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Pesquisar não é um atraso, mas um ataque avante ao tesouro do erudito e uma melhor compreensão da vida
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Algumas pessoas almejam o “erudito” outras não. Para as que almejam, como consegui-lo? Se apoderar de um pensamento mais complexo exigirá muitas horas perdidas (ou ganhas) de estudo. O que lemos diariamente é o espelho de nossas faculdades mentais, somos o produto do que comemos intelectualmente. Muito do que lemos nos obrigará a uma pesquisa. Algumas leituras, ditas, fúteis por intelectuais exigentes, não passam a esses olhos eruditos de: água com açúcar. Algumas leituras apenas refrescam o cérebro, ou matam uma sede porque estavam num deserto, num sofrimento que clamava por palavras que eles mesmos gostariam que lhes fossem ditas.
Gostamos sempre de ouvir o que as pessoas falam de nós com base no que desejamos ouvir. Assim é a leitura água com açúcar: não precisamos ruminar nem pensar muito. Não precisamos debater e entrar em conflito, porque a polêmica nos cansa. Quando discordamos de alguma leitura ou não entendemos muito bem o que se está falando, precisamos pesquisar para encontrar a verdade ou o erro que poderá estar em nós ou em quem escreveu. Acostumar-se ao “novo” é pesaroso. O peso mais pesado é aquele que devemos reviver, o eterno retorno. O eterno retorno ao dicionário, ao Google, à internet, à pesquisa que “retarda” a leitura que deveria ser “fluida”. Ler algo complexo é como temperar uma comida, estamos sempre experimentando e aprimorando.
Vontade de contemplação
A preguiça, letárgica por si, faz parte desse ar tropical em que vivemos, como nos banhos de rio ao sol de uma praia fluvial, marítima. A floresta nos abraça e já não mais precisamos de leitura nenhuma, só nos resta o deleite da paisagem e a vida primitiva. Somos seres primitivos quando negamos a escrita que veio para nos confundir e tirar-nos a paisagem, o convívio da natureza, trancafiando-nos em uma pequena tela onde pixels estão coalhados de imagens e códigos que tentam explicar e aprisionar o real. Alguns povos primitivos tinham receio de que suas almas ficassem presas dentro de uma máquina fotográfica. Esta é a face da labuta erudita intelectualizada, trocamos a preguiça primitiva por uma leitura enfadonha nietzschiana, cartesiana, socrática que muitos enjoam como estivessem num barco à deriva naufragando num mar de palavras difíceis de entender, de engolir.
Por favor, a preguiça não deverá aqui conotar um vício aristotélico, ou erro, ou falta, mas apenas a vontade de contemplação. Por outro lado, a preguiça intelectual nos afastará sempre da “pesquisa”, contudo, é essa que nos faz “crescer”, talvez por outros olhares, “vida”. Inicia-se aqui um embate entre o se intelectualizar, privando-se da vida real e o viver primitivo dionisíaco. Podemos considerar que privar-se das paisagens e dos banhos de rio, estaríamos caindo e nos entregando num ascetismo. Nietzsche dedicou um belo capítulo sobre esse tema em sua obra “Genealogia da Moral”, quando afirma que os filósofos são ascetas, incluindo sua própria pessoa no rol dos grandes filósofos.
Vida de privações
Sabemos que o ascetismo é o ato de se entregar a uma vida de privações, como o jejum por exemplo, para conseguirmos alguma recompensa em outra vida, ou mesmo nesta, como honrarias e coisas que, por exemplo, nos tiram a própria vida real. Nesse caso, a busca da erudição nos causaria um afastamento da vida, onde essa se materializaria no deleite das praias, da boa mesa, dos amores, da música, da dança, dos passeios. Nietzsche se gabava em afirmar que havia seis meses que não lia nenhum livro. Esse grande filósofo enalteceu a vida real. Mesmo como um grande erudito e asceta, mais tarde percebeu que a intelectualidade deveria ser buscada à custa do banimento da vida com suas práticas. Contudo, esse dilema será resolvido pessoalmente, quando cada um busca seus interesses, dividido entre o real e o virtual, entre a leitura e as praias, entre o livro e o beijo.
Para quem quer a vida real não intelectiva, poderá pagar o preço de um mundanismo inócuo, contudo, simplesmente feliz à sua maneira. Muitos não querem expandir seus conhecimentos, um pouco basta para viver, como opção de que isso lhes fazem bem. Fotos no Facebook são as preferidas de quem pouco fala ou se exprime. Uma pose sensual, provocativa, às vezes também falsa, certamente terá mais “curtidas” do que um longo e belo texto filosófico. Algumas pessoas não têm tempo de ler essas coisas tão longas e tão incrivelmente elucidantes da vida, como textos que falam das experiências pessoais e que nos ensinam muito a não errar. Esses textos no Facebook não dão ibope. Se a partir de hoje se começar a ler todos os incríveis textos longos do Facebook, algumas pessoas não terão tempo de agradar centenas de amigos todos os dias, aliás, tempo é curtida.
Na era do fast-tudo
A intelectualidade, a cada dia foge, faz menos adeptos e escapa cada vez mais de nossos dedos. É uma assombração, um fantasma que afugenta os seres mortais. Talvez seja por isso que os fast foods fazem tanto sucesso. A velocidade de deglutição está sempre à frente do refinamento e vagorosidade de experimentar o sabor individual sem pressa. Estamos na era do fast-tudo. Essa velocidade de aprendizado tem que ser rápida, não posso parar para consultar o que não entendo e o que não sei. Não posso perder tempo, tempo é curtida no Facebook. Não indico leituras como Nietzsche para quem não quer perder seu tempo com pesquisas. Apesar de ser a bola da vez, atualmente, Nietzsche está sendo “pasteurizado” e mal-entendido. A velocidade de entendimento distorceu seus conceitos mais profundos, que pena! Vale ressaltar que antes dele a bola da vez foi Freud.
Para fazermos parte de uma cultura complexa deveremos aprender a esperar. Paciência é o melhor remédio para a enxaqueca da leitura pesada. Avançar, porém, não é tudo. Às vezes temos que recuar na batalha. Recuar e pesquisar não é um atraso, mas um ataque avante ao tesouro do erudito e uma melhor compreensão da vida.
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