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São os estilos e o gosto que molduram a sociedade propondo uma tendência e te aprisionando nessa tendência
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A moda agora é a pós-modernidade. Quero mudar tudo e negar o passado como um movimento e paradigma que me afetou, me constrangeu e me direcionou para onde quis. Agora tudo mudou e sigo meu instinto, negando a própria filosofia. Quero e desejo que o estilo se perca, se desmanche, se torne o nada. Quero rejeitá-lo porque só assim compreenderei que o que era o tudo não faz mais sentido porque era falso e mentiroso, porque me enganou e acima de tudo me fez engolir esse costume e filosofia que vieram do passado como uma corrente e tentáculos de um polvo que te abraça sem largar.
“Desestilizar” seria uma ação libertadora que faria desaparecer de nossas vidas aquele ethos que propusera a Grécia com suas etnias, aplicando-o como um conjunto de regras aos seus cidadãos, como o que está escrito na República de Platão. A composição musical como qualquer outra espécie de criação artística, se não for uma proposição estilística inédita, inicia-se pela mimese, que é uma cópia do estilo reinante.
Se desejo compor um rock, imagino a batida deste, por exemplo com a bateria. A guitarra por sua vez com distorção e o baixo fazendo as tônicas com o um pedal. É sempre assim, as composições que obedecem e seguem um estilo seguem cânones já pré-fixados.
Canções para a MPB, reggae e outras tantas seguem seus estilos monótonos, cansativos, desgastados pelas vãs repetições de cânones advindos do primeiro músico que inovou. Alguém inventou e agora alguém torce um pouco a melodia pra cá, a harmonia pra lá, coloca-se uma letra com temas propícios e voilà, mais uma música para o cardápio já exaurido de tantas contorções e malabarismos para fugir do plágio. Os estilos nascem porque o antigo se exauriu. O novo aparece, contundentemente, algumas vezes como antítese, vez por outra, como novidade soberba tentando apresentar um mundo novo como quebra de paradigma.
“Desestilizar” talvez fosse uma proposta na essência das composições onde não haveria mais um estilo predominante. Faríamos composições sem um estilo determinado pelos costumes. Aceitamos muito do que vem à nossa boca sem perguntarmos como foi cozido. Como porque me dão na boquinha. Deveríamos questionar mais. Nos vestimos, comemos, pensamos, ouvimos, como os outros planejam, sem nos darmos conta de que este plano, talvez maligno, esteja cerceando nosso íntimo desejo e inclinação.
A humanidade e a sua sociedade está geralmente insatisfeita e, por isso, infeliz, gerando muita ansiedade à procura de algo que ainda não lhe ofereceram, ou depressiva odiando tudo o que consome, enjoada pela mesmice se disfarçando do “novo”. A proposta de desestilizar não seria apenas de variar o estilo, todavia, banindo-o e varrendo-o da apreciação humana. Como seria esse “desestilo”? Certamente com cara de nada. Não seria também um estilo niilista, mas pelo contrário, um comportamento individual criando multi-estilos, ou melhor, “desestilos”.
Esta é a visão da pós-modernidade que urge para nos questionar. Como chamaríamos o que substituiria o rock? Bock, lock, sock? Não. Não teria inclusive nome. Os nomes são pomposos e elitistas. Dizem até que alguns nomes de pessoas são feios porque não estão na moda. São os estilos e o gosto que molduram a sociedade propondo uma tendência e te aprisionando nessa tendência. Por que não poderia me chamar: X*8&34ANTROPEMAM? Essa é a proposta do “desestilizar”, quando varre e rebenta as correntes do gosto.