(Fotos: Divulgação/Marco Netto)
Mônica Izidoro e Fátima Colin, atrizes da montagem original, recebem a companhia de Arthur Vinciprova e Julio César Pires
“Ta Azor! - A lucidez de Artaud”, peça da Cia. Da Ação!, dirigida por Calé Miranda, volta ao cartaz em Resende nos dias 8 e 9 de junho, no Espaço Z, com novidades no elenco. Dois atores se juntam à trupe e o ritual proposto pelo grupo agora será desenvolvido por dois homens e duas mulheres.
Mônica Izidoro e Fátima Colin, atrizes da montagem original, recebem agora a companhia de Arthur Vinciprova e Julio César Pires. As apresentações em Resende são um aquecimento de turbina para a temporada de um mês que vão cumprir no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, a partir de 21 de junho.
Calé Miranda explica que a concepção agênero do espetáculo permite esse tipo de configuração.
- Não é o gênero de quem interpreta aquelas personagens que importa, mas sim a intensidade com que o ator/atriz traz para si o discurso Artaudiano.
Trata-se do mesmo espetáculo com outra densidade e intensidade.
- Como trabalhamos com intérpretes-criadores cada um imprime sua verdade na cena, modificando a tensão e reconfigurando o espetáculo.
Artaud e seu teatro
Antonin Artaud, dramaturgo e ator francês, sempre olhou o teatro não como diversão, mas como a experiência de um “jogo profundo”, dirigido não somente aos sentidos dos espectadores, mas a “toda uma existência”. “A realidade vista ao mesmo tempo pelo direito e pelo avesso, uma alucinação escolhida como principal meio dramático.” Para Artaud o verdadeiro teatro é aquele que celebra um ritual onde todos, atores e plateia, estão comprometidos numa mesma intensidade. “Nós arriscamos nossa vida no espetáculo que acontece em cena, se não tivéssemos o sentido nítido e profundo de que uma parcela da nossa vida está empenhada em cena, não acharíamos necessário levar mais longe a experiência”.
“Ta Azor” é o espetáculo proposto pela Cia. Da Ação! a partir das ideias desse artista, onde os quatro atores celebram um ritual, hora representando o próprio Artaud e outras personagens, hora representando a si mesmos.
- Nesta arena preparada para repensar a vida e obra de Artaud, pretendemos comungar com a plateia toda esta intensidade a que o autor nos convida. O senso comum olha Artaud como um louco, porém nós acreditamos nas ideias do autor e olhamos para seus escritos não como se um louco os estivesse elaborado, mas como o pensamento de uma pessoa lúcida e contemporânea, que fala para a plateia do nosso tempo. São as ideias de Artaud que defendemos e é a partir delas que construímos o nosso teatro - enfatiza Calé Miranda.
Antonin Artaud
Nascido em Marselha em 4 de setembro de 1896 e morto em Paris no asilo de Ivry em 4 de março de 1948. Diagnosticado como esquizofrênico, escreveu grande parte de sua obra internado em hospícios. Criador do Teatro da Crueldade, para Artaud “O teatro é uma atividade através da qual só resta ao ator mergulhar na morte e viver”. Sua obra “O teatro e seu duplo” é um dos principais escritos sobre a arte do teatro no século XX. As teorias de Artaud também são umas das principais influências dos criadores da dança butoh, forma de arte japonesa em que a Cia. Da Ação! e Calé Miranda, seu diretor, são especializados.
Cia. Da Ação!
Companhia de dança-teatro, baseada em Resende, tem como característica principal a pesquisa cênica como propulsora da criação. A companhia é multidisciplinar tendo como colaboradores atores, bailarinos, músicos, artistas plásticos e praticantes de todas as formas de criação artística. Especializada em dança butoh, forma de arte japonesa, todos os trabalhos da companhia são criados a partir da mitologia pessoal de seus integrantes. O grupo apresenta-se constantemente em festivais no Brasil e no exterior, já tendo visitado a Rússia, França, Inglaterra, Croácia, Tunísia, Peru, Tailândia etc.
Calé Miranda
Desde 2006 Calé Miranda é dedicado à dança-teatro butoh (forma de arte pós-moderna japonesa), estudou com diversos mestres, entre eles Yoshito Ohno, filho de Kazuo Ohno, o criador do butoh, e bailarino de “Kinjiki”, espetáculo seminal apontado como a primeira performance de butoh na história. Em sua dança Calé faz uma fusão entre a dança butoh e as danças de matrizes afro-brasileiras, a qual chama afro-butoh. Ele conta que a dança butoh trata de ancestralidade, memória, mitologia e dança pessoal, logo o “seu” butoh não poderia passar ao largo da herança cultural gravada em sua memória e seu corpo. Segundo Calé Miranda, o butoh só existe quando seu corpo percebe seu próprio movimento e toda a mitologia pessoal impressa nele mesmo. À frente da Cia. Da Ação! dirigiu mais de 30 espetáculos de autores consagrados, como Shakespeare, Brecht, Beckett, Nelson Rodrigues, Ésquilo, Sófocles, Ghelderode, Heinner Muller etc.
Quem é quem no espetáculo
. Roteiro e encenação: Calé Miranda
. Elenco:
Mônica Izidoro
Fátima Colin
Arthur Vinciprova
Julio César Pires
. Ambientação cênica: Calé Miranda
. Iluminação: Eliza Moreira
. Supervisão de iluminação: Calé Miranda
. Sonoplastia: Marco Netto
. Figurino: Calé Miranda
. Design gráfico: Fred Kanashiro
. Fotografia: Marco Netto
. Vídeo registro: Guilherme Rodrigues
. Produção: Cia. Da Ação!
> Ta Azor! - A lucidez de Artaud - Dias: 8 e 9 de junho. Horário: 20h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia entrada para estudantes, professores e idosos). Ingressos à venda na bilheteria do teatro, a partir das 18h, nos dias do espetáculo. Teatro do Espaço Z, Rodovia Joaquim Mariano de Souza, 169, Centro, Resende.