(Fotos: Divulgação)
Beto Saroldi: Uma história com feras da música brasileira
Beto Saroldi, além de ser um músico extremamente competente, é um gentleman, pessoa amável, agradável, simpático e apaixonante. Num papo muito bacana, ele fala de sua carreira, desde o começo até o lançamento de seu CD com a participação de músicos brilhantes como ele. O saxofonista, compositor, arranjador e produtor musical prepara um novo álbum, o quinto de sua carreira solo.
Sua carreira começou em 1975 com Eduardo Dussek, que ele descreve como “naquele show espetacular que fizemos e que virou temporada no Teatro Opinião, em Copacabana”.
Mas bem antes disso, ele já tocava em bailes e festas desde os 11 anos como baterista. Só mais tarde foi estudar música no Instituto Villa-Lobos, começou a estudar flauta clássica e mais tarde saxofone com o grande mestre Paulo Moura. Como era um estudante muito disciplinado, logo começou a ser requisitado em estúdios de gravação.
Estreia no Teatro Opinião
Beto fala de sua estreia no Teatro Opinião, que foi emocionante, e com teatro cheio todos os dias.
- Foi uma experiência muito boa tocar com Dussek. Conheci pessoas maravilhosas nessa época. Marco Nanini, Sandra Pera e Nelson Motta foram algumas delas - diz.
Um pouco depois, em 1976, formou a Banda Manga Verde, que fazia uma mistura de MPB com os ritmos do Nordeste e assinou o seu primeiro contrato com a gravadora TopTape.
- Pela primeira vez, e ainda bem novo, ouvi um solo meu explodindo nas rádios de tanto sucesso que foi. Gostei demais daquilo. Senti uma sensação maravilhosa, sendo eu filho de um fiscal da alfândega, mas um aficionado por música e dono de uma coleção de discos impressionante. Muito de minha música vem desse clima incrível de meus pais. Fui criado em uma casa onde tinha Sala de Música. Sou muito grato por ter nascido nessa família - conta.
- E por isso eu sempre gostei de gravar discos, sou também um colecionador, e tornar-me músico de estúdio sempre foi meu sonho, e me realizo com esse trabalho e com o prazer máximo de subir ao palco e tocar ao vivo - completa.
Sax requisitado
Sax do artista já prestou boas colaborações com discos de muito sucesso
Muito requisitado, o sax do artista já prestou boas colaborações com discos de muito sucesso, mas foi na volta da tour de Erasmo Carlos com as Frenéticas, que ele, Erasmo, o convidou para gravar o seu disco de maior sucesso, “Mulher”, e foi com os solos de “Pega na mentira” e “Minha superstar”, que a vida mudaria totalmente no mercado fonográfico.
- Meu telefone não parava mais de tocar, e todos me queriam em seus discos, produtores, artistas e diretores das gravadoras. Com Erasmo eu gravei seus maiores sucessos e toquei em sua banda por muito tempo. Gravei também seu DVD de 2002, “Erasmo ao vivo”. Com ele tive o prazer de conhecer o Roberto, com quem gravei o especial de fim de ano da Rede Globo, e ainda participar com os dois quando venceram pelo conjunto da obra o Prêmio Sharp. Roberto é uma pessoa muito bacana e tremendamente carismático. Muito brincalhão quando ele se sente em casa com os músicos em seu camarim. Adora contar boas piadas. Erasmo é um amigo querido, e já pude passar vários Natais e muitas festas em sua casa. Muito observador, e isso ele acaba passando para sua música. Adoro Erasmo Carlos. E, com certeza, a música de Roberto & Erasmo é uma das mais influentes em nosso país. São artistas importantíssimos no cenário da música brasileira - diz.
