(Foto Ilustrativa)
Os estilos que se repetiram ao longo da arte como em um ciclo vicioso se gabaram em dizer que eram diferentes; balela, foram iguais
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Os homens se dão nomes. Para quê? A linguagem clama por sua expansão. Os códigos semânticos têm o apetite desordenado do crescimento e de novas formas de expressão. As línguas das nações têm tamanhos diferentes. Sua extensão e quantidade de vocábulos impressionam. Os neologismos são contribuições para seu crescimento. Mais uma nova palavra, mais uma comemoração. O alemão é rico em quantidade se isso é um atributo.
Línguas primitivas talvez não sejam tão compridas no quesito quantidade, porém, se especializaram em palavras que traduzem a natureza, pelo nome de plantas, as quais a sociedade urbana não tem conhecimento. Aqui a riqueza não será medida pela quantidade, contudo, pela “necessidade”. O que o homem urbano faz para que suas palavras sejam quantitativas, consequentemente, qual o critério de suas interpretações pela quantidade e riqueza das palavras, será para confundir, enganar, extraviando significados, criando uma cadeia infinita de significantes para confirmar que a língua é contraditória?
Esse meio ácido em que estamos mergulhados nos afastam cada vez mais da natureza. Talvez os surfistas saibam melhor decifrar e adjetivar as ondas. Talvez o morador rural possa descrever seu “landscape” (paisagem) e organizar com suas palavras quando fala da natureza. Alguém da cidade que vai para o meio rural diz que “foi” para o mato. O homem do meio rural diz que “mora” no “mato”, entretanto, que visitou uma capoeira, onde lá existia um córrego, onde as cascatas jorravam, onde a mexeriqueira floriu.
O afastamento da natureza minguou muito a língua falada de quem mora na cidade. As palavras rotulam e fixam os “limites” da língua. Será que estamos trilhando um caminho certo onde a expansão ou o encurtamento da língua são seu espírito, no desejo dos homens?
Depende de nós usarmos e nos deleitarmos com palavras que já não usamos mais. O estilo aí toma o lugar de organizar essas porções de vontades humanas. O primitivismo na pintura regrediu a forma de pensar. No bom sentido se humilhou e desprezou as formas eruditas. No Brasil, Volpi deixou sua marca indelével. Talvez seja bom estar mergulhado no primitivo. Voltar às origens é um bom sinal de “recomeço” - apagar tudo e voltar às páginas em branco; sinal de confissão de erro. Tantos estilos foram criados e sempre os alternamos e os substituímos. Talvez fosse hora de “zerar” o tempo da arte, enfim recomeçar.
Um estilo único e responsável para a música talvez seja uma utopia, porém, aglutinar e perceber que um grande caldeirão semiótico cultural urge para pacificar a grande confusão de rótulos, seja uma grande saída. As nomenclaturas esbanjam sórdidos e pomposos conhecimentos como se fosse bom ter muitas palavras para uma mesma coisa. Assim os estilos que se repetiram ao longo da arte como em um ciclo vicioso se gabaram em dizer que eram diferentes. Balela, foram iguais. Suas nuances não se passaram de enfeites, adereços para dizer que foram um novo estilo, era apenas o “Eterno Retorno” que Nietzsche prescrevera.