(Fotos: Divulgação)
"Beto Rockfeller", de 1968, foi levada ao ar pela TV Tupi; uma nova linguagem televisiva
"Alô?!
2-5499, bom dia
Perdoe-me, foi engano!"
Olá, galera. Esse é um trecho de um texto da primeira história de amor diária da televisão brasileira. Estrelada por Tarcísio Meira e Glória Menezes, "2-5499 ocupado" foi ao ar no dia 22 de julho de 1963, às 19h, lançando a telenovela diária como uma opção despretensiosa para os telespectadores. O que os homens da TV daquela época não sabiam - nem o idealizador, que já morreu, Edson Leite - é que estava lançada a maior produção de arte popular da nossa televisão. Em comemoração à data, a coluna presta várias homenagens ao longo da semana.
O gênero foi importado do rádio, que passou por um processo de adaptação para se transformar no produto de maior aceitação em termos de audiência da televisão brasileira. O primeiro grande passo para essa implantação foi a convocação de escritores brasileiros para adaptarem e produzirem histórias que já haviam sido sucesso no veículo radiofônico.
O sucesso das telenovelas diárias foi imediato, embora no início o público tenha tido algumas dificuldades para se acostumar com a sequência dia a dia. "Do ponto de vista da dona de casa, ela sabia que todo dia às 8 tinha uma novela; é como todo dia ter que fazer almoço e levar a criança para a escola". Uma grande paixão tomava conta dos brasileiros.
Nos anos 60, a telenovela torna-se o produto por meio do qual os canais concorrem entre si. "Programação obrigatória das emissoras, elemento fundamental na distribuição dos horários e dos custos, também responsável pela elevação dos índices de audiência".
A forma narrativa herdada do folhetim melodramático radiofônico é fundamental, na fase inicial do gênero televisivo, pelas reações que ela provoca no público criando neste o hábito de acompanhar a trama cotidiana, facilitando a implementação da horizontalidade da programação.
Atualmente, a telenovela é considerada um dos principais produtos da indústria cultural e uma das principais fontes de renda das emissoras de televisão que se especializaram em produzir esse tipo de produto, como por exemplo, a Rede Globo de Televisão no Brasil.
Grandes (e memoráveis) telenovelas brasileiras
> Beto Rockfeller (1968) - TV Tupi - uma nova linguagem televisiva.
> Irmãos coragem (1970) - Os homens também assistem novelas.
> Selva de pedra (1972) - Um triângulo amoroso que parou (literalmente) o Brasil.
> Dancindays (1978) - O comportamento dos telespectadores.
> Roque santeiro (1985) - A miniatura do país depois da ditadura.
> Vale tudo (1988) - O país revela a verdadeira face.
> Pantanal (1990) - TV Manchete - (re)descobrindo o Brasil.
> Laços de família (2000) - O social fazendo sua parte.
> O clone (2001) - A telenovela ganhando o mundo.
> Avenida Brasil (2012) - A realidade mais próxima do público.
Perguntado sobre a telenovela e o seu futuro, o autor da próxima trama das 21h (janeiro de 2014) intitulada "Em família" Manoel Carlos, pontua:
"O arsenal de recursos que temos à disposição para criar e executar programas de ficção e jornalismo nos permite dar asas à imaginação, de maneira quase ilimitada. Ousa-se mais, por exemplo, com a ausência da censura prévia. Os temas-tabus foram reduzidos. Cenas de sexo foram anexadas com mais frequência e seus limites foram ampliados. Aumentou-se a tolerância. Mas não acredito que isso tenha contribuído para o aprimoramento da criação de histórias ou tenha favorecido as novelas ou, de um modo geral, a teledramaturgia". E conclui:
"Estamos cada vez mais antenados com as exigências do público e não apenas ceder às suas preferências. O que sempre vai sofrer mudanças é a visão pessoal de quem cria e produz cada história. Ainda somos poucos autores, mas percebe-se que vem uma turma brava por aí. Espero que eles consigam dar os passos que nós, veteranos, não conseguimos".
Vamos acompanhar as próximas emoções. Viva a telenovela. Abraços, galera!
> Fontes: Estadão/Cultura, Borelli, S. H. S. ; Ortiz, R. ; Ramos, J. M. O. Telenovela: História e Produção. 2ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. Comunicarte.
Personagem do dia
Zé Esteves (o saudoso Sebastião Vasconcelos) em Tieta (1989/90)