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O Silêncio do Preconceito

Em Volta Redonda, André Trigueiro fala sobre o tabu do suicídio

Coluna Visão Crítica entrevista especialista e religioso para saber como prevenir esse tipo de morte

Viver bem  –  10/12/2015 09:56

Publicada em: 06/12/2015 (17:10:43)
Atualizada em: 10/12/2015 (09:56:21)

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(Foto: Aida Cardoso)

“O mais importante é a cultura da prevenção, informação clara e objetiva em favor da saúde”

Suicídio é um tabu. As pessoas se silenciam, familiares sofrem preconceitos e o poder público não atua na prevenção. Tudo isso por um motivo: o preconceito pela falta de informação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, a cada 100 mil habitantes, nove morrem dessa maneira por ano. Portanto, levando em conta a informação da OMS, foram 24 vítimas em Volta Redonda. E outros 18 em Barra Mansa em 2015. Na delegacia de Volta Redonda (93º DP) e Barra Mansa (90º DP) não há estatística exata sobre o número desse tipo de morte no município. 

- O silêncio em torno do assunto alimenta a passividade, quando o momento deveria ser de ação. Isso é preocupante. Há algo que possa ser feito? Sim, a prevenção com a informação - diz o jornalista André Trigueiro, da Globo News. 

O jornalista esteve em Volta Redonda para ministrar uma palestra sobre o assunto no sábado, dia 5, promovido pelo CVV (Centro de Valorização a Vida). Ele aproveitou para divulgar seu livro “Viver é a melhor opção”. Toda arrecadação vai para o CVV da cidade. 

Os dados contidos no livro são preocupantes: a cada 40 segundos um pessoa se mata em algum lugar do mundo e 90% são causadas por algum tipo de patologia mental e dependência química. Desta maneira, o suicídio é uma ação causada por uma doença. A depressão, por exemplo, atinge mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. 

“Quando falo que minha mãe suicidou,
as pessoas se silenciam”
 

Fora a frieza dos dados estatísticos, há um sofrimento particular de cada familiar da vítima. Rafaela (nome fictício) perdeu sua mãe há dez anos e, até hoje, as pessoas não sabem como reagir. 

- Quando falo que minha mãe suicidou, as pessoas se silenciam. Elas não sabem o que dizer, muito por causa da falta de informação. As pessoas ainda não sabem que o suicídio é causado por uma patologia. Quando morreu, não tive ajuda de ninguém, só do meu irmão. Éramos sozinhos. Minha mãe tentou várias vezes. As pessoas achavam que é drama, mas não é. Na verdade, ela estava pedindo ajuda - conta Rafaela. 

Ainda emocionada com a perda, ela disse que a Polícia Civil não realizou a perícia. 

- Ela provavelmente não entrou na estatística porque não houve uma investigação da polícia - finaliza Rafaela, contando que o caso aconteceu quando morava na Região dos Lagos (hoje Rafaela reside em Volta Redonda). 

Por que a imprensa não publica? 

Essa pergunta foi feita para o editor-chefe do site OLHO VIVO, Cláudio Alcântara. 

- Não há uma vinculação desse noticiário para evitar que outros casos ocorram. Além disso, há um respeito com os familiares porque ainda existe muito preconceito e discriminação - disse. 

Quem compartilha dessa mesma opinião, como descreve no livro, é André Trigueiro. Para ele, existem outras maneiras para divulgar o suicídio para evitá-lo como, por exemplo, a vinculação de trabalho voluntários como o CVV (Centro de Valorização à Vida), parceira dele no combate ao suicídio. 

- Qual seria, então, a melhor maneira de abordar o suicídio? Nem censurar, nem falar de qualquer jeito. O mais importante é promover a cultura da prevenção através da informação clara e objetiva em favor da saúde - afirma o jornalista da Globo News, em seu livro. 

Pastor comenta sobre suicídio 

O pastor Lucinho Barreto, da Igreja Batista da Lagoinha, contou que existem na Bíblia seis casos de suicídio. “O mais famoso é do apóstolo Judas, que se matou depois de ver que havia traído a pessoa mais linda do mundo, Jesus Cristo. Acho que uma pessoa não vai para o inferno, ou para o céu, da forma que ela morreu. E sim pela forma que ela viveu”, disse o pastor, em seu programa na TV Super, de Belo Horizonte. 

- Quando uma pessoa comete um suicídio ela não está bem, não está em si. Conheço pessoas que serviram a Deus a vida toda. E um dia tiveram que fazer um tratamento e tomaram medicamentos pesados que mexessem com seu juízo. E, num momento de insanidade, se mataram. O que conta, no final, é o coração. Não estou aqui para consolar pessoas que perderam familiares e sim o meu entendimento da palavra de Deus, disse o pastor. 

Há momento que a vida se torna um fardo. Mas a melhor opção é viver.

Por André Aquino  –  aquino.andre@hotmail.com

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