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Loucura Quixotesca

O moinho

A esperança é a energia, é o vento que move o gigante que nos ataca, nossa ilusão do mal; a esperança acalma o vento que logo passa

Música  –  15/07/2020 19:04

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(Foto Ilustrativa)

“Dom Quixote”: A música sempre quer uma recompensa como Sancho Pança quis nossa atenção

 

> Confira todas as colunas "Descobrindo a Música", do músico (e arquiteto) Ricardo Yabrudi 

Para Dom Quixote os moinhos eram gigantes. Quantos gigantes haveremos de enfrentar todos os dias? Se gigantes são moinhos para Miguel de Cervantes, o autor de “Dom Quixote”, por que para nós não? Um grande autor sabe e conhece bem a loucura. Por que, então, nós não poderíamos entendê-la também? A grande literatura nos alerta sobre os perigos que a loucura humana vê num grande amor.

Entretanto, vislumbra uma confusão, não entende bem o real. Ficamos cegos quando ouvimos música, é a loucura quixotesca. A loucura é a cegueira do real porque os olhos estão fechados ouvindo a música das esferas de Platão. Contemplamos o sol, os planetas, a noite, o verão, a tarde, o frescor. Numa rede descansamos nossos problemas. Já é outro dia. Não enfrentamos nosso gigante, só adiamos o ataque, não é covardia, é prudência. O vento que sopra uma trompa, ou um shofar que anunciou o ataque em Jericó, é o mesmo que move os braços do moinho quixotesco. Os ventos são energia para os moinhos gigantes, ou os gigantes moinhos. É também energia para o sopro das musas que cantam o destino - as três moiras: Láquesis, Cloto e Átropos. A primeira canta o passado, a segunda, o presente e a terceira o futuro. 

O vento que balança os ramos do coqueiro é o mesmo que afugenta as nuvens negras - suas folhas, palhas secas, caem-me no colo. Dom Quixote atacou o moinho que girava pela energia do vento - machucou-se todo. Deveria ter atacado o vento, a energia. Nós também atacamos o nosso moinho ao som de uma marcha. Nosso exército se compõe apenas de um só soldado - o nosso eu. Como Dom Quixote, nós também somos solitários, somos andarilhos de nossa própria esperança. A esperança é a energia, é o vento que move o gigante que nos ataca, nossa ilusão do mal. A esperança acalma o vento que logo passa! 

Onde estará nosso Sancho Pança? Nosso escudeiro é a música que nos faz fortes - é a nossa arte que nos faz poderosos, é nossa companhia, nossa serva. A música sempre quer uma recompensa como Sancho quis nossa atenção. Sabendo de nossa loucura inata, até um pouco cartesiana, ela nos leva para seu berço metafísico. Lá ouvimos “berceuses”, cantigas de ninar e “barcarolles”, que nos fazem navegar num mar que não tem fim. A música chega ao destino dos ouvidos e gritamos: - Terra à vista! É uma terra, agora, sem gigantes.

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Por Ricardo Yabrudi  –  yabrudisom@hotmail.com

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