Amigo de Wagner Tiso
O artista se tornou amigo de Wagner Tiso. Ele lembra como foi:
- Um músico extraordinário, um pianista sensacional e um maestro admirável. Estávamos num restaurante do Leblon à noite, quando sem eu esperar, Wagner me convidou para fazer uma tour com ele e o espetacular Lô Borges. Claro que aceitei o convite, e sabia que estava pronto para executar seus arranjos sofisticados. Eu estudava oito horas por dia de meu sax. Fizemos o show no Rio, e depois seguimos em turnê pelo Brasil. Tinham noites em que eu estava no palco, e mal podia acreditar que eu estava tocando aquelas músicas lindíssimas que eu escutava no disco “Clube da esquina”. Emoção demais pra mim, que o considero um dos melhores discos que já foi feito. Um discaço!
Logo depois Fagner o convidou para fazer parte de sua banda, e seguiram em turnê pelo Brasil com shows lotadíssimos, ginásios lotados, e chegou um momento em que tiveram que começar a fazer shows em estádio de futebol, tamanho era o sucesso. Tocou com ele em duas fases: em 1980, com ele completamente estourado com a música “Coração alado”, e voltou em 1988 e ficou até 1994. Ainda gravou alguns discos dele também.
- Essa era uma época muito boa pra mim, que era literalmente disputado pelos melhores artistas brasileiros. Mas tudo mudaria, porque eu sempre estava ligado a bandas instrumentais, e já vinha tocando com o Via Brasil há bastante tempo, e começamos a fazer bastante sucesso, com o bar “Existe um lugar”, no Alto da Boa Vista, o Via Brasil começou a lotar todas as noites, sucesso total, até que Liminha (produtor extraordinário e produtor musical de Gilberto Gil), foi nos ver tocando, e no dia seguinte, recebi uma ligação de Liminha, e logo depois do próprio Gil me convidando para entrar em sua banda. Ele estava em Israel, e me avisou pelo telefone que estaria chegando ao Brasil na segunda-feira, e eu estrearia na quarta-feira no Canecão. Fiquei surpreso, e ainda disse a ele: Gil, mas como? Sem ensaio? E ele me disse: Você não é solista? E foi assim que fiz minha estreia com esse músico extraordinário, um “Iluminado”, artista de primeira grandeza e que me levou para os melhores lugares do mundo, para os maiores festivais de jazz do mundo todo. Foram anos com a UmBandaUm. Tenho a honra de ser seu amigo até hoje e poder frequentar a sua casa. É um amigo muito querido! Amo toda a família, Flora, e os meninos todos! - detalha.
A hora da mudança
Quando tocou no primeiro Rock in Rio em 1985, logo depois, viajou de férias para Nova York com sua mulher e foi comprar novos saxes.
- Minha amiga Claudia Thompson, que mora em Nova York até hoje, era superdescolada e conhecia os melhores lugares de shows. Lembro-me bem de ter assistido ao primeiro show solo de Sting, depois de sua saída do Police. Foi demais aquele show! E continuamos a ver muitos shows de jazz nos clubes sempre cheios. Aquilo foi fundamental para mudar a minha cabeça, e quando voltei ao Brasil, fundei pela primeira vez a banda que levaria o meu nome. Desde 1985 venho trazendo o meu som para discos e shows - fala.
Como é o novo disco
Já lançou quatro CDs e acabou de preparar o seu novo disco, que está em fase final de arte gráfica da capa.
- É um disco espetacular, em que fiz 11 das 12 músicas. Três delas em parceria com o super “Bombom”, baixista, compositor e que fundou a Conexão Japeri, primeira banda com Ed Motta. Foi muito bom trabalhar com Bombom no processo de compor juntos, ele é muito perfeccionista, assim como eu, mesmo assim, foi muito fácil de trabalhar com ele, porque não precisamos falar tanto, a música ia fluindo, e o resultado ficou muito bom. Esse disco confirma cada vez mais o que eu venho fazendo em meu som há muito tempo, que é a fusão do jazz com a soul music da gravadora Motown. E para isso eu contei também com a participação do grande guitarrista e especialista nesse assunto, Fernando Vidal, que tem passagens importantes com Fernanda Abreu e Marina, e agora acompanha Seu Jorge. Fernando trouxe toda essa base Motown para o meu som, com um balanço impressionante. Um super guitarrista - comenta.
