(Foto Ilustrativa)
Este é um país que não nasceu, mas foi cagado...
Renato Barozzi
Um completo absurdo aquela obra da Acciona entre os bairros São Luiz e Brasilândia, em Volta Redonda. Começou na quarta-feira, 30 de janeiro, e continuou ontem, 31. Já decidi: vou voltar a pé para casa.
Fazem uma operação de recapeamento asfáltico num trecho ínfimo, invadindo sem pedir licença a vida das pessoas que vivem no entorno. Conversei com pessoas que levaram três horas parar percorrer uma distância de cinco quilômetros e meio. Vi outros descerem dos ônibus e seguirem a pé para suas casas às nove da noite. Conversei com um rapaz que me relatou que estava desde as cinco horas da tarde no ponto, ele seguia a pé para sua casa que devia estar a cerca de três quilômetros a frente.
Liguei para o número disponibilizado pela concessionária e relatei o que acontecia. Uma atendente bastante educada me disse que já havia registrado inúmeras reclamações iguais à minha. Deixei bem claro que nós não somos contra as operações de pare/siga. Sabemos que as obras são importantes, mas nós também somos. Temos horários a cumprir. Eu estava com duas crianças chorando dentro do carro.
Quando isso acontece na estrada, no meio do nada, é compreensível, pois quando saímos para viajar estamos mesmo sujeitos a esse tipo de coisa, mas a 500 metros de casa ficar parado sem poder chegar por causa de 200 metros de uma obra que qualquer mutirão comunitário de fim de semana resolveria o problema, é inadmissível.
Falta planejamento, falta comunicar à população, não estão fazendo obra no deserto, mas numa região de densidade demográfica considerável. Vocês estão trabalhando, mas nós também temos que trabalhar, temos que levar nossos filhos aos seus compromissos sociais, profissionais e esportivos.
Quando se privatiza um serviço público, nós esperamos no mínimo respeito, atitude que o governo nunca teve em relação aos usuários de seus serviços. Sejam profissionais responsáveis, não ignorem a necessidade dos usuários da rodovia.
A Acciona é de capital espanhol. Duvido que em qualquer cidade da Espanha, ou em qualquer país sério, eles fazem uma obra dessa maneira. Parando o trânsito como bem entendem sem se importar com as consequências.
Fazem uma obrinha parecer algo grandioso pela extensão do engarrafamento. Quando na verdade, grandiosidade só há no despreparo e incompetência de quem liderou essa operaçãozinha tapa-buracos.
O pior é que nessas horas não vemos uma alma viva da imprensa cerimonialista ou algum repórter de programa de rádio/agência de publicidade para mostrar, questionar, cobrar e apoiar a população revoltada com a falta de consideração, atenção e respeito.
Façam, mas façam direito.
Em tempo: Fico absorto em ver o governo se ocupando em proteger espécimes de "insetinhos" ao avaliar a emissão de uma licença ambiental para a construção de um empreendimento, ao mesmo instante em que não se importa em fiscalizar esse tipo de intervenção na vida de pessoas impedidas de ir e vir, comprometendo assim a produtividade do país.
Êta lugarzinho esse! Este é um país que não nasceu, mas foi cagado...
> Renato Barozzi é administrador, professor, historiador, bancário, cronista e integrante da Academia Voltarredondense de Letras