(Fotos: Divulgação)

"Minha poesia não se esconde,

às vezes eu me escondo dela"

 

Wesley Faria escreveu aos 7 anos uma poesia tão linda que os olhos choram. Um poema complexo com mais versos do que as músicas infantis que escutava na época. Ele conta que não conhecia muitas pessoas da sua idade que enxergavam o mundo como um faz-de-conta. Enquanto muitos robôs, carros e dinossauros permeavam os assuntos, ele tinha sempre uma mágica para mostrar, uma história que havia acabado de inventar. Ou seja, não fez muitos amigos, mas fez o essencial para continuar sorrindo.

1 - Nos fale de você, da sua vontade de fazer arte, de como se encontrou fazendo poesia e como se sente fazendo algo tão nobre?

Sempre fui um torto, tão torto que acabei me acostumando que esse era meu formato certo, sem raízes e sempre meio deslocado, mas acredito que essa seja a sina do poeta, vagar por aí sem rumo, vivendo sentimentos e os descrevendo em seus textos para que aqueles que vierem depois possam encontrar um porto-seguro, seja em um poema ou em um pequeno verso escrito em uma folha de papel amarelada. O poema mais antigo do qual me lembro é esse:

Os olhos da mãe que chora
(Wesley Faria, aos 7 anos)

Nos olhos da mãe que chora,
Versos jorram como a fonte da praça,
Nos olhos da mãe que chora,
Vejo que o mundo não tem mais sua graça. 

As lágrimas são como cachoeiras,
Mas não lavam a vida que passa,
São como as flores jardineiras,
Que não perfumam a fumaça. 

Nos olhos da mãe que chora,
Vejo o pássaro que não quer voar,
O riso que não quer sorrir,
Vejo minha mãe, de longe sumir. 

Ao entender que todas as coisas têm um formato, um som, um cheiro e um sentimento, compreendi que eu não precisava me preocupar ao ser torto e na verdade eu queria mais é ser torto mesmo, como o flautista mágico, história que sempre me fascinou, logo aprendi a tocar instrumentos e hoje costuro meus versos com acordes de violão, sopros de gaita e solfejares de violino, não sou um músico nem poeta, sou apenas uma mente inquieta.

2 - O que inspira você e em que momento você gosta de escrever?

Não existe uma inspiração nem um momento para escrever, a poesia é viva e toma conta do seu raciocínio e do seu relógio. Se pudesse escolher eu não escolheria ter nascido poeta, para se ter uma ideia de como me sinto imagine um milhão de abelhas em seu ouvido zumbindo incessantemente do momento em que você acorda até o momento em que vai dormir. Se eu fosse responder com relação aos assuntos dos quais eu gosto de escrever eu diria "das coisas simples do interior", um rio de água gelada, cavalos, a grama verde do monte no qual quebrei meu braço ao tentar chegar ao topo, os galhos da goiabeira que nunca dava uma fruta boa e eu insistia em pegar todas para checar, os galos que cantam e me irritavam ao mesmo tempo que me faziam sorrir. Ou seja, as coisas que motivam minha literatura são aquelas que realmente importam para mim, os detalhes dos detalhes, são esses detalhes que serão lembrados pelas pessoas quando eu morrer e é isso que importa para mim, criar um caminho de luz para quem quiser enxergar.

3 - Listas de favoritos e desejos...

"Escrevo pois acredito que os livros podem salvar os homens
da extinção e por entender que só o poeta pode salvar o mundo do caos"

