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É comum haver maior resistência entre os idosos em buscar ajuda; saiba como a família pode auxiliar e qual é o tratamento
Alessandra Augusto
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos seis a cada 100 pessoas, entre 65 e 74 anos, serão diagnosticadas com depressão. Além disso, estima-se que 85% dos idosos residentes em países em desenvolvimento não têm acesso a tratamento de saúde adequado para a depressão.
A depressão tem diferença entre idosos e pessoas de outras idades. Trata-se de um transtorno mental que pode ocorrer em qualquer faixa etária. No adulto é muito comum ter queixas de humor deprimido, sentimentos de desvalor, sentimento de desamparo, culpa e uma incapacidade de lidar com alguns problemas no dia a dia.
Já no idoso a recorrência das queixas é um sofrimento sem uma justificativa, percebemos um idoso mais apático nas suas funções diárias, além de queixas recorrentes de dores físicas e tonturas. Porém, quando a pessoa mais velha busca um médico não existe justificativa para tais sintomas, não se fecha um diagnóstico, e com isso já se pensa em sinais e sintomas dentro de um quadro depressivo.
A depressão no idoso é um fator muito sério. Existe um tabu que o idoso não tem ou não sofre com depressão. Muitas pessoas cometem o suicídio e entre eles estão os idosos. Temos dois fatores de risco que são os biológicos e os socioambientais que podem levar à depressão em idosos.
No fator biológico existe a redução de neurotransmissores recorrente da idade, alguns medicamentos que propiciam a depressão como efeito colateral. Nós temos a depressão vascular, que é pouco falada, e é uma doença do cérebro que vai atingir os vasos sanguíneos. Além disso, temos as dores crônicas e as doenças físicas.
No quadro socioambiental é relacionada à aposentadoria. Muitos idosos que entram em quadro de depressão vem logo após a aposentadoria. Isso acontece porque existe uma diminuição significativa da renda. E isso faz com que esse idoso fique ocioso. Além disso, esse idoso fragilizado, aposentado, pode sofrer com a negligência dos filhos e isso colabora com o estado de tristeza. Outros fatores podem ser a saída dos filhos de casa, além de alguns lutos com a perda de pessoas próximas, parentes ou o cônjuge.
Já enfrentamos um preconceito muito grande com o envelhecer. Nós estamos inseridos numa cultura que reforça padrões em que devemos nos manter jovens. Não é normal envelhecer mal-humorado ou zangado. Esteja atento caso isso aconteça.
A população idosa tem uma resistência maior em buscar ajuda. Ainda existe um estigma na sociedade sobre o tratamento da saúde mental. Hoje temos mais espaço para falar sobre esses assuntos, mas o preconceito ainda é grande, pois ainda existe o receio de serem rotulados como transtornados ou loucos. Esse idoso vai resistir muito mais que um adulto, um adolescente ou um jovem. Ele acredita que vai dar conta da doença ou que é algo passageiro.
Nesse momento é fundamental a ajuda da família. Primeiro, porque vai identificar o problema. Segundo, porque vai apoiar na busca por tratamento. Vale ressaltar que os parentes próximos também vão acompanhar nas consultas. Por exemplo, caso tenha alguma resistência do idoso, a família acompanha, incentiva e retira as desconstruções relacionadas a essa crença de que quem cuida da saúde mental são os transtornados ou loucos. É importante reforçar que cuidar da saúde mental é necessário em qualquer idade.
Em relação ao tratamento, há casos que não acumulam muitas patologias ou comorbidades. É importante incentivar a pessoa a estar mais presente socialmente, fazer caminhadas, praticar algum esporte, melhorar o físico e estar ativo socialmente. Além disso, ele deve procurar uma psicoterapia ou terapias alternativas como musicoterapia e dançaterapia, o que permite a pessoa estar mais ativa.
Caso essas terapias não funcionem, sugiro procurar um psiquiatra para inserir medicações. A família é muito importante nesse momento no olhar e no cuidado. Qualquer desconfiança de um quadro depressivo, busque um psicólogo.
> Alessandra Augusto é formada em Psicologia, é palestrante, pós-graduada em Terapia Sistêmica e Pós-Graduanda em Terapia Cognitiva Comportamental e em Neuropsicopedagogia. É a autora do capítulo “Como um Familiar ou Amigo Pode Ajudar?”, do livro “É Possível Sonhar. O Câncer Não é Maior que Você”.