(Fotos: André Aquino)
Entrada acolhedora: Cidade, com clima europeu, tem o segundo PIB per capita de Santa Catarina
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A garoa, o vento frio e a baixa temperatura são contrastadas com o sorriso, a alegria e a beleza do povo de Treze Tílias, no oeste de Santa Catarina. A cidade é conhecida como Tirol Brasileira, um dos nove estados austríaco. A coluna “Visão Crítica” a visitou e constatou: há um pedaço do pequeno país europeu no Brasil. Isso não é apenas um denominação para atrair turistas ao pequeno município de sete mil habitantes. É de fato. Treze Tílias é a única cidade do interior do país que possui um consulado, o Austríaco. As demais são em capitais do país.
Com forte sotaque alemão e a aparência física europeia, a população de Treze Tílias não abre mão de deixar a localidade com as características austríacas: as casas são pintadas de bege e com as janelas de madeira.
- Isso é para enfatizar as flores dos jardins - explica a guia turística Verônica Knolseisen, que recebe visitantes na cidade há 26 anos, e acompanhou o jornalista da “Visão Crítica”.
> Único município do interior com consulado
Mas não só as características arquitetônicas que são preservadas. A língua do país também. Há duas escolas públicas que oferecem aulas gratuitas de alemão à população do município. Os salários dos professores são pagos pelo governo austríaco.
- Eles estudam para preservar a história da cidade - conta Verônica, exemplificando na sua própria família: A avó dela, que foi uma das primeiras moradoras da cidade, nunca aprendeu a língua portuguesa - E ela tinha orgulho disso.
E mais: Treze Tílias é oficialmente cidade coirmã da Wildschonau, no estado de Tirol, na Áustria. A cidade brasileira preserva bandas, corais e grupos de dança inspiradas no país europeu.
O que é natural para os moradores do interior catarinense, surpreende os turistas:
- Quando cheguei ao município o que mais me surpreendeu foi a limpeza das ruas. E o amor e o cuidado da população com a cidade - disse a artista plástica Rita Maria Cabral, 70 anos, de Volta Redonda.
"Crise não chegou aqui"
A frase acima foi dita pela guia Verônica, que continuou:
- Não temos desemprego. Aliás, importamos mão de obra de cidades vizinhas. Aqui temos alto poder aquisitivo. Não temos escolas particulares porque as públicas são excelentes.
As informações da guia turística são comprovadas com os dados do governo federal. O PIB per capita de Treze Tílias é o segundo melhor de Santa Catarina: R$ 47, 7 mil. E ainda: o índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é alto, com 0,795 pontos.
Mas quem pensa que o turismo é o principal setor da economia está enganado. Ela ocupa a quarta posição, atrás da pecuária, indústria e comércio, segundo a Associação de Turismo de Treze Tílias. São 46 estabelecimentos industriais, outros 107 autônomos (incluindo pecuaristas) e 131 comércios.
As flores do cemitério turístico
O mórbido natural dos túmulos, em Treze Tílias, é quebrado pelas flores constantes no local
Dos pontos turísticos visitados pela “Visão Crítica”, o que mais chamou a atenção é o cemitério municipal. O mórbido natural dos túmulos, em Treze Tílias, é quebrado pelas flores constantes no local.
- Esquecemos que tem morte aqui - resume o aposentando Antônio Luiz, 74 anos.
Há uma explicação para a beleza do cemitério. Ele fica atrás da igreja matriz da cidade, como acontece nas pequenas cidades europeias.
- Depois da missa, os familiares vão até os túmulos para cuidar dos entes queridos já falecidos - explica a guia.
Como tudo começou
> Estátua do fundador da cidade Andreas Thaler, austríaco que fugia da Guerra Mundial
Treze Tílias foi fundada em 13 de outubro de 1933, por imigrantes da região do Tirol que fugiam da grave crise econômica na Europa. Devido à Primeira Guerra Mundial, a economia austríaca estava abalada e o então ministro da agricultura da Áustria, Andreas Thaler, resolveu emigrar para o Brasil acompanhado de algumas famílias de emigrantes austríacos do Tirol e demais regiões austríacas, em busca de melhores condições de vida. Chegaram ao centro do estado de Santa Catarina, onde encontraram um clima temperado, semelhante ao clima europeu, e terras férteis, propícias para a fundação de uma colônia
- Andreas Thaler chegou ao país e logo comprou um mapa de Santa Catarina numa livraria. No local, ele encontrou o livro austríaco, chamado de “Treze Tílias”. A felicidade dele foi tanta que Andreas resolveu colocar o nome da nova localidade - explicou a guia turística.
Após respirar o ar austríaco de Treze Tílias, a coluna “Visão Crítica” começa a sentir o cheio do chimarrão do Rio Grande do Sul nesse desbravamento da região do país mais parecida com a Europa.