático onde as coisas e os problemas desaparecessem para voltar em forma de poema e de ensaio, sob o olhar do professor de teoria literária e de literatura brasileira. No poema “Iniciação”, de Álibis, há, prosaica ou originalmente, um “P.S.” a que se seguem os versos:
Impronunciada,
a Forma ainda flui
da chuva mais antiga, que a descanta,
que a devolve às origens, na garganta
de algum bardo perdido,
ou de algum druida
É um poema sobre a Bretanha francesa, onde o professor trabalhou e o poeta e o crítico encontraram nova matéria para as suas especulações no âmbito da linguagem. Aparece aqui a crítica no centro mesmo dos versos, dialogando com eles, como a dizer-nos que a tradição bretã, cheia de fadas e de histórias de cavalaria, envolve com a magia da chuva toda a experiência do professor e do poeta. As expressões “às origens”, “bardo perdido”, “na garganta” e “druida” [que rima com flui/da] conduzem o leitor, simultaneamente, ao presente vivido na enunciação do poema e a um passado, que é também uma brecha, uma passagem para o tempo áureo, tangenciando o sagrado, no pórtico de um paraíso perdido, “uma tribo perdida na linguagem”, como dirá no poema “O índio”, de & Cone de Sombras. O poeta vive essa dubiedade da cultura bretã (que é ao mesmo tempo de origem céltica e politicamente francesa, além de apontar secretamente para o Brasil) e se identifica historicamente com o significado religioso dos druidas e dos bardos célticos. É preciso lembrar, de passagem, que Bretanha em bretão é Breizh-Izel, termo que para o poeta deu origem ao nome de seu país - Brasil. Aliás, Gilberto desenvolve esta teoria na nota que escreveu para o seu livro “Nominais”, em 1993.
O pensamento de autocrítica, que atua tanto no poeta como no ensaísta e, evidentemente, nas lições do professor, provém do sentido prático de seu progenitor, homem dedicado ao comércio, que o iniciou na importância da ordem, do rigor, e da organização no trabalho. Aos 18 anos, viu-se obrigado a concorrer a um cargo nos serviços de estatística do governo brasileiro, posto em que trabalhou durante 14 anos e no qual encontrou a dimensão científica da observação, da investigação e da análise. Segundo conta o próprio Gilberto, foi uma experiência importante no sentido da prática diária e da integração na vida comum. O poeta se sente hoje como um D. Quixote: fora de seu tempo, mas crendo profundamente na função psíquica e social da Poesia”.
Deixamos aqui uma gratidão especial aos que colaboraram com seus valiosos comentários para enaltecer nosso trabalho literário e o nosso ilustre homenageado. Obrigado a todos os que, direta ou indiretamente, nos dão atenção, carinho e o grande apoio para que este trabalho poético-social possa ser realizado com sucesso. Boa leitura e até a próxima!