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A música não fala do real, porém, do imaginário do impossível, do nada, do tudo, do passado, do presente e do futuro; ela nos congela no tempo e nos faz correr à velocidade da luz rumo à felicidade
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Existirá a fonte da juventude? Por que alguns jovens almejam amadurecer depressa fora do tempo? Por que alguns adultos desejam a juventude? A música é temporal porque ao ouvi-la escorre o tempo do cosmo, no entanto, acreditamos regredir o tempo através de uma nostalgia. A idade poderá ser cronológica, poderá também ser um sentimento mental que nos satisfaz e nos convence de que não possuímos aquela idade temporal terrena. Alguns adultos se sentem mais jovens, outros, no entanto, trazem o tempo futuro para si porque tem afinidade com o temor. Drummond comentava que sua infância em Itabira tinha sido ontem e que passou rápido demais; viveu intensamente, por certo, pois a poesia a muitos alegra a vida por ser um ato de reflexão filosófica e nos ajuda a viver melhor porque compreendemos os sabores amargos e doces que se combinam - que é o nosso prato do dia a dia. Enfim, o tempo poderá ser entendido como transcendente e metafísico porque sob esse aspecto possui a analogia com a eternidade.
A música tem esse caráter de driblar o tempo, mesmo que escrava física deste, por ser um fenômeno ondulatório. Ela perdura possuindo sua estrutura, gramática e semiótica atrelada a ele. São os ritmos suas rédeas e a diligência: a obra musical. As pausas, as figuras, como mínimas e semínimas é que fazem dela uma serva do tempo físico. Todavia, quando ela penetra através dos tímpanos e do aparelho auditivo chegando ao cérebro ganha uma conotação filosófica, transcendente e metafísica se libertando dos grilhões que a prendem neste mundo, dando asas de Ícaro, que às vezes se desfazem quando alguém interrompe nossa audição com intromissões domésticas.
Ouvir um concerto ou uma sinfonia requer concentração e respeito. Não devemos conversar, devemos sim desligar nossos celulares. Tudo isso concorre para que nos reportemos a lugares e condições para perdermos a nossa idade cronológica. Se vivermos eternamente ouvindo música não veremos o tempo passar, este será apenas um fantasma do universo que urge contra nós. Como é quase impossível só viver escutando música, nossa vida fica como numa balança entre o físico e o que transcende (mundo não físico), por isso, um grande número de eventos são promovidos pelo mundo, para conferir paz, longevidade e um cardápio onde se é servido a eternidade em um lugar espiritual que você passa a conhecer melhor que é também o seu mundo “intemporal”.
A fonte da juventude está na praça onde ouvimos as canções, está nos concertos e no som do nosso carro; por isso as viagens parecem mais curtas quando ligamos o rádio. Einstein provou que em velocidades maiores o tempo se retarda, assim é a música porque melhor que a velocidade são os sons que nos reportam à eternidade. A arte de uma maneira geral nos leva a viagens extraordinárias mesmo quando estamos estáticos. Júlio Verne é a prova inconteste desta verdade com sua literatura. A música talvez ainda mais porque não fala do real, porém, do imaginário do impossível, do nada, do tudo, do passado, do presente e do futuro. Ela nos congela no tempo e nos faz correr à velocidade da luz rumo à felicidade, pois nossa potência aumenta vindo a alegria e nasce o amor pela vida.
Spinoza descreveu bem a alegria - na música podemos provar essa tese. Quando estamos tristes ouvimos músicas alegres. Quando estamos agitados ouvimos música para acalmar a alma. A música serve para quase tudo, até para simplesmente ouvi-la para não resolver nenhum problema, todavia, para uma simples audição e relaxar. O que seria do homem sem ela? Aliás, este a inventou, pois era solitário e talvez infeliz. Ele quis imitar a natureza e depois esbanjou transcendência, ele driblou o tempo e tornou-se feliz. Quando o corpo ficou cansado e triste ele entoou canções que clamavam por felicidade e até convenceu sua Dulcinéia por uma questão quixotesca amorosa mesmo que ela não existisse. Inventou regras para sua música e as desobedeceu. Ela é sua amante e parceira que não reclama de seu prazer egoísta, mas como foi inventada por ele se tornou serva de sua própria consciência.