(Foto Ilustrativa)
A ressurreição mágica vai depender do gosto de quem as ressuscita
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Música é aquela que faz chorar, lembrar o berço? Sim! Aquela que tem o som da morte, réquiem que vela uma cultura musical. A música será eterna enquanto houver seu registro. Seu túmulo é uma partitura, a própria lembrança, quando aos seus pés o músico a visita: leva flores, canta e toca, para que ela reviva. Essa sua nova ressurreição se finda com sua nova morte, o fim da audição.
O músico carrega túmulos - tanto no pentagrama como na lembrança. Se ele toca de ouvido, as almas musicais vêm como incenso, fecha os olhos deixando viver novamente a velha canção adormecida na lápide. A música, a canção, não morre, apenas revive a cada instante em que são lembradas. São almas que saem do ventre da terra para atormentar o desejo de vê-las novamente - triste saudade que se torna alegria na ressurreição.
Por que se revivem certas músicas e outras não? Elas só existem ao serem tocadas - espíritos encarnados. Sem o desejo de as ouvirem é matéria inerte, abstração, enterradas no jardim do esquecimento. A maioria foi abandonada - já não levam mais flores aos seus gélidos pés. A ressurreição é necessária. Contudo, só fazem reviver de maneira contumaz os hits, os sucessos imediatos das mídias. As belas e esquecidas que o tempo levou são apenas fumaça de outrora.
O perverso ciclo da moda vai desencarnando vagarosamente a carne de seus ossos, envelhecendo, criando rugas, quando nessa transformação em desgaste as novas gerações não mais as reconhecem, estão pálidas, em uma geladeira, no fundo da terra em companhia de Gaia. Seu valor se perdeu no tempo, nas cores, nas harmonias e melodias de décadas passadas.
Agora as novas ressurreições são destinadas, consagradas a um avanço tecnológico como o fim de um processo histórico musical. Os que respeitam o belo musical dançam nos túmulos em merecimento, choram neles para fazer sorrir novamente o homem ávido da boa música. A música colore seus desejos mais profundos. Essa ressurreição mágica vai depender do gosto de quem as ressuscita.