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Por que e para que tanta pressa? O intelecto não vai a lugar nenhum. Quem vai é o corpo. Qual é a direção do lugar nenhum? A nenhum lugar.
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O mundo gira. É uma roda gigante? É uma bola terrestre girante. É o nosso parque de diversões, onde habitamos, e não nos conscientizamos de maneira precisa essa realidade. Se estivermos aqui para sofrer, acho que estou numa vida errada. Sofrimentos acontecem e passam, são passageiros, são os incômodos de uma agradável viagem. Moê-los diariamente, fazendo-os voltar à tona num delírio, quando já passaram, é um triste flagelo que açoita os que sentem prazer nas dolorosas lembranças do passado. Passou! O voltar às tristes lembranças é tocar um disco de vinil arranhado, que sempre repete a mesma faixa. É a roda viva, da vida, como um moedor de vidas, que também gira. Nossa vida está com pressa. Mas não precisamos girar com o mundo, porque ele já gira por nós. Peço, por favor, que parem o giro! Não quero mais girar o mau giro.
A mídia quer que giremos por sua vontade. No seu tênue disfarce, que esconde seu autoritarismo, diz: - Troquem a faixa do rádio, troquem o canal. As novelas que duravam meses se tornaram séries. Tudo tende ao menor. A pressa é o desejo do menor. O maior se isolou, foi escondido numa velha garagem, ou num quarto de despejo porque era grande, ocupava muito espaço. É grande demais, não cabe no bolso, precisa ser um pen drive, um microchip. O livro grosso, nunca lido, geralmente um GUB (great unread books, grandes livros não lidos como “Dom Quixote”), está agora apoiando um pé de mesa quebrado. Por que e para que tanta pressa? O intelecto não vai a lugar nenhum. Quem vai é o corpo. Qual é a direção do lugar nenhum? A nenhum lugar.
Estamos procurando um lugar inexistente onde habita o vazio. Infelizmente, procura-se o distraído efêmero, a arte menos reflexiva, a música mais doce, o amor lascivo rápido. O sagrado foi trocado pelo banal. Separamo-nos de tudo - das nossas verdadeiras vontades porque são eleitas como complexas e elitistas. O bullying social imposto pelo “ethos” assusta todos, como um fantasma. Estamos sendo vigiados pela opinião da maioria. Então façamos igual. Comportemo-nos como todos se comportam! A cidade está sendo atacada pela pressa, vamos correr também. Estão todos correndo em direção a lugar nenhum. Façamos como Diógenes de Sinope que correu quando Atenas foi invadida. Perguntaram-lhe: “Por que também corre, você é só um andarilho?” Diógenes respondeu: “Estão todos correndo, então, também eu corro”. Esqueceram os atenienses que ele era um filósofo, um cínico, sem orgulho como o de Platão com sua academia. O cinismo deverá ser usado para não só afrontar, mas velar com respeito a atitude de quem tem a pressa do lugar nenhum. A coragem do cinismo aparta os que têm direção, dos que ainda não encontraram um verdadeiro caminho.
A frase que encabeça o título desse artigo não é minha. É um grande tema. Sempre é hora de aprender com o outro, sem pressa de não encontrar de imediato um caminho. Mozart conheceu Bach e se encantou. Os temas estão aí para que se aproveitem deles. Com resguardo, admissão, permissão, devemos movê-los para frente. Os mestres e amigos filósofos são um presente para nossa vida. Obrigado pela frase, amigo e conselheiro de tesouros! Colocá-los em um pedestal nos afastaria deles - que são os que nos querem bem. Melhor é tê-los cochichando em nossos ouvidos dizendo frases e tecendo comentários preciosos. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”. Por favor, passe para frente sempre o que ouviu de alguém que não te apresse e que te mostre o caminho que deverá ser percorrido lentamente. “Quem tem as minhas palavras e as guarda, esse é o que me ama”.
Preciso passar um cochicho: A frase enigmática do título pode não fazer muito sentido para os apressados, mas com certeza um bom conselho para os que querem a melhor direção: “A pressa em direção a lugar nenhum”.
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