(Foto: Divulgação)
“Acreditem na ciência e cuidem bem de suas crianças”
Maria Ester é a 114º convidada na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.
> Nome: Maria Ester
> Breve biografia: Mãe, pianista, professora, doutora em geografia urbana e integrante titular do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás.
Confira a entrevista com Maria Ester
> Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Penso que cultura de paz seja a cultura da tolerância. Nesses mais de dois mil anos de civilização ocidental a paz preconizada pelos livros cristãos é relativa, pois não considera a violência contra crianças e a intolerância que isso gera nas gerações. E a paz na filosofia não existe, não é mesmo? Então, cultura de paz na minha visão é aquilo que se faz com a infância. Depois disso, o discurso cristão está cheio de conceitos que poderiam ajudar, entretanto, os adultos ainda não conseguiram interpretar, como exemplo: “Amai ao próximo como a ti mesmo”.
> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Como disse, difundir a paz será eficaz, se começarmos pelos bons tratos à infância, às crianças menores de 5 anos. Também nas escolas devemos ter momentos de rodas de conversa sobre nossas relações dentro e fora da família. Essa seria uma forma coerente, pois é na família que a cultura de paz poderá ser replicada. Já leu a expressão “children see, children do”? Pois se trata de uma abordagem da psicologia que prova que é dentro da relação mais íntima, interpessoal, que uma pessoa desenvolve o senso ético humano, o sentido de paz. Como somos parte de outros e parte de nós mesmos, esses outros geralmente são nossos pais ou cuidadores e eles são os divulgadores do que é, ou da necessidade de viver em paz. Se a paz é praticada nesse ambiente de que somos parte quando nascemos, a paz será difundida.
Quando eu penso no ambiente da sociedade em geral, considero que essa é a função de líderes políticos no mundo: difundir esse comportamento de respeito e tolerância, ou seja, de paz. As vozes dos representantes têm o papel de mobilizar o pensamento da coletividade e levar o grupo numa direção ou outra. Nesse caso, a parte difícil de analisar é quando a paz não interessa, quando um negócio rentável depende da guerra para prosperar. Qualquer discurso de paz vindo de nações que vivem do comércio de armas é incoerente.
> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
A sociedade brasileira, a meu ver, foi constituída a partir da guerra. Uma guerra contra homens africanos e índios. Não houve paz. Mesmo a igreja veio catequizar a partir da ameaça, da chantagem (ou me segue ou vai para o inferno...). Não houve paz. Portanto, entendo que a cultura de paz surge quando a ciência (principalmente a psicanálise e a neuropsicanálise) sugere que a violência contra a criança (que geralmente acontece a partir dos pais e/ou cuidadores) forma uma sociedade doente, de adultos e crianças doentes mentalmente.
Mesmo que a formação escolar mostre os prejuízos das guerras nas eras passadas, mesmo assim, repetimos a escravidão e o massacre de minorias porque não ensinamos às crianças que essa cultura não é boa. Apenas ensinamos que ela existiu. Considerando a formação da humanidade, talvez estejamos num estágio 1, onde não aprendemos com os vestígios do passado. Então, somos uma civilização ainda por desenvolver muito, principalmente nesse quesito: cultura de paz.
> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?
A educação para a ciência liberta. A cultura é parte disso. A cultura é uma possibilidade de educação, que por sua vez é a possibilidade de pensar por si só e com isso perceber-se capaz de mudar a própria cultura. A ignorância e violência aprisionam.
> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
A difusão da informação que o espaço digital proporciona pode ser a salvação de muitos povos ainda presos em culturas de escravidão e miséria. Estamos conversando aqui por um canal digital e isso abre a possibilidade de muito mais pessoas lerem e pensarem sobre os temas. Mas a ideia de despertar a humanidade ainda me parece depender do conteúdo dessa comunicação. Não adiantará um supercanal de acesso a todos, se a informação for banal. Ainda será preciso ensinar a pensar e, antes de tudo, ensinar a tolerância e o amor. A humanidade já viveu em trevas e foram as descobertas da ciência que nos tiraram daquele buraco. Esse despertar deverá vir novamente de uma visão sistêmica, complexa e que aceite todas as formas de religião e estrutura familiar. A era digital pode ser a grande aliada dessa diversidade necessária para que a humanidade dê algum passo.
> Qual mensagem você deixa para a humanidade?
Que acreditem na ciência e que cuidem bem de suas crianças.
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