O artista teve o prazer de trabalhar com Reppolho na percussão, dando também um balanço muito bom ao disco.
- Reppa é um amigo dos tempos da UmBandaUm de Gil. Cleber Rennó, tecladista que toca comigo em minha banda há muito tempo, também participa do disco. O grande guitarrista Rick Ferreira, que trabalhou comigo nas turnês de Erasmo, está presente com seu violão e sua guitarra. E mais o guitarrista Alfredo Lima, meu parceiro Carlos Duba, assinando duas canções, os pianistas Lulu Martin e João Bosco (da Banda Vitória Régia de Tim Maia), o baterista Sérgio Naciffe (que gravou o DVD de Erasmo comigo) também participam do CD - diz.
Vocal em música instrumental
Em seu trabalho solo, ele costuma usar os vocais que dão um tom totalmente diferente ao som, e que o diferencia dos demais colegas.
- Eu não vejo ninguém usar vocal em música instrumental brasileira. Estão comigo Bettina Graziani, Jurema de Cândia (que canta com Roberto Carlos), Claudia Botelho e Antônio Quintella. Um disco feito com muito cuidado e com muita perfeição sonora. Totalmente gravado em meu estúdio, com a mais alta tecnologia de ponta com o que há no mercado. Um time de craques da música brasileira que vieram pra somar ao meu som com seus talentos, e a entrega que foi fundamental. Agora é esperar para a capa, que está sendo feita por Frederico Mendes, o mesmo que fez a capa de meu primeiro álbum, “Metrô”, ficar pronta e que venham as negociações com as gravadoras - ressaltou.
Um pouco sobre o artista
Com estilo marcante e suas influências de rock, MPB, soul music, jazz, blues e música clássica, foram inúmeras horas de estúdio e turnês no Brasil e no exterior, com nomes como Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Fagner, Wagner Tiso, Lô Borges, Fafá de Belém, Lulu Santos, Toquinho, Barão Vermelho, Zizi Possi, Capital Inicial, Joana e o fantástico Jim Capaldi, do legendário grupo inglês Traffic, entre muitos outros.
Em 1988 gravou seu primeiro disco solo, “Metrô”, com música na novela “Bebê a bordo”. O segundo CD, “Charm”, lançado em 1994, foi indicado ao prêmio Sharp de melhor disco instrumental, tendo em seu repertório a música “Balada do Otto”, feita por Saroldi especialmente para o personagem de Francisco Cuoco na novela “Deus nos acuda”. Participou também da trilha internacional da novela “Despedida de solteiro”, na faixa “Italian mission” - DJ Memê featuring Beto Saroldi.
Em 2000, lançou o CD “Visões de Você”, com apresentação de seu amigo Erasmo Carlos. Participa do DVD do Tremendão, “Erasmo ao vivo”, e no DVD “Concertos MPBR”, com Maria Bethânia, Zélia Duncan, Wanderléa e Erasmo.
O CD “Segredos do Coração” foi lançado em 2009. Sucesso de público, suas apresentações sempre com casas lotadas. O grande trunfo do sucesso tem sido a escolha do repertório formado por suas composições e fantásticas releituras de músicas como “Eu te devoro” (Djavan), “Noites com sol” (Flávio Venturini & Ronaldo Bastos), “Eva” (Lincoln Olivetti, Robson Jorge & Ronaldo Barcelos) e mega sucessos da música internacional como “What’s going on” (Marvin Gaye), “Let’s stay together” (Al Green) e “Rock with you” (Rod Temperton), que tanto ouvimos na voz inesquecível de Michael Jackson.
Quem é quem na banda
. Cleber Rennó - Piano e samplers
. Alfredo Lima - Guitarra
. Repolho - Percussão