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Sangue Azul

Benefícios em ouvir a música erudita

Elevar as mentes humanas, congraçando-as e tornando-as espíritos livres e fortes, está entre os benefícios

Música  –  18/07/2018 12:54

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(Foto Ilustrativa)

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Deveríamos ser amigos das coisas nobres, não por serem raras e usadas como perfume e máscara do status, contudo, como uma amizade que nos faz crescer e criar um espírito crítico na vida

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Em tudo o que foi estabelecido pela história e a estética, por enquanto, deveríamos numa atitude, nos conformar e aceitar. A separação entre o erudito e o popular ainda é tema de discussões, contudo, é um fato e não conseguimos desprezar ainda - apesar de ser um simples preconceito. Talvez, seja intencional, para que a música erudita seja “sobrevalorizada”. Artifícios semânticos, linguísticos, tais como raridade, são trunfos usados para maquiar o que deveria ser comum e necessário. Chamar de raro e inacessível, cria temor, respeito, realeza, elegância e classismo. É como dizer: “Esse produto musical é para poucos”. Estamos acostumados a ver cenas de concertos, onde o público usa terno e gravata, vestidos longos e bordados. Essa associação supervaloriza o erudito. Esquecemos pois que Beethoven, ou Bach, compunha suas obras em casa, usando ceroulas, provavelmente, no calor europeu, ou quando no inverno, de touca. Quando ouvimos música erudita em casa, estaremos livres de etiquetas sociais. Os rótulos são usados para mascarar um produto, valorizando-o com intenções que não é o objetivo de nosso assunto - que é puramente estético e libertador.

O afastamento proposital da música erudita para com as grandes massas não é ingênuo, todavia, muitos têm tentado essa aproximação, quando seus intuitos são de elevar as mentes humanas, congraçando-as e tornando-as espíritos livres e fortes. Talvez essa força, como tentativa, venha a ser inócua, e o arrebatamento para mundos metafísicos, tal e qual leva a música erudita, terá uma força contrária, um vetor oposto carregado de domesticidade e preguiça. Por que alguém iria a um concerto e ouvir uma sinfonia, se pode ficar em casa descansando? A sociedade frenética exaure forças e nada mais justo do que um descanso no fim do dia. Todavia, um esforço hercúleo sempre fará parte do repertório de pessoas que desejam desenvolver raridades e qualidades de quem ouve esse tipo de música.

A “visibilidade” que as pessoas adquirem quando frequentam ambientes eruditos propulsiona uma imagem adjutória no status social e empresarial. Detalhes e adereços, enfeites no individuo, fazem parte da engrenagem social. Um detalhe no gosto de uma pessoa torna-a especial e bem-vinda ao meio. O “chique” é rico e raro, o erudito é raro e chique. Pessoas com essa “virtude”, na visão aristotélica, são consideradas felizes e prósperas, o que as ajuda a prosperar ainda mais, pois a fórmula do idealismo socrático seria: “razão, virtude, felicidade”. A visão rotular social necessária para alimentar o status é a de estar feliz pelo outro achar que você é feliz. Dizendo em outras palavras: “preciso que me vejam de uma certa forma, mesmo que não seja a de minha preferência”. A música erudita certamente vai alcançar o objetivo e o desejo dessa visibilidade, para quem a usar como trampolim, máscara, adorno, esconderijo.

Por um lado, existe o desejo de tornar a música erudita mais frequente nos ouvidos de todos, por outro, uma intenção de “reserva de mercado” que a torna rara, para poucos, aumentando seu valor. Filosofia publicada em livros de bolso, a um custo baixo, inunda as prateleiras das livrarias, porém, não são lidas como se devoram as revistas populares, também a baixo custo. Existe um jogo, um flerte, uma paquera, talvez um “charme” como dizia Gilles Deleuze para a conquista de uma amizade. Deveríamos ser amigos das coisas nobres, não por serem raras e usadas como perfume e máscara do status, contudo, como uma amizade que nos faz crescer e criar um espírito crítico na vida. Nos tornamos “nobres”, não por posse de grandes latifúndios, entretanto, em supervalorizarmos a arte e entendê-las como uma certidão de nascimento para um “sangue azul” da cultura, um sangue que não corre só nas veias, mas no intelecto de quem merece a hereditariedade do entendimento das coisas nobres.

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Por Ricardo Yabrudi  –  yabrudisom@hotmail.com

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