(Foto Ilustrativa)
Acompanhamentos com apenas o violão são marcas do sucesso entre as escolhas dos jovens
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Os jovens são a hecatombe do gosto musical, são eles que ditam as regras do simples. Armados com seus fones de ouvido se protegem da drástica, maculada sociedade doméstica e consumista. Querem mudar tudo, entretanto, aceitam tudo sem preconceito. Lutam pela sua liberdade, sem questionar o “por que” de suas atitudes frente à estética musical e à moral tradicional. Os ecos de suas vozes sinalizam que a regra é ouvir tudo e com o tempo formar as tribos, os nichos e seus pares. Censurá-los por que ouvem isto ou aquilo não compete a nós e a ninguém, pois a arte é para os espíritos livres e fortes. Todo fenômeno artístico novo foi objeto de crítica negativa quando se apresentou. A “resistência” aos “impactos” sempre existiu e sempre existirá. É comum constatar que o tradicional quer ficar e se estabelecer, e a “mudança”, no entanto, pedir a troca, porque pensa que o que está estabelecido, está desgastado. Os jovens são esse elo e selo (não o “selo” dos Correios, mas uma chancela) da mudança.
As gerações anteriores procuram ser mais conservadoras porque existe muito trabalho em alterar as formas de percepção já estabelecidas. É mais cômodo trabalhar e exercitar o que temos em nossas mentes do que jogar toda a rede de conexões neurais na lata do lixo, consequentemente começar “uma vida artística nova”, ou até uma nova filosofia. Os jovens, por sua vez, estão ainda em fase de maturação e “escolha”, por isso querem experimentar de tudo, para afinal, mais tarde, poderem se fixar no que mais lhe agradam. É como em um restaurante novo em que passamos a frequentar. Depois de algum tempo pedimos aquele prato de nossa preferência. Experimentar sempre, é digno de pessoas de tenra idade. Na música é mais simples e menos fatigante. Podemos ouvir música durante horas, mas não comer exaustivamente por mais de uma hora.
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Ouvir um gênero diferente é sempre o começo, porém na idade madura estará consolidada, na maioria das vezes, apenas só ouvimos alguns estilos. Hoje alguns deles, por terem caráter mais social que estético, invadiram as mídias. Os jovens os perseguem e os ouvem sem preconceito para mais tarde o interrogar e escolher se irão seguir essa nova linha de apreciação musical.
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O simples é isso, ouvir o que se “oferece”, sem arguir tanto, sem filtrar, apenas comer para na idade adulta poder escolher os rumos de sua vontade estética. É necessário, porém, que ouçam como nas crianças, um material sonoro mais digerível. A música pop são suas preferidas. Acompanhamentos com apenas o violão são marcas do sucesso entre as escolhas deles, mesmo que sejam um pouco elitistas - no caso de algumas composições políticas ou críticas da sociedade. Camadas juvenis sem muitas pretensões em defesa da sociedade, o que é raro hoje em dia, aceitam de bom grado esses autores. O simples ouvido pelos jovens tem um pouco mais de articulação frente ao que ouvem as crianças, tudo é devido ao amadurecimento cerebral, para o consequente entendimento, numa escalada do mais fácil para o mais difícil.
Essa geração se prepara para vociferar num futuro as vozes que a sociedade irá ouvir. As mídias serão sempre responsáveis por esse futuro próspero ou decadente. As redes sociais ou o conjunto das novas mídias e esferas da “zero dimensionalidade” proposta por Vilém Flusser serão responsáveis por toda uma geração de jovens apáticos ou vigorosos. As amizades serão fundamentais para uma dialética de suas preferências. Escolher bem ou mal seus pares e grupos de conversa também será fator inevitável na formação de uma sociedade crítica, atuante e exploradora. A arte e a música sempre se “expandem” em inúmeros braços, mãos e dedos - não será bom uma geração maneta! Porém, expandi-la com trivialidades e decadência decrescerá o nível de inteligência social. Involução tem sido uma opção para uma vida menos idealista, mais apolínea e mais dionisíaca. Entretanto, se a música obliquamente pender suas intenções e se ajoelhar aos pés dos movimentos corporais, clamando por sua servidão, nossos ouvidos não servirão mais, talvez, para o avanço da música como art pour l´art.
Dos jovens esperamos o futuro, dos adultos que controlam as mídias a bandeja semiótica que servirá caviares musicais ou não. Se pensamos que o futuro está nas mãos dos jovens nos enganamos. O futuro deles está nas mãos de quem “oferta” um presente para o presente ou para o futuro. Tudo dependerá do que queremos para as futuras gerações! Tudo está, ou quase tudo, nas mãos de quem desaparecerá primeiro. O egoísmo e o imediatismo atrelado a um hedonismo instantâneo das gerações superiores ditarão sempre a formação dessa geração que espera o “melhor” para um mundo melhor. A música sempre estará à frente de suas predileções. Com seus fones de ouvindo se isolarão ou farão desse instrumento uma porta para um futuro mais humano, demasiado humano.