(Foto: Divulgação)
“A educação transforma e a arte liberta, mas também elas podem servir como instrumento de dominação e manutenção de um discurso, não de paz, mas sim de guerra entre classes”
Marcus Vinicius é o 97º convidado na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.
> Nome: Marcus Vinicius
> Breve biografia: Tem 31 anos é estudante de Ciências Sociais. Desde os 18 anos participa do movimento estudantil e social, sempre buscando melhorias para a coletividade e sociedade, é grafiteiro, educador social e esperançoso na humanidade.
Confira a entrevista com Marcus Vinicius
> Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Bom, para mim a cultura de paz é uma cultura de harmonia em que a gente resgata a essência do ser humano de coletividade, uma vez que o nosso diferencial do ser humano em relação aos outros animais é a nossa capacidade de socialização e o processo de transformação dos instintos em pulsões. Trabalhando sempre em prol do todo em detrimento do indivíduo, que respeita as diversidades e que só compreende a igualdade entre os homens quando percebe a diferença dos mesmos.
> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
A difusão da cultura de paz para que aconteça de forma coerente precisa vir com verdade, entrega e intensidade, uma vez que é difícil lidar com a individualidade ou ainda com esse instinto animalesco que muitas das vezes insiste em vir à tona, ainda mais em uma sociedade que prega o “ter” em detrimento do “ser”. A difusão dessa cultura de paz só acontece com a disputa do discurso e colocando o “ser” em detrimento do “ter”, e que eu acredito que não será, por não caber, em uma sociedade capitalista.
> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
Cultura de paz na formação da sociedade brasileira é algo bem interessante, uma vez que ela é pregada, mas não praticada. Sérgio Buarque de Holanda, quando descreve o cordial brasileiro como sendo o perfil do cidadão brasileiro, coloca muito a cultura de paz existente, por um lado no brasileiro, de ser receptivo e agregador. Mas que por outro lado essa prática não existe na relação entre as elites e o restante da sociedade, uma vez que ela apregoa regalias à manutenção de privilégios de uns em detrimento de outros e acaba criando um discurso de alienação de uma paz inexistente, mas ainda assim é possível.
> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?
Eu costumo dizer que a educação transforma e a arte liberta, mas também elas podem servir como instrumento de dominação e manutenção de um discurso, não de paz, mas sim de guerra entre classes. Uma vez que pode ser reprodutora da manutenção de desigualdades e violências nas relações entre os indivíduos. Mas eu acredito firmemente e procuro sempre utilizá-las como ou enquanto instrumentos de libertação e transformação da sociedade na preparação para uma cultura de paz, coletiva, onde haja espaço para a diversidade e todas as formas de vida de amor e de saber.
> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
O espaço digital assim como a educação e a cultura cumpre (ou pode cumprir) a função importante na difusão da cultura de paz, e em alguns momentos acontece através da explicitação e condenação de desigualdades, opressões. Mas também atua como efeito contrário quando não sabemos usá-las ou não usando de forma consciente e objetiva para alcançar essa cultura de paz atuando como ferramenta alienadora e na manutenção de guerras, desigualdades e violência. É necessário uma consciência na utilização de ferramentas como a mídia digital, em especial das redes sociais, onde hoje temos e vivemos o imediatismo da informação e uma enxurrada de informações em que a gente não consegue muitas das vezes lidar com elas e absorvê-las para de fato construirmos uma cultura de paz.
> Qual mensagem você deixa para a humanidade?
A minha mensagem para humanidade é que somos nós o problema e a solução para as nossas aflições, para as nossas guerras e violências. Acredito firmemente que encontraremos o nosso instinto de coletividade, de socialização e da Paz. (Re)conhecendo-nos uns nos outros e nas diferenças que nos constituem, com alteridade e construindo cada vez mais uma sociedade de paz, com o meio ambiente, de paz entre as pessoas, de paz entre todas as formas de relação e de vida. Trago comigo a esperança de que conseguiremos ainda um dia vivermos numa sociedade de paz com a cultura de paz não só Brasil, mas no mundo.
> Clique e confira todas as entrevistas da série sobre Cultura "Opinando e Transformando"