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Contramão

O som impressionante do Sagrado Coração da Terra

Banda é simplesmente sensacional, com clima intenso e música que nos brinda com toda sua magia

Música  –  24/09/2012 22:31

Sagrado

(Fotos: Divulgação)

Banda trabalha com instrumentos eletroacústicos e é herdeira de uma forte tradição erudita

O primeiro show do Sagrado Coração da Terra que assisti foi do álbum de estreia da banda. Lembro-me de ficar muito impressionada com tudo, o clima do show me remeteu a apresentações na Europa, a Sala Cecília Meirelles estava esfumaçada e o Marcus Vianna com um enorme casaco comprido, tocando seu maravilhoso violino à frente de uma banda simplesmente sensacional. O clima era intenso, o som nos brindava com toda sua magia, luzes coloridas, fumaça! Bárbaro! Esse disco “Sagrado Coração da Terra” (1984) eu não só recomendo como considero absolutamente indispensável, tipo discoteca básica!

A banda mineira é liderada pelo compositor e violinista Marcus Viana, logo após sua saída da então extinta Saecula Saeculorum. Lançou seu primeiro disco em 1984, álbum homônimo que comprei o vinil assim que foi lançado. Eles faziam um progressivo maravilhoso, que teve ótima repercussão no exterior (principalmente no Japão). A música instrumental, com letras que faziam referência à paz e o culto à natureza, e capas visualmente bem elaboradas.

Trilha da novela “Pantanal”

Ao compor a canção “Tango” para a minissérie “Kananga do Japão”, da Rede Manchete, Marcus conheceu Jayme Monjardim, que posteriormente convidou-o a compor a trilha da próxima grande produção da emissora: “Pantanal”, que fora o fio condutor de “Farol da liberdade”, terceiro CD da banda, que continha duas canções da novela, além da própria Suíte sinfônica, essa última assinada apenas por Marcus, mas ambas lançadas com o mesmo argumento (previamente citado), na mesma época. O tipo de música utilizado na trilha foi tão marcante e inovador quanto a própria sensação causada pela telenovela, com fartura de imagens da natureza e temática distinta da que era normalmente adotada pelas produções da Rede Globo. A partir de então, Marcus depositaria suas principais atenções não apenas sobre o Sagrado, mas também sobre sua carreira solo.

Depois do lançamento de “Grande espírito” em 1993, o grupo entrou em um longo hiato que só teria fim em 2000, com o lançamento de um disco composto de inéditas e alguns rearranjos de trabalhos de Viana e até da canção “Terra”, de Caetano Veloso, intitulado “A leste do sol, oeste da lua”. Dele participam antigos integrantes e convidados como André Matos, na época, recém-saído do Angra. No ano seguinte é lançado “Sacred heart of earth”, um CD voltado para o mercado exterior, com canções importantes na carreira do Sagrado repaginadas e com letras em inglês. Em 2002 saíram duas coletâneas que também traziam algumas novas edições e arranjos: “Coletânea I - Canções” e “Coletânea II - Instrumental”.

Quem é quem na banda

. Alexandre Lopes - violão e guitarra
. Fernando Campos - guitarra
. Gilberto Diniz - baixo
. Nenen - bateria e percussão
. Giácomo Lombardi - sintetizador
. Inês Brando - piano
. Sebastião Viana - flauta
. Andersen Viana - flauta
. Lincoln Cheib - pratos
. Paulinho Santos - percussão
. Augusto Rennó - violão e guitarra

Discografia

CD

. “Sagrado Coração da Terra” (1984)
. “Flecha” (1987)
. “Farol da liberdade” (1991)
. “Grande espírito” (1993)
. “A leste do sol, oeste da lua” (2000)
. “Canções” (2002) (coletânea)
. “Instrumental” (2002) (coletânea)
. “Sacred heart of earth” (2001) (coletânea)
. “Cosmos x Caos - A história parte 1” (2009) (DVD)

O significado cultural do trabalho
do Sagrado Coração da Terra

(texto de 1979, quando da criação da banda)

Trabalhando com instrumentos eletroacústicos e herdeiro de uma forte tradição erudita, a música do Sagrado Coração da Terra evoca a atmosfera barroca das montanhas de Minas. Mesmo assim, seria impossível enquadrá-la como regional. É uma viagem pelo tempo e pelo espaço às origens e ao futuro de toda experiência musical humana. Os instrumentos são os usados na tradição clássica: a guitarra, o piano e o violino, porém tratados eletronicamente; uma nova linguagem, o som dos nossos tempos. O efeito que uma orquestra causava numa plateia do século XIX não nos atinge da mesma maneira: nossa audição está duramente comprometida pela saturação dos decibéis das grandes cidades. 

