(Foto Ilustrativa)
Agora, mais do que nunca, é a hora de falar
Publicada em: 04/11/2015 (11:08:55)
Atualizada em: 10/11/2015 (10:10:47)
Então o Enem decidiu colocar seus mais de 7 milhões de inscritos para pensar sobre a violência que toda mulher sofre neste país dia a dia. E logo foi acusado de ser uma prova marxista-feminista-bolivariana-socialista-demerda (não sei se esqueci algum adjetivo utilizado, me ajudem aí), como se realmente estivesse tudo certo em nossa sociedade e as mulheres não sofressem violência morais, físicas e psicológicas diariamente. Isto na mesma semana em que uma menina de 12 (doze!) anos participante do Master Chef Jr foi alvo de inúmeros comentários de cunho sexual, diante de sua beleza. Fato que gerou a hashtag #primeiroassedio, criado pelo coletivo Think Olga para as mulheres deste Brasilzão de meu Deus relatarem sobre a primeira vez que se sentiram assedias na rua, na escola, em casa, ou seja, na vida. Em menos de uma semana, ou até o domingo em que o Enem foi realizado para ser mais precisa, eram 82 mil tweets sobre o assunto. Oitenta e dois mil relatos de assédio sofridos, em sua maioria, na infância. Assustada com a quantidade de relatos, vindos até de amigas que nunca falaram nada sobre o assunto Jout gravou o vídeo sensacional Vamos fazer um escândalo em que conclama as mulheres a relatarem seus casos de assédio e não fazer com que os mesmos se tornem algo normal, que não precise ser escancarado para ser, enfim, mudado.
Eu já sofri assédio, minhas amigas, com certeza, já sofreram algum tipo de assédio, minha mãe, minha tia, minhas primas, a vizinha aqui do lado, acredito que 99,99% das mulheres e meninas já sofreram algum tipo de assédio. E, por favor, não venham dizer que assédio não é uma forma de violência, porque é sim. Somos violentadas quando o cara na balada se acha no direito de puxar nosso cabelo, ou forçar um beijo, ou, ainda, nos insulta quando dizemos que, definitivamente, não queremos nada com ele. Somos violentadas no transporte público lotado, onde sempre tem alguém nos encoxando (para falar no popular). Somo violentadas quando, ainda crianças, um parente ou alguém conhecido passa a mão na nossa coxa e diz que é carinho. Somos violentadas quando um ser fala obscenidades para nós na rua. Somos violentadas quando usamos a roupa que queremos e somos vistas como um pedaço de bife. Somos violentadas quando acham que a culpa de um relacionamento dar errado é sempre nosso ou quando fazemos o que quisermos de nossas vidas e somos acusadas de nomes impublicáveis. Isso sem contar a violência doméstica, os abusos morais e sexuais vividos no trabalho, no meio acadêmico, as cantadas inoportunas.
Qualquer cidadão deste país, infelizmente, tem medo de ser assaltado, sequestrado. Nós, mulheres, acrescentamos a esta lista o medo de sermos estupradas. Aliás, acredito que para a maioria das mulheres, o medo de sofrer violência sexual é muito maior do que o medo de qualquer outro tipo de violência. Vocês sabiam que mulheres são estupradas por seus próprios maridos? Sim, porque qualquer sexo não consensual é estupro.
São tantas as formas de violência sofridas pelas mulheres que chega a ser inadmissível que argumentem que o tema da redação do Enem é uma questão política, que está fora de nossa realidade. O tema da redação apenas refletiu o que nós mulheres vivemos diariamente, por muito tempo caladas. Agora, mais do que nunca, é a hora de falar e lutar para que nossa sociedade seja realmente igualitária e temas de redação como este não façam mesmo nenhum sentido. A luta é pela conscientização de que somos todos iguais e temos os mesmos direitos e todos devem ser respeitados.