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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Antídoto Para Não Sucumbir Ao Desespero

Christovam de Chevalier lança o seu quarto livro de poesia

Jornalista e poeta focou nas transformações impostas pela pandemia para escrever coletânea poética dividida em quatro partes

Livros  –  22/07/2021 12:05

livro
 
(Fotos: Divulgação)

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“Inventário de esperanças e outros poemas” chega às livrarias pela 7 Letras e é apresentada pelo poeta e jornalista Luís Turiba; orelha traz a assinatura do poeta Paulo Sabino

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As transformações impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) nas nossas vidas dão o tom no novo livro de Christovam de Chevalier. “Inventário de esperanças e outros poemas” chega às livrarias pela 7 Letras e é o seu quarto título de poesia.

Uma estranha e diminuta forma de vida mudou por completo a vida da espécie humana. O novo coronavírus ceifou vidas mundo afora, vítimas da Covid-19, a doença por ele causada. No primeiro ano da pandemia, a falta de uma vacina ou mesmo de um medicamento eficaz levou populações a isolarem-se, privando-se do convívio social, modificando suas rotinas de vida e trabalho.

Todas essas transformações não passaram despercebidas ao poeta e jornalista Christovam de Chevalier. Nos primeiros meses da pandemia, viu-se sem trabalho, sem recursos para suas despesas, além de contabilizar outras perdas: de pessoas queridas. A poesia foi o antídoto para não sucumbir ao desespero. A coletânea é apresentada pelo poeta e jornalista Luís Turiba, e a orelha é do poeta Paulo Sabino.

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“Então, é de se esperar que seus poemas deixem-nos uma herança de beleza, um legado estético de linguagem, um certo “algo” que nos faça respirar fora do escafandro desses tempos bicudos e mascarados. Se é isso que esperamos, é isso que vamos ter”.

(Luís Turiba)

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. Primeira parte - A obra é dividida em quatro partes. A primeira delas tem o título de “Nos confins do início de tudo” e traz textos de inspiração bíblica. Neles, o autor reflete sobre a condição humana e a da própria existência. Um exemplo está nos versos: “...antes do vírus, da bactéria/da física nuclear, quântica / do que sabemos matéria / de jornal ou supersônica // antes da rocha e da roda / de qualquer fé ou cruz / da sonda, da Sida, da soda / antes do “Faça-se a luz! (...) era o mundo escuro/e vida não havia/mas o verso (eu juro!) / era já ruído, algaravia // algo que não se sabia/possível (não ainda) / mas que não tardaria/a ser música ou poesia” (“Gênesis I”). 

. Segunda parte - A segunda parte da coletânea, “No circo sem teto de um país”, é formada por 11 poemas sobre artistas circenses. O título é uma alusão ao livro “No circo sem teto da Amazônia”, do escritor Valmiki Ramayana, seu avô. Nesse grupo de textos, o poeta exalta a importância do fazer artístico na vida humana. O tom reflexivo mantém-se em textos como “Acrobatas”: “São artistas cuja origem é tácita. / Serão chineses? Vietnamitas? / Pulam e desenham uma órbita / como se suspensos por palafitas (...) Serão hindus? Muçulmanos? / Sua origem não mais importa. / São artistas e seres humanos / têm n´alma sua força absorta”.

. Terceira parte - Nos primeiros meses da pandemia, o poeta refugiou-se em Minas Gerais, onde escreveu os dez poemas que compõem “Instantâneos de um lugar”, a terceira parte do livro. Através desses textos, olha para “um Brasil profundo”, como Luís Turiba especifica no texto de apresentação. Um exemplo: “Os dias passam alquebrados / no porvir da sua trajetória. / O amanhã é algo abnegado / pois o monstro anda lá fora. // Aqui, por ora estou a salvo / do bicho que ladra lá fora. / Tenho na face o olhar alvo / meu tempo é hoje e agora” (“O bicho lá fora”).

. Quarta parte - No “Inventário de esperanças”, quarta e última parte do livro, estão poemas provocados pelas transformações causadas pela pandemia em nossas vidas. O coronavírus é citado em textos como no poema de amor “Medo”: “Meu medo não é o vírus que pode me tirar o ar Temo pelo desconhecido medo maior que o do mar (...) Meu medo, já disse, não é o vírus ainda que ele possa me matar Medo maior é o desvario de um dia não mais te encontrar”. Já o negacionismo de parte da classe política inspirou “A Peste e a Esperança (Cordel sobre uma peleja)”, que traz os versos: “Os tolos fizeram pouco caso chamaram-na “gripezinha” coisinha ou mesmo “histeria”. E a liberdade fez-se ocaso calou-se a alegria em suma”.

Há também réquiens ao compositor Aldir Blanc (“Adeus, Aldir”), à cantora trans Jane Di Castro (“O artista e suas faces”) e aos poetas Cairo Trindade (“Cairo Trindade morto”) e Marcus Vinicius Quiroga (“Visita imaginária ao poeta”). O poeta Jorge Salomão é lembrado em dois textos, num deles o dos versos: “O poeta é agora um corpo frio, teso o rosto apaziguado, a efígie adunca. Não há voz, indícios de suor ou peso mas algo dele fica e não morre nunca” (“Adeus ao amigo poeta”).

Esse inventário não elenca somente perdas. Há também homenagens àqueles que mantêm sua profissão de fé na vida e na arte. São os casos da poeta Thereza Christina Rocque da Motta (“Ao teu lado”), da bailarina Angel Vianna (“A mulher que dança”) e da cantora Juliana Sucupira, que, confinada, cantou diante da janela ao longo de 105 dias. Christovam de Chevalier parte do “início de tudo” para o momento presente. E mira no futuro. Como seu “Pássaro da manhã”, “viver assim é sua sina, seu intento Renascer da dor: eis seu encanto”.

Quem é o autor

Christovam de Chevalier é autor de “Um livro sem título” (1998), “No escuro da noite em claro (2016) e “Marulhos, outros barulhos e alguns silêncios” (2019), todos publicados pela 7 Letras. Tem poemas publicados nas revistas “Rua”, da Unicamp, e da Biblioteca Nacional, além da coletânea “Agora como nunca”, organizada por Andriana Calcanhotto e editada no Brasil (Cia das Letras, 2017) e em Portugal (Cotovia).

> Título: “Inventário de esperanças e outros poemas”. Autor: Christovam de Chevalier. Editora: 7 Letras. Lançamento: julho de 2021. Formato:  14 x 21cm. Número de páginas: 88. Preço: R$ 43. 

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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