Por isso, utilizamos uma roupagem eletrônica nas músicas. Elas são a fusão de toda experiência do eu inconsciente, guardada na memória do espírito: são lembranças orientais, ciganas, indianas e árabes. E ibéricas! Como negar? O Sagrado teve naturalmente a influência de mestres clássicos devido à formação erudita de Marcus Viana como violinista de sinfônica; principalmente da música de Wagner, Debussy, Ravel, Stravinsky e Villa-Lobos. Existe uma forte raiz afro-ameríndia que se manifesta cada vez mais em nosso trabalho, inclusive com a inserção de músicas com textos traduzidos inteiramente para o Tupi-Guarani e dialetos indígenas como o krenak e yanomame.

Nossa proposta é uma ponte entre a música instrumental e a música vocal; assim sendo, são canções orquestradas, sinfonias cantadas, histórias contadas. Da mesma forma que os textos, a música está ligada a uma filosofia ecológica: Ecologia da Terra, Ecologia da Mente, do Coração e do Corpo. O Sagrado Coração da Terra é mais que um projeto; é quase que um movimento filosófico, englobando mensagens visuais, gráficas e sonoras, cujo tema básico é a regeneração do Homem e do planeta.

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

2 Comentários

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  • Ricardo Guimarães

    Marcus Viana e Marco Antônio Araújo dominaram a cena musical do final dos anos 70 e começo dos 80 em Belo Horizonte. Músicos da Orquestra Sinfônica, os dois enveredaram por estilos diferentes. Marcus Viana, natural de Visconde do Rio Branco (MG), berço de uma família de músicos ligados ao Conservatório Estadual de Música Professor Theodolindo José Soares, fundou o Sagrado Coração da Terra, compondo letras de fundo místico/esotérico e som inspirado nos grupos de rock progressivo. Marco Antônio Araújo, natural de Belo Horizonte (MG), voltou-se para o som instrumental, mesclando os clássicos do rock ao folk e à música erudita. Não é exagero dizer que o som do Sagrado Coração da Terra lembra as progressões do Yes e o som do Grupo Mantra que dava sustentação a Marco Antônio Araújo tinha o sotaque do Jethro Tull, o que não impediu Marco Antônio de executar também inúmeras releituras dos clássicos do rock. Ambos os compositores conseguiram reunir músicos excelentes que emprestaram a sua criatividade aos grupos nos estúdios e nas apresentações ao vivo. O baixista Ivan Corrêa tocou com os dois. Marcus Viana arregimentou vozes femininas: Vanessa Falabela, Paula Santoro, Malu Aires, Adriana Mezzadri, Paula Fernandes. Marco Antônio encontrou um flautista virtuoso, bacharel em Direito: Eduardo Delgado. Pouco tempo depois o nosso Marco Antônio faleceu por overdose e há alguns anos partiu o baterista Mário Castelo. O Marcus Viana, após colocar o Sagrado Coração da Terra na geladeira, partiu em carreira solo e depois fundou um septeto batizado de Transfonica Orkestra, do qual participa o virtuoso tecladista mineiro Lincoln Meireles (na foto que está com crédito de Divulgação, atrás do Marcus Viana, de camisa branca). A parceria com o global Jayme Monjardim abriu as portas para Marcus Viana que emplacou trilhas de novelas e minisséries famosas. Inspirado nos ensinamentos da Ponte Para A Liberdade e da Grande Fraternidade Branca, Marcus Viana escreveu letras que falavam da Idade de Ouro, do anacronismo entre a ordem e a desordem. Marco Antônio Araújo absorveu um pouco da contracultura londrina e os músicos que o acompanhavam nutriam simpatia pelo holismo e pelo movimento soto zen, que na capital mineira tinha endereço no outrora pacato bairro Anchieta. O lineup acima do "Sagrado" está incompleto.

  • Luciana Aun

    O Sagrado é o grande orgulho de BH!