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Aula de Determinação

Jovem tenta garantir direito à educação

Vítima de tetraplegia, Luiza Teles, 11 anos, enfrentou todo tipo de adversidades e discriminação em sala de aula; família recorreu à Justiça para mantê-la na escola regular

Pelo Brasil  –  12/01/2013 20:10

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(Foto: Divulgação)

"Quem sabe em 2013 algum colégio me aceite"

 

Com apenas 11 anos, mas muita determinação, a pequena Luiza Teles luta para garantir seu direito à educação. Aluna do 6º ano do ensino fundamental de uma escola particular de Brasília, a jovem tem paralisia cerebral e tetraplegia. Em função disso, ela enfrenta a discriminação, falta de adaptações do conteúdo programático, método pedagógico, material didático e despreparo dos professores. 

Desde o nascimento, Luiza enfrenta dificuldades. A paraense deixou sua cidade natal, Belém, ainda aos 3 anos, para buscar mais recursos para seu desenvolvimento no Hospital Sarah Kubistchek, em Brasília. A mãe, a publicitária Graziella Matos Teles, 42 anos, não mede esforços para ajudar a filha. Ela largou a profissão para fazer enfermagem e poder cuidar da filha.

- Até os 8 anos da Luiza, tivemos muitas dificuldades na escola em função da saúde frágil dela. Mas, ainda assim, tinha um bom desempenho escolar - conta Graziella. 

Apesar das limitações físicas, Luiza tem a inteligência e funções cognitivas normais para a idade, o que a tornam capacitada a executar normalmente suas atividades escolares. Seu elo com o mundo é um notebook que ganhou do tio quando tinha apenas 3 anos. Ela manuseia o equipamento movimentando apenas um dedo.

- Luiza sempre teve grande destaque na escola, com medalhas e diplomas de aproveitamento. Nunca foi reprovada ou ficou de recuperação - lembra a mãe, orgulhosa. 

Um quadro estressante 

Matriculada desde o início de 2012 em uma escola particular, Luiza se saiu bem no primeiro semestre escolar. Mas a discriminação e falta de estrutura e despreparo da escola criaram um quadro estressante para ela.

- Apesar da rotina exaustiva, ela cumpria todas as obrigações. Ficava muitas vezes até tarde da noite para terminar todos os deveres. Mas, infelizmente, a educação continua arcaica. As turmas são cheias e o ensino se resume ao quadro negro e papel - diz a mãe. 

A menina reclama que os seus deveres não eram corrigidos e não tiravam suas dúvidas em sala de aula. Segundo Graziella, quando a jovem participava da aula e fazia questionamento era tolhida e discriminada pelo professor de uma das disciplinas.

- Muitas vezes, Luiza era a única que tinha coragem para questionar e perguntar. Os demais alunos sentiam medo de interromper a aula e acabavam levando a dúvida para casa.

De acordo com a mãe, Luiza era solicitada para copiar a prova no caderno, embora o professor soubesse da limitação da jovem com a escrita. 

Desmotivada, veio a crise depressiva 

Em crise depressiva, Luiza teve de se afastar da escola. Sob uso de medicamentos, ela está longe do convívio dos amigos e fora da sala de aula desde setembro. Amante da área de ciências, Luiza sonha em ser médica e cuidar das pessoas.

- Ela está sem perspectivas. Tiraram o maior sonho dela, o de estudar e de ampliar a fronteira do conhecimento. Tiraram o direito mais importante que ela tem. Ela não dorme direito, não come. Não quer mais estudar ou ir para qualquer outro colégio - lamenta a mãe. 

Devido ao quadro de saúde de Luiza, a escola sugeriu a repetição das notas obtidas nas primeiras avaliações e aplicação de prova única de avaliação na residência da aluna para finalizar o ano letivo.

- Isso não garante o mais importante à Luiza, que é o direito ao convívio com os alunos, ao aprendizado, e à vivência do ambiente escolar. Não houve manifestação da escola da forma de se ministrar o conteúdo programático para que a aluna não perdesse o ano. Tivemos que garantir isso na Justiça. Mesmo aprovada e com boas notas, o que mais importa é o aprendizado e pré-requisitos que ela terá - explica o advogado do caso, Alexandre Simões Lindoso. 

Ele ainda explica que a lei é clara ao garantir o acesso à educação regular a estudantes com deficiências.

- Esse direito é garantido à Luiza pela Constituição Federal, mas, muitas vezes a lei não é cumprida e as escolas, quando aceitam os alunos, não se esforçam para garantir a completa adaptação dos mesmos ao ensino, com professores preparados e qualificados, estrutura física, conteúdo programático e material didático - enumera.

Para Graziella, apesar de ser lei, foi uma grande dificuldade matricular Luiza em uma escola particular.

- É uma hipocrisia dizer que a educação é inclusiva. Passamos por uma via crucis para conseguirmos matriculá-la. Ela é especial, não é incapaz. Só quero que minha filha tenha o direito de aprender - justifica. 

Uma decisão da Justiça 

Consciente de sua situação, foi a própria Luiza quem tomou a decisão de ingressar com uma ação judicial para garantir o término dos estudos.

- Não gostaria que outras crianças passassem pelo o que eu passei. Como pode um professor que educa não ouvir os alunos? Tudo isso me deixa triste. Meu mundo virou de cabeça para baixo. Não sei por que me tratavam mal. Nem sequer corrigiam meu dever - lamenta Luiza. 

E a Justiça ouviu a jovem. Decisão judicial garantiu a execução de um plano pedagógico que evitasse prejuízos ao aprendizado da Luiza e a consequente perda do ano letivo.

- Não sei se as aulas em casa estão adiantando. Perdi a motivação. Toda vez que eu penso no colégio, me dá vontade de chorar. Quem sabe em 2013 algum colégio me aceite - desabafa a menina. 

A mãe também lamenta a situação e espera uma reparação por parte da escola.

- Mesmo com todas as dificuldades que a vida impôs a ela, Luiza é bem resolvida, questionadora, guerreira. Tenho muito orgulho dela. Superamos muitos obstáculos e já enfrentamos muito preconceito na rua. Mas, hoje, me sinto derrotada. Quero essa escola aberta e inclusiva que a lei nos garante. Quero que ela volte a sonhar novamente, a sorrir. Quero que ela volte a ser a mesma menina questionadora e curiosa de sempre.

Por Redação do OLHO VIVO  –  contato@olhovivoca.com.br

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