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O contemporâneo não é importante, porque não se importa o que ele é; ele é o que é, porque marca um período na história da arte, é novo no começo de seu nascimento, depois fica senil
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O contemporâneo é agora, já, há luz! Um flash, uma torpeza, um insight são as marcas de um novo estilo. Mas para quê? Por que se inventam coisas novas? A nova música se aproxima, novos ritmos, as melodias velhas estão empobrecidas, desgastadas pelas mídias ou porque não espelharam nobremente o estilo que as determinou. A harmonia, então, está cansada e senil. Será preciso apimentá-la com acordes mais “dissonantes”. Mesmo assim, os artistas geralmente apresentam o novo estilo, como um ser de vestimentas de épocas anteriores, de cartola e fraque, por serem os mais conservadores. Os artistas que já adquiriram mais tarimba, mais fama e que já estão há mais tempo fazendo arte, tendem a ser mais tradicionais conservando o estilo anterior que será trocado por algo novo.
Contemporâneo! Clamam os baluartes das novas gerações. É assim que zombam o que se foi, a arte preterida, como retrógrada, ineficiente, passada. A partir do lançamento do novo, o que foi não vale mais, não vale a pena, só serve para o estudo de uma “evolução” - uma história da arte. Mesmo assim os colecionadores esbanjam suas riquezas, comprando por fortunas nos leilões as antigas peças artísticas, o que se despreza na visão contemporânea, estética e vanguarda.
Que rico tesouro é esse guardado nos museus e coleções particulares? Para que servem, se são rotulados de que já não mais produzem resultados culturais e sociais atuais, de mudanças de comportamentos humanos? Não foi assim o manifesto da semana de arte moderna de 1922? Desejavam mudar o Brasil. Através da arte mudariam a forma de pensar e agir do homem moderno da década de 20 influenciando épocas vindouras. O contemporâneo dessa época havia trazido da Itália o futurismo, o futuro, com seu movimento, a importação das ideias, o antropofagismo cultural.
O contemporâneo não é importante, porque não se importa o que ele é. Ele é o que é, porque marca um período na história da arte, é novo no começo de seu nascimento, depois fica senil. Ele existe porque existe. Daqui algumas décadas o nosso contemporâneo tornar-se-á apenas um amontoado de conceitos, ideias e objetos de arte delegados à história. Nos museus serão guardados como lembrança de um período - já não serão mais contemporâneos. Por que então designa-se esse título tão importante? Tão novo, tão jovem, robusto? Tudo o que é novo torna-se velho. O tempo corrói a arte, amadurece os desígnios artísticos. Estamos falando aqui, o que ocupa um lugar do instante, do átimo. Sem esse movimento não progredimos.
Mas para que o progresso? Subjugamos o ethos e o trocamos por outra mercadoria. O homem da arte é impulsivo e joga tudo para cima num ato de loucura bizarra. Não está satisfeito com nada, inventa seu contemporâneo para substituí-lo por outro contemporâneo. Mas não dá na mesma? Não. Troca o certo pelo certo, o errado pelo errado, o errado pelo certo e o certo pelo errado. Asseguramos que nada depende de nada. Nada importa, a não ser que joguemos fora a tradição. A pós-modernidade toma conta de interrogar tudo. Interrogando se inova, é o espelho e face do contemporâneo de hoje.