(Foto: Divulgação)
Na noite de 26, haverá um encontro aberto ao
público para um bate-papo com a atriz no Gacemss
Numa zona rural de uma pequena cidade do interior, é montado um centro de treinamento e pesquisas sobre o trabalho do ator. Um ambiente de muita disciplina, concentração e cansaço. Essas poderiam ser as descrições do Odin Teatret, localizado na pequena cidade de Holstebro, ao norte da Dinamarca e dirigido pelo italiano Eugênio Barba, desde 1964. Só que não. Estamos falando do Country Clube Santa Helena, localizado na zona rural sul de Barra Mansa. O grupo em questão é o Coletivo Teatral Sala Preta, natural desta pequena cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro.
Imersão artística
A convite da diretora teatral Jadranka Adjelic (Belgrado, Sérvia), o Sala Preta se propôs, de 18 a 29 de agosto deste ano, a uma imersão artística com o objetivo de uma investigação cênica profunda. E para que o processo alcançasse os modelos dos grandes mestres do teatro no mundo, foi estabelecido a mesma dinâmica sobre o trabalho. Utilizando de diferentes métodos, desde a investigação sobre as técnicas das ações físicas e vocais de Jerzy Grotovski e Eugênio Barba, passando pelos Viewpoints (técnica desenvolvida pela americana Anne Bogart), Jadranka Andjelic provoca de maneira intensa e elegante quatro atores do Coletivo Teatral Sala Preta. Bianco Marques, Kaline Leigue, Rafael Crooz e Viviane Saar se lançaram no desafio de uma nova pesquisa laboral cênica e o trabalho está apenas no começo.
A diretora sérvia, que nasceu em Belgrado, na antiga Iugoslávia, está no Brasil desde 2008 e hoje atua como colaboradora da Sequência Filmes, Músicas e Cênicas. Jadranka desenvolveu suas técnicas com o Odin Teatret, em seminários com Torgeir Wenthal (ator do Odin desde a fundação do grupo em 1964) e na Internetional School of Theatre Antropology, de Eugênio Barba, além de uma larga trajetória no ofício teatral pela Europa, Brasil, Groenlândia, Marrocos, Mongólia, Inglaterra, Nova Zelândia, Singapura e Estados Unidos. Não é a primeira vez que Andjelic trabalha com o Sala Preta. No ano passado, o grupo recebeu a diretora para uma oficina de dois dias, onde atores do grupo e amigos convidados tiveram a oportunidade de trocar experiências e investigar a qualidade das ações do ator.
O espaço ideal
O trabalho que Jadranka realiza com o Sala Preta conta com a parceira do Country Club Santa Helena, que fica a dez quilômetros do Centro de Barra Mansa. Uma grande área verde, rodeada de pássaros, nascentes e muito silêncio. Os ruídos que se ouvem raramente são dos carros que passam na rodovia ao longe, bem ao longe. Sem as inconvenientes interferências sonoras do Centro da cidade, que constantemente ressoa carros de anúncios sonoros, sirenes, buzinas e motores. O ambiente rural é extremamente favorável ao estudo e a criatividade para a produção de um trabalho artístico. Muitas das vezes os atores passam dias inteiros nas dependências do clube. Kaline Leigue, atriz do Sala Preta, garante:
- O espaço é fundamental para um trabalho com qualidade. Além de termos um bom piso, temos o silêncio necessário para concentração. Um ambiente 100% favorável.
Novos encontros para um novo trabalho
Para Jadranka, o encontro com Roberta Carreri é "valioso e a oportunidade é espetacular", ela destaca:
- Para este novo trabalho que estamos desenvolvendo com o Sala Preta, o encontro com Roberta será de uma preciosidade técnica e criativa sem tamanho, todos nós vamos ganhar muito com essa oportunidade. E Roberta ter se disponibilizado como se disponibilizou é um luxo!
O Sala Preta ainda não conta com apoio financeiro para a realização deste novo projeto, o que espera conseguir por meio de editais, prêmios ou leis de incentivo. Rafael Crooz, ator do Sala Preta desde 2009, afirma:
- O Sala Preta encontra muita dificuldade para financiamento de seus projetos por inúmeros motivos. Os editais priorizam, agora, grupos de fora do eixo Rio-São Paulo, os prêmios que recebemos não foram pagos pelo MinC e as leis de incentivo não priorizam grupos sem atores que alcançam a grande mídia televisiva. Ou seja, para realizar um novo trabalho com discurso artístico no interior fluminense, deve-se trabalhar com a exaustão física e burocrática.
