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Casamento

O melhor poeta e o melhor compositor musical juntos

Não existe dupla melhor nem pior; o que é pior talvez possa ser o melhor

Música  –  04/04/2017 12:53

Publicada: 27/03/2017 (20:59:33) . Atualizada: 04/04/2017 (12:53:28)

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Este deveria ser o casamento do ano, as bodas mais esperadas daquela sociedade sedenta por canções. Entretanto, quem nunca ouviu uma criança cantar e improvisar canções que falam da vida infantil dela? Um trovador medieval ou renascentista com seu alaúde fazia canções de improviso em suas andanças, cantando aventuras de suas vivências e das vivências alheias. O que vale ser o melhor com o melhor casamento entre poetas e compositores? Villa-Lobos fez parceria com Manoel Bandeira na “Bachiana N°5”. Shakespeare escreveu letras para grandes compositores alaudístas. Temos grandes poetas brasileiros atrelados a grandes músicos. Devo sugerir que não existe dupla melhor nem pior. O que é pior talvez possa ser o melhor. A música punk, irreverente quis ser diferente. Alguns vocalistas conseguiam as vagas nas bandas porque cantavam fora dos padrões de afinação e ritmo - vejam a história do Sex Pistols.

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Compor o que agrada em algumas épocas pode se tornar “piegas”, todavia, o que combate ou clama por mudança pode ser o que tanto o público esperava. A “novidade” ganha sempre terreno quando um estilo começa a se esgotar - a mesmice não é tolerada por muito tempo. Algumas bandas se dissolvem por este motivo. Alguns abandonam e fazem carreira solo, pedindo novas composições de outros autores e compositores para criar a imagem do novo.

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Exemplos raros de casamento entre letrista e músico compositor, ao mesmo tempo, podem ser encontrados, porém, com raridade. Grupos e bandas inclusive cantam músicas de outros compositores para não falar de outros gêneros. Cantores sertanejos cantando pagode, cantores baianos cantando música pop americana, e bandas de raggae nacionais tocando rock inglês. Para que o melhor poeta com o melhor músico? Em suma, não existe melhor, no contexto não existe pior. Para que um casamento ousado e raro, se as misturas são necessárias para não nos estagnarmos na mesmice? Presenciamos o fim dos Beatles, porém cada um brilhou posteriormente em seu nicho. Outras bandas ainda conservam sua formação original que também é igualmente importe, pois mostram que o casamento pode durar, se quiserem, diga-se: o Rolling Stones. 

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Algumas coisas também não funcionariam bem, como escolher a dedo um grande poeta e um grande compositor. Uma empatia deve ser criada entre parceiros, sem essa poderá não acontecer nada de surpreendente. 

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O casamento entre músicos compositores e poetas sempre anunciará um cisma entre a literatura e a música pura. O narcisismo será tanto maior quanto for a pesada cruz da fama que levarão. No antigo festival da Record esperava-se cada vez mais dos letristas que não se importavam tanto com a elaboração mais erudita da música, entretanto, o discurso deveria acordar as multidões. 

Cada época possui uma preferência e uma primazia. Na década seguinte aos festivais a música americana entorpeceu os ouvidos e o entendimento conotativo; as canções em inglês encontraram uma barreira de entendimento e ela se tornou estéril aos ouvidos populares. O que importa às vezes é o prazer de ouvir a melodia e a harmonia. Quando assoviamos uma canção em detrimento da letra estamos apagando a mensagem estética linguística, mas por quê? Talvez estejamos esgotados naquele momento de informações reais e nos refugiamos na metafísica de outro mundo que não este. Por outro lado, hoje constatamos uma preocupação doméstica em quase todos os níveis das composições brasileiras populares. Os exacerbamentos libidinosos, as preocupações adultéricas, as separações dos pares, o descompromisso para com o outro e a vida só descompromissada estão varrendo as mídias formando uma cultura bacante. Estamos voltando à realidade grega onde o devir dos pré-socráticos propunham uma vida regada de prazeres não ideológicos. O teatro grego anterior a Sócrates enaltecia a vida sem pudores e constrangimentos. Hoje voltados para essa direção e objetivo a melhor letra é aquela que te convida a viver intensamente os prazeres da carne num propósito da poesia concreta cabralina que afasta os idealismos metafísicos e se importa com o corpo e a vida em sua eternidade momentânea.

Afastados de um mundo superior que ditaria regras de comportamento moral medieval, a poética popular dos estilos revela a irreverência, o descontentamento e a repugnância da morte. A longevidade junto à vida deverão se perpetuar. O melhor letrista será aquele que conquistar em detrimento do coração o cérebro que comanda o corpo ausente de pudor e faz criar uma ideologia da satisfação efêmera, porém, justificada pela própria vida livre despudorada, acalentada pela satisfação individual. O homem está cansado de uma falsa moral que vem desde Sócrates. Propalada por Foucault as ideias de Nietzsche libertaram o homem de sua condição moral obtusa oferecida pela filosofia pós-socrática.

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Hoje libertos ouvimos canções que falam de sexo, adultério, bebedeiras, orgias como se o cardápio da vida nos oferecesse apenas essas opções. Contrariamente, as religiões ofuscam e oferecem com as letras dos louvores uma tradição bimilenar que apazigua a alma tentando secar ou refrear a libido sedenta do homem. 

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A letra está na melhor condição nesta paridade, música e poética, pois ela impulsiona um novo comportamento. A busca do melhor compositor musical neste momento da música popular estará ofuscada pela sede em ouvir poéticas do comportamento. Esse casamento entre a música e a letra não tardará a vir porque as ideologias e estilos são cíclicos. Quando os ânimos se aclamarem e o corpo se satisfizer, fazendo o homem entrar numa nova etapa de seus desejos, a libido poderá ceder lugar aos parnasianismos fazendo o homem voltar a sonhar com uma vida mais tranquila. Em uma época será o melhor letrista em primeiro plano, talvez em outra época a música. O casamento ideal e com paridade talvez exista nos sonhos de um ideal. 

Este não é preponderantemente necessário porque a igualdade é quase impossível.

Por Ricardo Yabrudi  –  yabrudisom@hotmail.com

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