. Qual seu livro favorito? Um livro que me influenciou muito foi "A Odisséia", de Homero, a partir desse livro entendi que uma boa história precisa de uma boa narrativa para convencer o leitor de que todos os dados têm embasamento na realidade. Outros livros me ensinaram muito sobre como escrever como, por exemplo, "Os homens de barro", de Ariano Suassuna.
. Escritor? Ariano Suassuna e Sir. Arthur Conan Doyle.
. Música e banda? Não tenho uma música preferida e sim músicas, dentre elas existem muitas músicas de Lenine e muitas músicas da banda Gogol Bordello.
. Atores favoritos? Selton Mello sempre me convence como ator e também acredito muito no trabalho de Michel Melamed, dentre muitos atores que me passam veracidade quando falam.
. O que é amor? O que é amar? Amar é enxergar no outro um pedaço de você mesmo e não ter mais escolha a não ser cuidar de si.
. Lugar aonde mais vai? Onde houver espaço.
. Uma curiosidade sua? Tenho curiosidade de saber como é ser Deus e ver tantos homens parafraseando minhas palavras a mercê de interesses próprios. Entendi bem a pergunta, posso dizer que não tenho nada de muito interessante, sou só um cara cheio de TOCs.
. Friozinho, filme e café? A melhor coisa da vida vem dessa combinação, o friozinho pode ser no clima ou no estômago quando estamos diante de uma paixão, o filme pode ser no cinema, na televisão ou o filme da nossa vida que passa diante de nossos olhos quando algo importante acontece e o café, ah o café é sempre bom.
. O filme que assisto relaxado? "Snatch", de Guy Ritchie, e "A máquina", do diretor João Falcão.
. Sonho ainda não realizado? Um dia ainda vou ter um cavalo, visitar a Índia, ter um filho e escrever um best seller.
. Um sonho realizado? Fazer a diferença na vida de alguém e escutar dela mesma que as coisas que eu falei serviram para ela confortar outras pessoas. Outro sonho realizado foi conhecer a Amazônia.
. Vontade louca de? Viajar pela América Latina tocando em todas as praças, tenha nelas público ou não.
. Uma causa social que você abraça com as pernas e braços? Liberdade religiosa e de gênero.
. Citação favorita? "Siga seu sorriso, o resto segue você". (W.Faria) e "Todos mentem". (Dr. House)
. Poetizar é? Ter nas mãos as rédeas do próprio destino.
. Um espaço (site) que tem poesia? Almas Secas, Realejo da Poesia, O Analisador e Homem Contra Homens. Existe poesia em todo lugar, basta procurar.
. Trecho de música favorita? "Se eu pudesse plantar o que como não haveria mais temporal". (W.Faria)
. Nostalgia boa é? A lembrança daquilo que ainda não foi embora.
. Um cheiro bom de? Café.
. A crença em quê? Um dia não haverá barreiras entre o outro e eu.
. O sentimento mais bonito? Saudade.
. Tem medo de quê? Ser esquecido.
. E coragem de sobra para? Não ser esquecido.

4 - Qual sua expectativa para o mundo literário no futuro? 

Uma realidade na qual a literatura seja um alicerce para a formação de valores e que os livros sejam uma ponte entre duas realidades. Escrevo pois acredito que os livros podem salvar os homens da extinção e por entender que só o poeta pode salvar o mundo do caos. 

5 - Já escreveu e deixou suas poesias escondidas embaixo do colchão? 

Não, minha poesia não se esconde, às vezes eu me escondo dela. 

6 - Por que resolveu colocá-las num varal pro vento espalhar? 

Para não ser esquecido e plantar sementes por onde passo.

7 - O que combina com poesia? 

Oxigênio.

Wesley Faria e mais dois artistas que já estiveram aqui na coluna: Deia e Vinicius

8 - Uma poesia/prosa/conto ou crônica de sua autoria. 

Nossa Senhora Sonora 

Nossa Senhora Sonora,
tambores e velas te rogam,
te peço em sua mandinga,
O vulto de amor que me envolve. 

Nossa Senhora Sonora,
Quero ter sempre em meu leito,
Uma imagem de santa,
Teu rosto, teu manto e teu jeito.
Sem perceber eu me deito,
Me vou e me chego na cama,
Oro e acendo a chama,
da vela a alumiar,
Durante todos os sete dias
nos quais me dedico a cantar.
Senhora OdoiáSaravá. 

9 - Seu contato e espaço na internet.

E-mail: wesleyjfaria@gmail.com e Facebook. 

10 - Um recado pra quem está te lendo. 

Nada é tão importante quanto o que você fará após ler este texto. Faça seu dia ser inesquecível.

11 - Nos indique um livro que você queira espalhar para as pessoas, fale sobre ele e por que deveríamos ler. 

"O coronel e o lobisomem", de José Cândido de Carvalho. O livro traz uma narrativa excelente e uma maneira peculiar de se contar uma história. 

12 - Nos fale de um artista da região que deveria estar em "Escritores que você tem que conhecer"...

Fran Lelis.