Encontro com Roberta Carreri
Como desdobramento do trabalho realizado com Jadranka, agora o grupo barramansense tem a oportunidade de trabalhar com a atriz, professora, escritora e organizadora italiana Roberta Carreri. Ela é uma das atrizes do grupo fundado por Eugênio Barba, o Odin Teatret. Barba é um dos principais mestres do teatro ainda vivo no mundo e transformou o nome do Odin Teatret como uma das maiores referências em teatro de grupo no globo. O trabalho com Roberta será dividido em duas partes. A primeira será concentrada no treinamento de ações físicas, na busca em despertar a presença do ator. A segunda parte se concentrará no trabalho com exercícios de compreensão vocal, da sonoridade da voz e o desenvolvimento das capacidades em produzir ações vocais no espaço.
A atriz italiana estará no Rio de Janeiro no fim do mês de outubro e se disponibilizou para realizar um workshop exclusivo com o Sala Preta, em Barra Mansa, de 23 a 26. Porém, o grupo ainda não dispõe de toda a verba para custear a vinda de Roberta. Durante as semanas que antecedem o encontro, o Sala Preta irá fazer seu "esquema de guerrilha", passando livro de ouro no comércio local e realizando apresentações de espetáculos de rua, com a tradicional passada de chapéu, na tentativa de fechar as contas. O ator e músico Bianco Marques ressalta a importância do encontro e o esforço que todos estão fazendo para recebê-la:
- Estamos fazendo todos os esforços necessários para viabilizar esse encontro. Sabemos que será um divisor de águas para o grupo, os que passarão pelas mãos de Roberta ficarão anos digerindo as informações, garanto.
Roberta irá fazer um treinamento focado e contribuirá diretamente para o processo de criação do novo espetáculo do grupo, que ainda não tem previsão de estreia e já está sendo dirigido por Jadranka Andjelic.
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Um pouco sobre Roberta
Roberta Carreri é atriz, professora, escritora e organizadora. Ela nasceu em 1953 em Milão, na Itália, onde se formou em publicidade design e estudou história da arte na Universidade Estadual de Milão. Ela se juntou ao Odin Teatret em 1974, durante a estada do grupo em Carpignano, Itália. Roberta Carreri participou da ISTA (International School of Theatre Anthropology) desde o seu início em 1980, entrando em contato com a realização de técnicas do Japão, Índia, Bali e China. Isso influenciou seu trabalho como atriz e professora. Entre os anos de 1980 e 1986, estudou com mestres japoneses, como Katsuko Azuma (dançarina Nihon Buyo), Natsu Nakajima e Kazuo Ohno (dançarinos Butoh). Ela ministra oficinas para atores de todo o mundo e apresenta, como uma demonstração de trabalho, sua autobiografia profissional, "Traces in the snow".
Roberta ainda tem fôlego para organizar e liderar a oficina anual internacional, a Odin Week Festival, em Holstebro e no exterior. Em 2009, ela dirigiu "Rumor" com Cinzia Ciaramicoli para Masakini Theatre Company (Malásia). Suas experiências profissionais são apresentados em "The actors way", editado por Erik Exe Christoffersen. Roberta Carreri escreveu seu livro "Rastros" (publicado em 2007 pela Edizioni Il Principe Costante, Milano e pela Editora Perspectiva, Brasil, em 2011), no qual ela revive os aspectos mais relevantes da sua vida de teatro - sua formação, pedagogia e sua história como uma atriz do Odin Teatret. Seus artigos foram publicados em revistas como "New Theatre Quarterly", "Teatro e Storia", "Máscara", "The Open Page" e "Performance Research".
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Bate-papo
Na noite de sábado, 26, haverá um encontro aberto ao público para um bate-papo com a atriz no Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva) - Espaço II, na Rua 14, n. 315, na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda, às 19h. O encontro será mediado pela diretora Jadranka Andjelic e se concentrará no trabalho de Roberta com o Odin Teatret e o processo trabalhado com o Sala Preta. Estão todos convidados. A entrada será gratuita.