Publicada: 27/08/2016 (15:04:09) . Atualizada: 01/09/2016 (14:46:53)
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O objetivo da coluna é o de elucidar temas e aprofundá-los o máximo possível sem medo de desmascarar o sentido comum do entendimento musical. Por ser a música objeto do deleite humano, não percebemos alguns erros crassos no seu entendimento. A confusão mental em não situar precisamente períodos históricos musicais e suas influências, atrapalham sua compreensão, assim como a teoria musical. Essa, com seus princípios básicos, norteia a visão fugaz e deturpada de alguns, porém com breves sugestões e elucidações compreenderemos alguns lapsos não intencionais.
A formação de uma mentalidade crítica da música vai permitir ao leitor um deleite maior e afastar pré-conceitos arraigados pela opinião desarticulada de quem vê a música como o segmento de uma historicidade bem comportada. A vanguarda sempre encoberta pelo pop e pelo receio de divulgação será alvo desta coluna. Músicas eruditas e populares não serão antagônicas ou rivais, porém, irmãs e conversarão como sempre conversaram na história. Sem pré-conceito de deflagrar alguns conceitos, ela se apresentará aqui como um ato de liberdade.
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Conceitos comuns e emprestados pela opinião alheia sempre nortearam o olhar do homem. Este que cresceu na cidade, invadido pelos meios de comunicação se moldou ao que lhe ofereciam, sem, contudo, procurar o verdadeiro pendor para seu gosto musical ontológico (do seu próprio ser).
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Maior ainda, a opinião de alguns que vieram do campo para a cidade e viram no seu gosto, a raiz musical de onde foram formados, um opróbrio ou timidez que se apagará quando se certificarem que a tradição e o folclore de sua terra natal sempre falarão mais alto em seus corações.
Música será sempre metafísica, porém, instinto também. Sua compreensão pelo sentimento não cria dúvida, todavia, a cultura impondo seu grito, obedecerá cegamente os que menos ouvirem os testemunhos da história. Apagar os pré-conceitos e as imposições externas subliminares certamente estarão presentes aqui; sem ocultar verdades históricas e semióticas.
A música natural e a música artificial
Por música natural entendem-se os sons da natureza; por exemplo: o som do canto dos pássaros, do trovão, do canto humano. O que é produzido naturalmente incomoda o ouvido porque é real, causando impressões místicas. Um bebê se acalma quando ouve o som do universo - é o “ruído branco” (som da explosão do “big bang”). Uma excelente receita para acalmar as cólicas dos recém-nascidos é ligar o rádio fora da estação, produzindo aquele chiado, ou ligar um aspirador de pó. Sons de CDs que reproduzem os sons de chuva, e florestas são verdadeiras terapias a favor de relaxamento mental. São dois os lados dos sons naturais, o do respeito e temor pela natureza com suas sonoridades, e do outro o do deleite e a paz.
O terror ameaçante provocado pela natureza levou o ser humano a respeitá-la por milênios enquanto sua superficialidade científica ainda não respondia a essas questões. Mesmo com o advento dos avanços nas áreas físicas das ciências, sua compreensão é afetada por instintos humanos que a negam por vezes. O humano atropela sua compreensão e se suicida no entendimento bárbaro; prestaria contas a Thor (Deus do Trovão), assim que treme ao ouvir o rosnar do som que provem do relâmpago. Quem nunca se deixou intimidar pelo estrondo das tempestades? Quem nunca se deixou amedrontar por uma explosão de uma pedreira desabando por dinamites? Quem nunca se deixou enganar por sons, frenéticos, inusitados de uma mata ou floresta? Resposta exata: seriam a reflexão e o racionalismo idealista. Porém com ele estamos fadados a não-vida. O instinto responde pela existência. Os sons naturais são perscrutados pelo espírito humano não pelos ouvidos. Ciência contra a vida e seus afetos, ciência contra o temor trágico evidenciam o dualismo temor-prazer.
Alguém pergunta: Onde está a música? Em qualquer som disperso e talvez inconveniente; aquele inesperado em que se não deseja naquela hora. Não se diz; canto dos pássaros? Os sons das percussões e dos tambores, dos martelos nos pregos, dos bumbos das fanfarras e das bandas de rock não lembram o som do trovão? Mais ainda quando são amplificados e reproduzidos nos sistemas complexos de áudio nos shows de grande porte; principalmente. Grande é a confusão nas cabeças humanas que se confundem na música natural e na música artificial. Essa última poderia ser dividida em muitas, como a eletrônica, a acústica, a virtual e em outras tantas.
Cuidado com as impressões sonoras! Elas podem te enganar, todavia, fazer feliz a quem aceitá-la como vier. Um brado retumbante, uma voz eloquente, um mando tem a força de um melhor som quando se comunica e soa musical quando liberta um povo. Na Grécia antiga se lia em voz alta, em seu melhor período - como que cantando. Na França barroca era costume falar como se estivesse vocalizando uma ária. São os sons naturais se entremeando e se musicalizando, confundindo e arrastando o homem para a dúvida. O que é som natural e o que é artificial? Difícil a pergunta para quem se indaga, fácil para quem aceita. Sons canhestros da música eletrônica de Edgar Varese e da vanguarda do século XX lembram sons de esferas, chuva, ranger de portas, penetrando no ouvinte o som natural que compreende apenas a ontologia do seu ser.
Enfim, a música natural está arraigada dentro do homem e se camufla como artificial na vanguarda eletrônica. Por outro lado, a artificial-eletrônica se traveste de natural para agradar os ouvintes porque mexe com o ser e perturba sua alma. Essa separação, obviamente, não existe porque se elas se enganam mutuamente é porque querem que uma seja a outra e a outra, aquela “uma”; são faces da mesma moeda. Reparti-las ou dicotomizá-las é um erro crasso. Aceitá-las como parte do engano humano uma benesse.