(Foto: Divulgação)
“Devemos ser intransigentes com o ódio. Não podemos tolerar a opressão, o preconceito, os múltiplos fascismos...”
Daniel Rodas é o 116° convidado na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.
> Nome: Daniel Rodas (Teixeira-PB - 1999)
> Breve biografia: Escritor, poeta e dramaturgo. Estudante de letras (UEPB). Editor da “Revista Sucuru”. Autor da plaquete “Eros e Saturno” (Editora Primata, 2021) e do livro “Umbuama” (Editora Urutau, 2021), tem textos publicados em vários meios eletrônicos, a exemplo das revistas “Mallarmargens”, “Ruído Manifesto”, “Toró” e “Subversa”. Faz parte do grupo de teatro ExperIeus da cidade de Monteiro-PB, onde colabora como ator. Pensa na poesia como um fluxo, como o fluir incontrolável da vida. Instagram | Facebook | Blog Pessoal
Confira a entrevista com Daniel Rodas
> Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Paz é um termo muito amplo. Podemos nos referir à “paz interior”, à “paz mundial”, à “paz coletiva”... Acredito que todos esses pontos são intercambiáveis, que todas as formas de “paz” se entrelaçam. “Cultura”, para mim, tem a ver, sobretudo, com identidade, com aquilo com que nos identificamos, a “nossa cultura”. Portanto, para mim, cultivar uma cultura de paz é, essencialmente, identificar-se com o próprio conceito de paz, tomar para si esse conceito, tanto no sentido individual, quanto coletivo, pois um só possível em conjunto com o outro. Não posso estar em paz quando o mundo está mergulhado em ódio, assim como o mundo não pode estar em paz se eu, como indivíduo, estiver mergulhando em ódio. Cultura de paz, portanto, é esse hábito de equilíbrio, essa via de mão dupla pela qual buscamos construir um mundo mais justo, mais ético, diverso e igualitário, o que só é possível através de um equilíbrio tênue entre as esferas individuais e coletivas, tomando-as como indissociáveis.
> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Acredito que tem relação com a resposta anterior... Difundir a paz é algo que só se faz possível quando agimos individual e coletivamente, na nossa esfera privada e na coletiva, entendendo-as como intrinsecamente indissociáveis. É algo que envolve prática, coerência, interdependência entre o dizer, o pensar e o agir. Não basta falar sobre a paz, nem pensar sobre a paz, é preciso agir. E acredito que, no momento histórico em que vivemos, a luta pela paz é, paradoxalmente, um confronto, um embate contra o ódio. Devemos ser intransigentes com o ódio. Não podemos tolerar a opressão, o preconceito, os múltiplos fascismos... Precisamos erguer a cabeça e combater coletivamente tudo aquilo que atrasa a nossa sociedade e gera violência, o que implica diretamente numa luta constante por direitos e pela manutenção desses direitos. Não podemos tolerar o medo, a opressão e a intolerância. A luta pela paz é um combate constante contra o ódio em todas as formas.
> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
Acho que sempre fomos devedores nesse quesito... Por toda a história da humanidade, o que se viu foi um sem-fim de violência, escravidão, desigualdade e injustiça, entremeados por alguns poucos momentos de esperança e ternura. A história de nosso país, originada da mundial, é igualmente injusta e violenta. Vivemos numa sociedade assentada sobre o sangue dos indígenas, dos negros, das mulheres, dos homossexuais, dos pobres... Um país cuja história pode ser resumida em três palavras: roubo, injustiça e escravidão. Isso é o nosso passado e boa parte do nosso presente. Mas ainda temos o futuro para mudar.
> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?
Há muitos tipos de educação... Como professor e estudante de licenciatura, sei que nem toda educação é libertadora. Em linhas gerais, podemos dizer que há dois tipos básicos de educação: uma opressora, rígida e castradora, cujo único objetivo é manter a passividade do povo diante das injustiças e limitar a criatividade dos indivíduos; e uma realmente libertadora, democrática e humana, capaz de despertar o lado criativo e o desejo de mudança, de impulsionar transformações genuínas. É nesse segundo tipo de educação que acredito. A educação da esperança, a prática da liberdade, como diria Paulo Freire. Uma educação que não se limita a formar mão-de-obra ou massa de manobra, mas que assume a função maior do ato de educar: formar cidadãos, seres humanos conscientes e éticos. É essa educação que quero ajudar a construir.
> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
A internet abriu as portas para muitas vozes, algumas delas conscientes, outras nem tanto... Infelizmente, o que vemos hoje é um uso cada vez mais nocivo das mídias sociais: fake news, discursos de ódio, enxurradas de preconceito e “polemizações” rasas, sem qualquer embasamento além do achismo e do ódio de quem as inicia... Todo esse fenômeno é uma ameaça flagrante aos direitos humanos e à democracia, e já estamos vendo o resultado disso... Mas isso não significa que o espaço digital seja, em si, nocivo. De forma alguma. Mas acredito que é preciso resignificá-lo, propor um uso consciente, praticar novas formas de interação que priorizem o diálogo e o debate saudável e democrático. Isso só é possível, como disse lá no início, através de uma tomada de consciência em todas as esferas. E a educação, claro, por seu alcance coletivo, pode e deve ter um papel central nesse processo.
> Qual mensagem você deixa para a humanidade?
Não sei se para a humanidade - confesso que não me acho digno de tamanha responsabilidade - mas, sobretudo, para mim e para aqueles que quiserem ouvir: amar. Amar e dialogar. Dialogar e resistir. Resistir e lutar. São esses os verbos que precisamos colocar em prática todos os dias. Essa é a mensagem que gostaria de deixar.
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