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Conflitos Sociais

Dhiogo José Caetano

dhiogocaetano@hotmail.com

Série Opinando e Transformando - Episódio 112

Emmerson Kran - Incansável conexão com o meio ambiente

Radialista fala sobre cultura de paz, educação e espaço digital

Pelo Brasil  –  18/08/2021 11:01

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(Fotos: Divulgação)

“Não apenas acredito no infinito potencial transformador humano, mas sei dessa certeza”

 

Emmerson Kran é o 112º convidado na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.

> Nome: Emmerson Kran
> Breve biografia: Radialista formado pela UFG. Em 2007 criou o Conexão Ambiental, um projeto de jornalismo ambiental que já esteve presente em rádios, TV, blogs, site e redes sociais. Em 2020, retomou às atividades nas redes sociais. O foco do projeto é abrir espaços para a divulgação e debate da temática ambiental, tanto nos meios convencionais (rádio e TV), quanto nas plataformas digitais. 

Confira a entrevista com Emmerson Kran

> Em sua opinião, o que é cultura de paz?

Entre as dezenas de conceitos do que seja cultura, há termos que são base para qualquer texto e pensamento. Entre eles está o “conjunto de valores”. Vejo que a cultura de paz seja igualmente um conjunto de valores: seja baseado nas tradições de grupos e povos, suas ações, modo de vida, comportamentos que respeitam a vida e constroem continuamente atitudes pela não-violência. E tudo isso tem, na educação, seu espaço perene de construção individual e coletiva. Uma das ferramentas (ou processo) modernas dessa construção está na Comunicação Não-Violenta. 

> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?

Filosoficamente, as experiências e modelos de pessoas e grupos que foram e fizeram essas construções são exemplos para esse diálogo e reflexão. Temos caminhos bastante pragmáticos de como isso foi feito. Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Dalai Lama, não faltam exemplos pelo mundo. Mas é preciso ampliar e aprofundar dezenas e centenas de outros exemplos de pessoas que cultivaram essa cultura de paz, para entendermos que, até uma atitude da qual não concordamos é também uma ação pela paz! Por mais estranha e discordante que seja. Albert Einstein foi um pacifista, embora fora convencido de escrever uma carta ao presidente Franklin Roosevelt apoiando o projeto da bomba atômica, na Segunda Guerra Mundial. Vejo nas escolas (não apenas a formal) o mais importante espaço para esse diálogo e prática. Vejo na família, igualmente, esse outro espaço de cultivar esses elementos, entendendo que cada espaço tem o seu mérito, importância e peso nessa construção. É no alvorecer de cada ser humano que essa cultura, em minha mera opinião, possui seu peso. E quando digo escola, estou me referindo a espaços de aprendizados, sejam eles quais forem. E esses espaços não-formais têm se mostrado muito eficientes na prática das relações que buscam superar os conflitos.  

> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?

Uma pergunta que extrapola minhas capacidades. Mas se retornarmos historicamente ao passado, vejo que as religiões (também filosoficamente falando) foram (e são) espaços da criação e ação desse fazer e agir pela cultura de paz! Mas posso estar errado. Até porque, na Grécia antiga, esses debates eram feitos ao ar livre em encontros de grupos e “pessoas comuns”, juntamente com muitos dos pensadores que temos como referências. Quando me refiro às religiões me detenho, por exemplo, a figuras como Francisco de Assis que construiu todo um pensamento que tem base nisso que chamamos de cultura de paz. Ele vai, inclusive, além quando volta sua práxis ao defender um amor pelos animais em pleno século 15, ainda na Idade Média! Eram ideias revolucionárias, inquietantes e incômodas!!! Se cruzarmos mares e oceanos, mesmo séculos antes dessa época medieval, em terras orientais vamos encontrar várias outras culturas que alimentavam essa mesma cultura da não-violência no budismo, xintoísmo, hinduísmo, etc. O termo é novo, mas o pensamento humano, instintivamente, sempre buscou essa paz. Estar em paz me parece que sempre teve espaço na alma humana, apesar de a história computar algo próximo a 15 mil guerras desde o alvorecer desta humanidade. 

> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?

Se compreendemos a cultura e a educação como processos de experiência do humano, de descobertas e crescimento do ser, tendo como foco o bem-estar da humanidade com igualdade para todos, ela tem que libertar. Libertar do processo histórico que nos colocou em rota de colisão, de conflitos, de disputas, de separação. O que nos aprisionou foi justamente o contrário disso que falei. Nossas correntes são produtos dos milênios que até a história foi manipulada para nos convencer de certos princípios que alimentaram as “guerras”. Coloco entre aspas para dizer que o conflito maior começa dentro de mim, quando vejo no outro o meu adversário, seja em que plano for. Somos cerca de 200 países e alguns milênios de caminhada histórica! Para cada país seu contexto das relações culturais, políticas, sociais, etc. Nesse caldeirão de povos e culturas existem um sem-número de processos que nos trouxe ao que temos e somos hoje. Libertar dessa construção, somente um processo que nos permita viver entre o diferente de mim, e isso não ser problema, não ser motivo para as múltiplas violências. Posso citar, mas não vou (risos), vários pensadores/as que buscaram a vida nessa plenitude quase sempre tida como utópica. E muitos deles se posicionaram e se mostraram de forma bastante prática ao demonstrar esses caminhos libertadores. 

> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.

O grande Milton Santos disse que a internet seria aquilo que dela fizéssemos. Que as potencialidades seriam muitas e parece que não nos mostrou um caminho, mas com certeza nos mostrou que há 20 anos sabia muito bem dos desafios que esse espaço nos traria. E aí, estamos! Com esse labirinto às vezes nos sentindo o próprio Teseu, mas sem o “fio de Ariadne”. Creio que o “espírito da época”, como dizem os alemães (Zeitgeist), que é essa complexa teia que se tornou a internet, e suas engrenagens múltiplas, juntamente com sua imposição de ser veloz e cada vez mais, nos colocou dentro desse turbilhão que parece sem saída! E absorvemos todo esse discurso, todo esse simbolismo, toda essa forma de ser “conectado” e já estamos colhendo amargos frutos disso, até porque, esses frutos vieram na mesma velocidade coerente com o seu DNA. Em meio a isso, encontramos simplesmente o mundo, a humanidade, quase 8 bilhões de seres, se não imersos todos e todas nos intrincados mecanismos midiatizados, fragmentados e digitalizados das redes, pelo menos uma parte considerável. O suficiente para alimentar o monstro!

Mas esse monstro assim o é porque existe uma razão de ser. E o mecanismo do consumo é a sua alavanca mestre. Me refiro a consumo não apenas o poder de compra das pessoas, que vem gerando uma carga pesada ao planeta. Falo do consumo sensorial, cognitivo e simbólico que todos temos. É isso que alimenta, no primeiro e mais importante momento, o monstro. Por outro lado, podemos alimentar uma forma de impactar o mundo de um modo mais fraterno, igual e liberto (existem outros termos para isso!). Falamos da cultura que liberta? Falamos da educação que liberta? Pois então, transformar esse espaço digital é também a forma de o tornar mais humano. É um caminho de mão dupla, creio. À medida que nosso olhar pluralizar para o mundo, à medida que nossa percepção ponderar que existe alguém diferente ao meu lado e esse alguém pode ser diferente de mim e isso não ser problema, ou motivo para um conflito, mas de diálogo de uma construção de um mundo melhor, então num processo de retroalimentação mudanças irão acontecer. Ou melhor, já estão acontecendo há muito tempo. É só buscar! É o contraponto ao olhar domesticado, é o contraponto da mente linear, num contínuo aprendizado que deve transformar o planeta. 

> Qual mensagem você deixa para a humanidade?

Não apenas acredito no infinito potencial transformador humano, mas sei dessa certeza. Olhando o mundo, observando à minha volta, do outro lado do planeta vejo essa transformação. Vejo pessoas e grupos tomando parte nesse processo de mudar, de modificar a sua realidade outrora ruim, em melhor. É só ligar a TV, o rádio (quem ouve rádio?), ler um jornal (????), um site, as redes sociais estão cheias disso. O mundo tem exemplos dessas mudanças, dessa transformação que, pra ser eficiente, deve começar em mim, dentro de mim. Mudar meu olhar, minha percepção, meus sentimentos em relação ao outro à minha volta. Não é fácil e muito menos acontece ao nascer do sol. Começa em aceitar aos poucos a nossa condição de agentes de transformação mudando coisas que não mais queremos para nós. Questionando nossas atitudes, ações, pensamentos. Não nascemos preconceituosos, já disse alguém. Isso é construído a cada dia. Dentro de casa, na escola, na igreja, no clube, na rua. Se aceito isso, da mesma forma posso aceitar o contrário e propor mudanças. Mahatma Gandhi em certo dia se incomodou com a situação das pessoas em seu país. Martin Luther King viu-se incomodado com a situação das pessoas pretas em seu país. Francisco de Assis percebeu a condição humana do seu tempo. José Datrino, o profeta Gentileza, tocou na sensibilidade das pessoas de uma maneira criativa e espalhou uma mensagem forte. Exemplos existem aos montes. Alguns estão em livros, cinema, TV, ou mesmo no anonimato das ruas. Pode ser você! 

> Clique e confira todas as entrevistas da série sobre Cultura "Opinando e Transformando"      

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Por Dhiogo José Caetano  –  dhiogocaetano@hotmail.com

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