(Foto: Divulgação)
O nome da mostra - “ÀMì” - vem da língua yorubá e significa “símbolo”; ela era falada pelo povo de mesmo nome escravizado e comercializado na Costa dos Escravos e trazido ao Brasil na diáspora africana no século XIX
A galeria do Sesc Barra Mansa recebe, a partir de sexta-feira (23 de fevereiro), a exposição “ÀMÌ: Signos Ancestrais”, que estava em cartaz no Centro Cultural Arte Sesc, no Rio de Janeiro, desde o ano passado. Com pinturas, esculturas e serigrafias que jogam luz sobre os significados dos cultos de matrizes africanas, a mostra exibirá na unidade oito obras assinadas por Guilhermina Augusti, Raphael Cruz e Emanoel Araújo - artista plástico baiano que morreu em 2022, um dos principais nomes das artes do país e fundador do Museu Afro Brasil, em São Paulo. A exposição será aberta, às 19h, com show dos percussionistas Uirá e Tolen. A entrada é franca.
O nome da mostra - “ÀMì” - vem da língua yorubá e significa “símbolo”. Ela era falada pelo povo de mesmo nome escravizado e comercializado na Costa dos Escravos e trazido ao Brasil na diáspora africana no século XIX. Antes residente abaixo do deserto do Saara, o povo nagô, como ficou conhecido no Brasil, possuía uma riqueza de ritos, cultos e pensamento matemático que acabaram sendo incorporados ao Brasil como parte da cultura nacional.
- Estimulados pela obra de Emanoel Araújo, constante da Coleção Arte Sesc, percebemos um jogo dual que o grande artista nos propunha. Por um lado, a geometrização abstrata, formal; por outro, cores que se relacionam aos cultos afro-brasileiros. Decidimos, então, seguir essa rota, perguntar ao presente sobre o legado deixado por Araújo nas criações mais recentes - explica o curador Marcelo Campos, fazendo referência aos artistas convidados, Guilhermina Augusti e Raphael Cruz, nomes da nova geração cujos trabalhos dialogam em significado com a obra de Emanoel.
O embrião de “ÀMÌ: Signos Ancestrais” foi uma peça de Araújo que estava exposta em uma área externa do Sesc Copacabana. A obra, sem título, data de 1985, foi feita em madeira policromada e tem 2,5 metros de altura e 1,6 metro de largura. Após restauro e tratamento curatorial, a obra voltará ao circuito das artes visuais.
- A obra ficou durante muitos anos alocada em uma região externa do Sesc Copacabana, aberta à visitação do público, mas não participando de um circuito expositivo. Ela compunha o design da entrada do espaço, sem um diálogo conceitual e curatorial, nem identificação - explica Ana Paula Rocha, museóloga do Sesc RJ.
- A partir da identificação do trabalho, nós fizemos um diagnóstico do estado de conservação, identificamos se as cores são originais, reintegramos algumas perdas na estrutura, que são naturais por causa do tempo e da exposição às intempéries do clima, e fizemos um trabalho de descupinização. Tivemos toda uma preocupação em cima desse acervo para que ele estivesse em plenas condições de exibição, mas respeitando o preceito da interferência mínima - acrescenta a museóloga.
Além da obra restaurada, as demais peças da exposição são trabalhos comissionados para a exposição assinados por Raphael Cruz e Guilhermina Augusti.
Artista trans criou a bandeira hasteada no MAR
A artista trans Guilhermina Augusti vem elaborando reflexões sobre o corpo e suas diversas metamorfoses, utilizando imagens de cunho histórico para recontextualizações. Foca, sobretudo, nas relações entre gênero, sexualidade e racialidade, valendo-se de geometrismos, símbolos e simbologias. Um exemplo é a bandeira hasteada pelo Museu de Arte do Rio (MAR), em maio de 2022, com as palavras Atravecar e Escurecer, obra selecionada no 8º Prêmio Artes Tomie Ohtake.
Nascido na periferia, artista carioca fez residência em Berlim
Nascido e criado no bairro de Irajá, Zona Norte do Rio, Raphael Cruz passeia pela pintura, fotografia, performance e escultura. Suas obras são consideradas uma continuidade orgânica da arte clássica africana em linguagem contemporânea conectada à tríade forma, cor e ritmo - em correlação a signos sacros afrodiaspóricos. Após residência em Berlim, na Alemanha, teve seu trabalho exposto na mostra Nova Vanguarda Carioca, com curadoria de Gringo Cardia, em 2022, na Cidade das Artes.
> Exposição ÀMÌ: Signos Ancestrais - Sesc Barra (Avenida Tenente José Eduardo, 560, Ano Bom). Abertura: 23 de fevereiro (sexta-feira), às 19h. Período de visitação: Até 14 de julho. Terça a sexta-feira, das 9h30 às 20h30h, e sábado, domingo e feriados, das 9h30 às 17h30. Entrada franca.