(Foto: Divulgação)
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“Você pode educar alguém para que continue a aceitar a realidade como ela é. Ou você pode educar alguém para ser livre e questionar tudo aquilo que não achar certo”.
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Raul J. Franco é o 122º convidado na série de entrevistas “Opinando e Transformando”. Objetivo é formar um mosaico com o que cada um pensa desse universo multifacetado. Uma oportunidade para os internautas conhecerem um pouco mais sobre os profissionais que, de alguma forma, vivem para a arte/cultura.
> Nome: Raul J. Franco
> Breve biografia: É paraense e se formou em ciências sociais (pela Universidade da Amazônia - Unama) e artes cênicas pela Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio). É ator, diretor, autor teatral e poeta.
Seu mergulho no humor se deu quando integrou o elenco do espetáculo “Tubo de Ensaio” (2005-2006), onde desenvolveu seus primeiros solos de personagens, como Manolo Passos, Paulo Rouckaço e Caetano Nervoso. Em 2007 criou a sua Cia de Comédia Os Fanfarrões. E um dos quadros de estreia da cia bombou na internet: “Karaokê para Surdo e Mudo” ou “Pantomima do Bochecha” (mais de 3 milhões de acessos no YouTube). A partir da popularidade desse vídeo, Raul não parou de fazer shows, tendo se apresentado ao lado de figuras consagradas, como Nelson Freitas, Cláudio Torres Gonzaga, Léo Lins, Márcio Ribeiro, Paulinho Serra, Katiúscia Canoro, entre outros. Também fez participações nos shows do “Comédia a La Carte”, do comediante Felipe Absalão; “Riso de Janeiro”, organizado por Nizo Neto; “Surto” (espetáculo de comédia em cartaz há oito anos); e “Deznecessários”. Além de compor também o elenco fixo do espetáculo “Pout-PourRir”.
Em 2008 montou seu primeiro solo: “Francamente Falando”, onde fez uma reunião dos seus personagens. Em 2011, montou o seu segundo solo: “Saída de Emergência”, onde mescla stand up comedy, pantomima e imitações. Na TV, fez participações nos programas “Show do Tom” (Record), “Domingão do Faustão” (TV Globo - quadro “Quem Chega Lá”), “Mais Você” (TV Globo), “Domingo Legal” (SBT) e “Toda Sexta” (Band). Atualmente, Raul viaja o Brasil em participações de shows de humor e está em cartaz em São Paulo com seu solo “Saída de Emergência” e “Fanfarrões”, a peça (que em 2011 completou quatro anos).
Confira a entrevista com Raul J. Franco
> Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Acredito que seja qualquer forma de ação que promova atos pacíficos em prol de melhorias consideráveis no ambiente em que se vive. E para isso é preciso uma certa educação das crianças e jovens, buscando um novo pensamento atrelado com ações verdadeiras que combatam qualquer ato de violência com a qual nos deparamos. Tem a ver também com o senso de justiça que alimentamos dentro de cada um de nós.
> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Hoje, por exemplo, temos uma facilidade enorme de comunicar algo em larga escala. A tecnologia facilita isso. Se postarmos alguma coisa, ela pode ter um grande alcance. E isso está em nossas mãos. Pode favorecer tanto o bem quanto o mal. O que mais vemos é o crescimento de haters, difundindo ódio gratuito nas redes sociais. Então, se entendermos a força das mensagens, como elas se propagam rapidamente em termos de internet, podemos criar frentes que também estejam engajadas com a construção de uma nova mentalidade. Fazendo com que se propague com uma força maior sentimentos essenciais de justiça e respeito pelo outro, por aquele que pensa diferente de nós. O que muitas vezes tem se tornado algo dificultoso. Como se o ódio fosse mais fácil de ser propagado. Então, é claro que tudo depende de uma mudança nas nossas estruturas mentais, o que cabe a cada um de nós, mas se entendermos que isso pode acarretar uma mudança maior no seio da sociedade global, aí vem a necessidade de mobilização conjunta, de um número maior de pessoas, promovendo esse pensamento calcado na cultura de paz.
> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
O Brasil passou por diversos momentos conflituosos ao longo da sua história. Diversas lutas de classe, lutas entre oprimidos versos opressores. Como na história recente do país, a ditadura militar, onde muita gente foi torturada, morta, exilada, justamente por ter um posicionamento contrário ao sistema vigente. Isso é a maior prova de intolerância. Se alguém discorda do poder vigente é logo silenciado da pior forma possível. Então, como lidar com isso? A própria resposta à ditadura foi também com uma guerrilha armada que só evidenciou o conflito como também o tornou mais sangrento. No interior do Pará, por exemplo, o conflito de terras é enorme. Pessoas morrem nessas batalhas. Em alguns momentos criam-se entidades e instituições como forma de intervir nos conflitos, e também temos pessoas bem-intencionadas que procuram estabelecer alguma forma apaziguadora dentro das comunidades. Falando nisso, me veio à mente a Irmã Dorothy, que fazia parte de uma congregação católica. Era, pois assim dizer, uma pacifista, que buscava uma comunicação não-violenta, procurando olhar para o lado dos oprimidos. Destaco uma frase dela que peguei na internet, onde ela diz: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”. Uma mentalidade pacificadora. E o que aconteceu com ela? Foi assassinada em 2005, em Anapu, no Estado do Pará. Então, a gente percebe o quanto essa luta é difícil, torna-se difícil em decorrência de situações drásticas como essa. Mas, mesmo assim, devemos acreditar que é um caminho viável. Infelizmente, pessoas vão morrer, mesmo lutando pela paz. E outras pessoas vão surgir, acreditando que a cultura da paz pode ser um caminho viável para transformações estruturais na forma de se relacionar da humanidade.
> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?
Olha, como cientista social, e alguém que se dedicou sobremaneira ao estudo da antropologia, entendo que cultura, por exemplo, todo mundo tem. Porque muitas vezes erroneamente, dizemos “fulano não tem cultura”. Digo isso só para tornar mais abrangente a concepção da cultura. Então, a cultura que é transmitida em escolas, faculdades, é algo formal, já que está dentro de uma instituição. Mas não quer dizer que alguém não teve cultura por não estar nesses espaços. Existe a cultura popular que é muito forte. Então, a questão da cultura está ligada aos grupos os quais você pertence. E aí pode ser algo opressor ou libertador. Mas, por exemplo, se pegarmos a questão da cultura advinda dos livros, a cultura como fonte de conhecimento, é claro que quanto mais informação tivermos, mais teremos ferramentas para entender o mundo em que vivemos. Aí é algo libertador. Por isso, dizemos que um povo mantido na ignorância é mais fácil de ser oprimido. Qualquer coisa que promova a tirada das vendas para que se veja melhor e se entenda as entrelinhas dos discursos que oprimem é válido. Nesse caso, o papel da educação também deve caminhar por aí. Você pode educar alguém para que continue a aceitar a realidade como ela é. Ou você pode educar alguém para ser livre e questionar tudo aquilo que não achar certo. É o mesmo caso do poder da internet: pode ser usado para o bem ou para o mal. O certo é usar ferramentas que tornem o indivíduo capaz de pensar, de raciocinar, refletir e exercer a sua capacidade de discernimento. Ou seja, esse sujeito pode se tornar um agente desse movimento para a cultura de paz, por exemplo.
> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
O espaço digital é incrível. Se pode fazer muita coisa em termos online e isso pode ter um alcance formidável. Como se usa isso vai de cada um. Então, é pensar nessas coisas; como se pode criar algo que traga um pouco de consciência e lucidez para as pessoas? Hoje até vemos muitas coisas nesse sentido, como live sobre processos de cura, constelações familiares, meditações, reiki, tethahealing, mindfulness e outras coisas. Mais do que nunca vemos a importância do acolhimento. Durante a pandemia (novo coronavírus/Covi-19), devido a necessidade de ter um pouco do calor humano, mesmo que à distância, com certeza, plataformas como o Zoom estiveram abarrotadas de pessoas interessadas nessa troca afetuosa com o outro. Então, temos certeza do poder que isso tem, de como um canal qualquer na internet pode agregar pessoas que tenham o mesmo propósito. Algo tão importante em tempos de disseminação do ódio. Por que não disseminar a paz? Será que ela não dará ibope?
> Qual mensagem você deixa para a humanidade?
Na dúvida sobre por onde começar, comece por dentro. Eu levei muito tempo para saber que a força está naquilo que eu faço com os meus pensamentos. Ter bons pensamentos contribui para o progresso de cada um. E, por conseguinte, acaba criando espaços de levezas e bem-estar espiritual. A revolução pode começar em mim. Mas ela reverbera e pode encontrar outras pessoas com o mesmo propósito. A isso se chama sintonia. E é o que fará diferença no dia a dia.
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